Percebe-se os fundamentos da Alemanha na recusa intransigente dos Eurobonds. Angela Merkel tem sido implacável: não, não e não. Para já. Pretende primeiro, de diversas formas e em múltiplos setores, assegurar o controlo da situação, na perspetiva Alemã, claro; quer ver rigor orçamental nos diferentes países; quer ver convergência bancária com supervisão centralizada em Bruxelas (União Económica e Monetária)...
Depois de tudo isto afinado e a funcionar, aí sim, autorizará os tão desejados(?) Eurobonds. Não se trata pois de uma questão de princípio mas de estratégia. Excecionalmente poderá vir a ceder mais cedo na questão das garantias dos depósitos, mas parcialmente.
Do outro lado temos os mercados que não dão tréguas. Não querem saber dos timings da Sra. Merkel, nem de ninguém; estão lá para ganhar dinheiro, muito dinheiro, e até, de alguma maneira, agradecem esta confusão: tem engordado muito à sua custa. Quem lhes tem garantido altas rentabilidades? Justamente os PiiGS, os mais aflitos quando pagam taxas elevadas. Portanto quanto maior for a crise maior serão as taxas e consequentemente mais lucros. Não querem saber se são países pobres ou ricos, grandes ou pequenos ou qual a sua latitude. Querem dinheiro, ponto. Atuam muitas vezes através de fundos (muitos deles soberanos também) invisíveis, despersonalizados, desumanizados, geridos por imberbes e ricos yuppies habituados a ganhar dinheiro fácil.
Convém aqui lembrar que, não obstante, atuam na legalidade, dentro do sistema, o nosso, o capitalista. Não são pois extraterrestres que comandam os nossos destinos: são terráqueos como nós e que o nosso sistema permite.
A questão que se põe à UE, aos seus dirigentes, a todos nós, é a de saber se as difíceis (há que reconhecê-lo) decisões a tomar ainda vão a tempo de inverter o sentido da marcha dos acontecimentos? Se os nossos dirigentes europeus estão a controlar os tempos de reação dos ditos mercados?, mais implacáveis que Angel Merkel. Obviamente que eles (mercados) mandam e comandam, disso não há dúvida. Não se trata da corrida do gato e do rato, em que os ratos somos nós; trata-se de tentar inverter esses papéis. Devíamos ser nós os gatos, mas não está fácil. Deixamo-nos cair demasiado! Os nossos dirigentes têm tido um comportamento reativo, correndo sempre atrás do prejuízo, não tendo sido capazes, até agora, de pro-atividade, de antecipação.
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