quarta-feira, 20 de maio de 2020

‘Os Últimos Czares’ (Romanovs) - Netfilx


[Dica]

Acabei de ver na NetFlix ‘Os Últimos Czares’ (Romanovs)
Série/Documentário - docudrama -  estreada em Jul/2019: 1 temporada 6  episódios.
A série historia o fim da era Romanov com o seu último imperador, Nicolau, suas causas e consequências com a alteração do regime para outro império, o Soviético: URSS.
Por ter acontecido num tempo recente (há pessoas vivas), ter sido um acontecimento que virou a agulha da história da humanidade e ser um assunto muito estudado e publicado, o ‘script’ não aporta novidades: fixa  na película o que é mais comum saber-se. Ainda assim vale a pena o reencontro virtual com esta época marcante que de algum modo contamina os nossos dias.

Catarina, a Grande, tinha como lema que deixou como epitáfio esta sua máxima: “Rússia é grande demais para ser governada por duas pessoas”.
Putim seguramente que leu a frase...

O modelo da narrativa é tipicamente o do NetFlix, i.e., com recurso à captação de cenas de estúdio e interiores numa economia de custos e longe portanto das realizações épicas de outrora. Registo a opção mas não lhe retiro mérito. Cinema é a arte da ilusão.  A realização está de acordo com o nosso tempo, ou, se se quiser, faz o nosso tempo.
O guarda-roupa de época está a muito bom nível.

Tinha curiosidade em rever lugares conhecidos (andei por lá em ago/2005) mas por ser a reposição de uma época e ter sobre ela decorrido muitas alterações, filmaram-se  principalmente os edifícios datados e conservadas: Palácio de Catarina, PeterOf, atual Kremlin, cúpulas de igrejas…

Saliento a interpretação do ator que deu corpo ao impreparado e indeciso Czar;
Idem para a atriz que assumiu o papel da lunática, doméstica e mãe Czarina;
Idem para o ator que tão bem nos passou uma ideia possível do que terá sido essa figura de Rasputin: bon vivant, astuto, manipulador e dominador do ‘pedaço’...
Não revelo (para quem não o saiba) o fim da história sobre a verdadeira ou falsa identidade de Anastásia, uma das filhas herdeiras dos Romanov, falecida em 1984...

segunda-feira, 18 de maio de 2020

A propósito destes dias e dos próximos.



1.
Acho que está a dar para perceber que um género de vida ‘confinado’ como aquele que estamos a viver não tem interesse. Ele reduz excessivamente várias dimensões da vida, nomeadamente as daquelas a que há várias décadas estávamos habituados. ‘A contrario’, e em pulsões cada vez mais impositivas, ganha atratividade e tração um registo socialmente partilhado e, em consequência, diversificado. No mínimo idêntico ao anterior.

De tão normais, quase que íamos dando por adquirido, quantas vezes minimizado, a importância dos imputs externos tão imprescindíveis à nossa salutar convivência.

Os manuais de história defendem há séculos, melhor dito milénios, que o homem é um ser gregário, que agora nós próprios verificamos e ratificamos. Encaixo-me na camada daqueles que desde muito cedo começou por considerar-se um elemento de um todo e que dele necessita. Não nego que coloco o meu ser na frente desse todo mas tentando ao mesmo tempo não descolar dele ao agrupar-me nos mais diversos estratos que o compõem, incluindo correntes de opinião a nível global.

Os dias que estamos a viver mostrou à saciedade a postura e desempenho de cada indivíduo e das sociedades no seu país, no seu continente mas também no mundo visto como um todo intricadamente ligado, talvez agora mais evidente que nunca. De oriente a ocidente de norte a sul sentimos que respiramos o mesmo ar.
Talvez os ambientes gerados durante as II e I guerras a que se seguiu a gripe espanhola lhes seja comparável. Talvez nessas épocas tenha havido no mundo similar sintonia comportamental das partes e principalmente do todo.
À atual, e que se valoriza, acresce o fluxo informativo ubíquo e instantâneo mas decresce, a seu favor, o lado bélico de outrora.

Tem sido uma experiência nova, preocupante com certeza mas com uma boa dose de fascinante. Dar conta a cada minuto das reações próprias e de terceiros num palco maior, mundial, tem sido grandioso e eloquente quanto às reações do indivíduo e das sociedades em geral. As empatias e cumplicidades observadas são de dimensões ainda não experimentadas.

