Já noutra altura disse que a história não vai ser simpática para com Cavaco Silva (CS). Não é nada pessoal, nem o conheço nem faço questão disso. É mesmo política a m/ posição.
O grande entusiasta da n/ adesão à, agora, UE, foi sem dúvida Mário Soares. E também continuo a pensar que fez bem. Com um esforço notável e com a imprensa em geral do seu lado, conseguiu agarrar todo o país para esse projeto - exceto os partidos de esquerda, do PC para baixo -. A grande maioria dos portugueses esteve com ele e apoiou-o. Saber que íamos pertencer ao clube dos mais ricos do mundo, facilitou e entusiasmou-nos a todos. Ter acesso e viver a vida como se ricos fossemos, era uma possibilidade tangível que não podíamos desperdiçar. Vista a n/ adesão apenas nesta perspetiva - e foi o que conheceu - era um passo enorme e empolgante em rica e boa direção.
As cores do quadro que na altura foi pintado eram de tal maneira atraentes que ofuscaram o n/ sentido crítico e alternativo.
A outra parte e, sabemos agora não menos importante, era a da materialização dessa adesão.
Confiamos então as n/ esperanças a CS e nele tudo depositamos. Coisa simples, o nosso futuro colectivo.
Seus acólitos (há sempre acólitos em tudo!) e (mais uma vez) a imprensa em geral, encarregaram-se, com sucesso, de criar de CS a esfíngica e aura imagem de guru em finanças e estadista de respeito, ao nível dos melhores. D. Sebastião tinha regressado do norte de África, disfarçado de CS. 'Ele sabia o que estava a fazer'! (?)
Começaram as negociações.
Como os ursos, hibernamos durante todo esse período e alheamo-nos do que estava a acontecer, enquanto faziam o ninho atrás das nossas orelhas. E, em troca do muito dinheiro (que começaria chegar a rodos), CS entregou, em particular à Alemanha e França, praticamente todo o nosso tecido produtivo primário e também secundário. A agricultura foi dizimada; as pescas - com o inicial abate dos barcos e o consequente desmantelamento da frota pesqueira - foram também destruídas; a indústria pesada, o setor siderúrgico desapareceu. Para onde foi tudo isto? Alemanha e França principalmente.
Negociaram bem esses países. Ficaram com a parte de leão do negócio. Mais, conseguiram criar em nós o espírito facilista e consumista dos seus produtos e nós compramos; não com dinheiro gerado dentro de portas, mas com dinheiro deles inclusive, com créditos futuros. Até submarinos, que não precisávamos, lhes compramos (noblesse oblige).
Fomos depois comprando mais e mais produtos - mais caros - justamente à Alemanha e França, aos preços deles e contribuindo assim e fortemente para o sucesso das suas economias.
E a nossa dívida a crescer a bom ritmo!
A Alemanha sempre foi na história da Europa e do mundo um grande país e também e sobretudo hoje continua a ser, porque sabe negociar, exibindo evidentemente os seus trunfos de grande e poderoso.
Reservaram para nós a exploração da indústria barata e de mão d'obra desqualificada, massiva e intensiva: têxtil e calçado. Aí tínhamos (e temos) de concorrer com os países de mão d'obra ainda mais barata que a nossa, a dos BRICS, da Europa de leste e asiática em geral. Uma desgraça!
Queriam de nós, dizia-se, o sol e as praias, a gastronomia, o bom e simpático acolhimento e que não nos preocupássemos com o resto que eles, como marionetes, de lá nos manipulariam.
Este verde cantinho à beira mar plantado seria o seu oásis, para descanso e retempero de energias.
E nós, hibernados, concordamos!
Para os ditos acólitos de CS escorreu abundantemente o leite e o mel; para as pessoas comuns, algumas migalhas também. Com esse dinheiro barato e fácil, vivíamos todos, uns e outros, alegres e felizes.
E o cuco continuava a fazer o ninho na nossa casa!
Adormecidos pelo canto da sereia, lembrando outras épocas bem lá atrás, não nos apercebemos de que alguém estava a capturar perigosa e dramaticamente o nosso futuro.
E assim chegamos ao precipício onde estamos com o beneplácito, cobertura, cobardia e ignorância de CS.
O que fez CS quando foi, por 10 anos, primeiro-ministro?
O que fez CS no seu primeiro mandato e o que está a fazer agora no segundo, como PR?
Onde esteve o guru de finanças, o estadista exemplar CS?
Contrariamente ao que dizia Camões, CS não se libertará da lei da morte e desaparecerá com ela.
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