domingo, 14 de fevereiro de 2010

Cuba. Mercado negro cresce na web.

"Publicado em 03 de Fevereiro de 2010
Um bairro nos arredores da capital cubana, Havana, uma mulher, mãe de dois filhos, vai de porta em porta vender fitas de cabelo e outros artigos aos vizinhos. Um homem idoso vende também bolachas e doces àqueles que tocam à campainha da sua casa dilapidada. Uma avó enche latas de cerveja vazias com rum barato, que vende à noite para arredondar o orçamento.Este género de iniciativas é ilegal, mas floresce nas ruas da cidade, mesmo debaixo do nariz dos capitães do quarteirão, cuja missão é reportar este tipo de transgressões à cadeia de comando do Partido Comunista.Cuba vive um momento duro em termos económicos e, embora o mercado negro por aqui sempre tenha sido animado, parece particularmente intenso hoje em dia, com os cubanos empreendedores numa busca constante de compatriotas com dinheiro para gastar.Não há anúncios classificados no jornal do Partido Comunista "Granma" nem nas outras publicações estatais que circulam em Cuba. Em vez disso, as vendas são feitas através da Radio Bemba, que não é uma estação de rádio. Acaba mais por ser uma ampla rede de bisbilhotice nacional, baptizada a partir da palavra espanhola que significa lábio.Dois cubanos na casa dos 20 anos, que trocaram a ilha por Espanha, criaram uma forma de facilitar as vendas secretas. É uma espécie de Craigslist [site norte-americano que disponibiliza anúncios gratuitos a nível mundial - atinge mais de 400 cidades - desde ofertas de empregos, electrodomésticos a fóruns de discussão online] cubana, que permite a um número de de cubanos ainda pequeno, mas em crescimento, com acesso a computadores e à internet, comprarem e venderem com menos secretismo, através da web.As autoridades, apesar de recentemente terem atenuado um pouco as restrições à venda de computadores, têm bloqueado repetidamente o acesso ao seu website, Revolico, que significa rebuliço. Um dos programadores que criou o site (www.revolico.com) explica, por email, que ele e o co-fundador travam uma batalha constante para conseguirem que o site passe a censura do governo. "Escolhemos o nome para aludir à desordem que estamos a tentar organizar", explica o programador, que falou sob anonimato para que os seus familiares, que ainda vivem na ilha, não tenham problemas com as autoridades.Embora reconheça que a Craigslist foi a inspiração para o Revolico, o site cubano está construído de forma a abrir mais rapidamente nas fracas velocidades de ligação de Cuba. E embora algumas categorias do site - carros para venda, computadores, rapazes procuram raparigas, rapazes procuram rapazes, por exemplo - sejam idênticas às da Craigslist, há muitas trocas que são particularmente cubanas. Por exemplo, vendem-se lugares na fila para os vistos na embaixada espanhola para sair de Cuba. Ou oferecem-se casamentos para ajudar os cubanos a partirem para outro país. Ou, ainda, os carros clássicos, como um Dodge de 1950, um Chevy de 1956 ou um Buick de 1954, todos ainda a andarem depois de terem sido reparados com peças improvisadas durante mais de meio século.Existe claramente um mercado para este site, como demonstra o aumento regular do número de visitantes, tanto dentro como fora de Cuba. O site, que entrou online em Dezembro de 2007, está actualmente acessível fora de Cuba e também aos cubanos que utilizem um software especial para contornar o bloqueio imposto pelas autoridades de Havana. Em Janeiro de 2008, houve 336 595 visitas a este mercado negro online. Mas, em Janeiro de 2009, as visitas já tinham aumentado para 1 331 161. Em Agosto de 2009, o Revolico anunciou que ultrapassara os dois milhões de visitas mensais.As ofertas neste bazar online cobrem toda a gama de produtos, embora seja impossível dizer quais são os vendedores que são legítimos, quais são vigaristas e quais poderão mesmo ser agentes do governo a montar uma armadilha. Um post recente oferecia antenas de satélite ilegais, que as autoridades por vezes apreendem de cima dos telhados para impedirem transmissões estrangeiras nos lares cubanos. Havia também oferta de aulas de inglês, máquinas de escrever antigas, brinquedos sexuais, cães de raça e químicos para branquear os dentes. Procuravam-se pessoas com permissão para viajar para comprar roupas, electrónica e outros artigos e trazê-las na sua bagagem.O fundador diz saber da existência de cubanos que ganham a vida praticamente só a comprar e a vender artigos no Revolico. Um cliente habitual diz ter comprado o Windows 7 no site por cerca de cinco dólares: qualquer coisa como 3,40 euros. Telefonou para o número que vinha no anúncio do Revolico e, em seguida, um jovem apresentou-se à sua porta e instalou o software pirateado no seu computador."No Revolico, vemos Cuba exposta, as vidas quotidianas dos cubanos, coisas que revelam muito da Cuba actual", diz o fundador.
Exclusivo i, The New York Times"

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