2.
Há uma curiosidade nascida de uma convicção e agora convertida em incredulidade que diz respeito à dificuldade revelada pela área científica quando atira para longe, numa gestão de expectativas esperançosas, o timing de uma vacina profilática. Talvez por iliteracia ou estultícia da minha parte ao aceitar inertemente o endeusamento das suas capacidades fermentadas em acumuladas conclusões errôneas ou perceções desfocadas. Talvez. Seguramente que os sobrevalorizei. Até porque a não-vacina atempada, comprovadamente, não é atribuível à falta de recursos financeiros mas aos de conhecimento. Verei se, quando descobrirem a solução para o problema de agora, não lhes retirarei a medalha de mérito que em tempos lhes tinha atribuído. Sem ela, sem a vacina, o mundo não avança muito menos pula ao ritmo solto como se admitia até aqui.
Se querem manter a medalha apresentam a vacina. Ponto.


sábado, 9 de maio de 2020

Caricatural


Matosinhos, 9 Mai 2020

Minha querida e saudosa amiga,

Escrevo-lhe estas duas linhas um pouco ao acaso e desalinhadas, pois a mão que as minuta treme de emoção, esperando que a missiva que as leva a encontre bem de saúde assim como a de todos os seus, especialmente seu estimado esposo e meu prezado amigo, seu dileto filho e bonita e dedicada nora. Também não esqueço sua amorosa mãe de quem muito gosto.

Eu e os meus - esposa, filha/genro, netos e demais família - estamos bem graças a Deus.

Quero começar por lhe agradecer os votos formulados pelo meu aniversário e muito contente fiquei por neles ter incluído dias futuros acreditando eu que as boas graças do Senhor os ajudem a concretizar.

Em segundo lugar também lhe queria dizer que por aqui estamos a viver dias estranhos, sem saber exatamente o que pensar nem o que fazer com eles! Alguns até passam despercebidos, sem deixar rasto. Veja lá minha amiga que, apesar de ter muito teeeempo disponível, resolvi ficar em casa a maior parte deles! Custar-lhe-á com certeza entender estas minhas opções e ainda menos entenderá o que se passa por aqui. Mas não peça, por favor, muitas explicações pois também não as entendo e não as tenho para dar.

Desejo sinceramente que por aí esteja a viver melhores dias que eu e, se assim for, peço-lhe, em nome da nossa longa amizade, que me avise, por favor, para que a possa visitar e passar uns dias na sua agradável companhia e do seu extremado esposo. Espero ansioso suas notícias a fim de começar a preparar a viagem e ir assim preenchendo  minha agenda - por ora muito vazia - com coisas com interesse.

Ainda me atrevo a roubar-lhe um pouco mais do seu tempo para lhe dizer que ontem mesmo estive na sua bonita cidade mas não me atrevi a visitá-la por querer acautelar sua saúde de possíveis contágios que, embora mascarado, a pudesse vir a afetar. Espero sua compreensão e perdão para tão indelicada atitude.

Não me quero alongar mais, não porque não aprecie falar com a minha amiga, mas por não a querer entediar com o meu espírito confinado. Mais tarde, quando o ‘bicho’ que dizem andar por aqui se for embora de vez e nos podermos finalmente encontrar, tentarei explicar-lhe o significado desta palavra tão em uso por cá.

Até lá, desejo sinceramente que fique bem, bem como todos os seus, mormente os que acima referi.

Adeus até ao nosso reencontro esperando boas notícias suas e dos seus na volta do correio.

Nota importante:
Se por acaso ouvir dizer que um tal de CoronaVírus ou Covid-19 se dirige para a sua bonita terra, não lhe abra a porta, por favor. Diz-se por aqui, onde ainda estará(?), que não vem por bem. Se por desventura ele aí chegar, desconsidere-o; não fale sequer com ele. Aceite o conselho deste amigo. Nós, por aqui, e para nos protegermos, barramos-lhe a tentativa de intrusão com máscaras. E até agora está ali à porta, mas não entrou.

Despeço-me mais uma vez chamando para aqui as  boas lembranças passadas e o desejo de iguais ou melhores no futuro.

Assina o amigo, atencioso e obrigado,
Tony



terça-feira, 5 de maio de 2020

69 Anos, com migalhas.


69 de idade atingidos, Yes!, e isso é ótimo, mas apenas 68 primaveras vividas. Sim, convenhamos, esta primavera que decorre assim enclausurado não conta para esta conta. Logo, fico com um crédito de uma primavera que resgatarei mais tarde, bastante mais tarde. Faço questão disso nem que para tal tenha de contratar o ‘cobrador de fraque’. Tenho direito e ponto final. Não obstante o andar rápido da estação, vou tentar apanhar a que ainda tenho pela frente. Um mês e meio, quase, não se pode desperdiçar. Mesmo mascarado aí vou eu.

De resto, foi um ‘festejo’, como dizer, confinado. E todos já sabemos o que esta palavra, muito em uso nos nossos dias, significa! e que vamos, de resto, repetir por mais uns teeeeempos. Tempos que usarei para  saborear uma a uma vossas mensagens e rever ao ralenti algum passado comum. Mensagens vindas de alguns amigos da meninice, da juventude, da primeira experiência profissional, dos camaradas d'armas e especiais amigos, muitas da segunda fase profissional (TermoNor e Tudor), incontáveis da profissão de uma vida (Banco), transnacionais e transatlânticas também, calorosas de amigos recentes (Viagens), de desagrupados, da família alargada (FdQ e FdV) e próxima (m&c). E fecho com as dos meus mais que tudo: esposa, filha/genro e dos meus dois pequenos Príncipes Encantadores. Até estes não pude abraçar ainda e da rua para a janela vai uma distância imensa, sem medida, inatingível, intocável e, porque não dizê-lo?, dolorida. Às vezes, quando de lá venho, estanco com dificuldade o que poderia originar uma carreirinha de gotas d'água saídas da saudade de um abraço apertado. Por outro lado invade-me um contentamento tranquilizador por ver os quatro, ainda que de longe - como que encaixilhados na janela -, serenos, alegres e sorridentes. E o coração desaperta-se assim um pouco.

Mas vou contar-vos um segredo esperando que o ‘nosso amigo’ - que sabemos andar por aí - não nos ouça: vieram os quatro cá a casa e cantaram-me os ‘parabéns a você’. Entraram com sorrisos lindos porém contidos e cumprimentos divertidos de toque de pé. Resistimos ao abraço e mantivemos as distâncias de segurança possíveis. Pratiquemos a 'distância social', ironizou o pequenote! 
Não foi tudo mas foi muito. Quero acreditar que o ‘nosso amigo’ considerará isto um pecadilho tolerável e não nos penitenciará. Ficaria chateado com ele.

Quando não há bolo as migalhas são preciosas e adquirem sabores intensos.

Ah!, como desejo abraçar estes quatro!?

E o dia foi fechando com os 'parabéns a você' cantados por todos os m&c por vídeo ZOOM.
Aqui emocionei-me um pouco, confesso.

Esta ‘viagem’ convosco, por entre tanta gente, foi não só agradável como reacendeu o desejo de nos voltarmos a encontrar. Espero que em breve. Oxalá o nosso ‘amigo’ comum se vá embora depressa. E não deixa saudades.

Estou certo que melhores dias e outras formas de vida virão. E com abraços, claro.

Para já,  continuaremos a ver-nos por aqui. 
Fiquem bem.
Protejam-se.

Obrigado pelas vossas lembranças.

Abraço igual ao de sempre: forte e sentido.





segunda-feira, 4 de maio de 2020

“OS OTOMANOS, O Erguer de um Império”. Netflix


‘Dica’

Acabei de ver na Netflix “OS OTOMANOS, O Erguer de um Império”.
Filme recente, estreado este ano, bem feito, boa imagem (ainda que muita de estúdio: cinema é ilusão), com o ritmo certo e com o essencial à compreensão do tema.
* uma temporada, seis episódio.

Trata-se de um filme-documentário, com inserções complementares de historiadores, que tem como foco a histórica conquista de Constantinopla (inicialmente Bizâncio), a cidade de Constantino, o Grande.
(conhecia-a em 2001, no ano da queda das Twin Towers. Uma cidade fascinante com 15 M habitantes. O país, Turkia: 75 M)

Em 1453 reinava por lá Constantino XI, e o mundo romano-cristão limitava-se nessa geografia com a ajuda do então todo poderoso Papa (estamos na idade média). (E na peste negra). 
A cidade, último reduto romano a oriente, fora inexpugnavelmente muralhada e sua segurança gerida por sábios militares.

Constantinopla e Veneza foram grandes centros de chegada e de distribuição europeia das matérias primas oriundas do extremo oriente. Os vestígios da Rota da Seda conservam-se por lá.
Viriam a diminuir de importância com a descoberta da solução do mesmo tráfego de mercadorias por via marítima.
E Lisboa foi grande e destronou-as…

Voltando atrás.
Na linha de sucessão do sultanato sobe ao poder o jovem - 13 anos - Maomé II. Com 23, ambição desmedida, tenacidade rara e genialidade única, atira-se à conquista da cidade que muitos tentaram antes.
O filme acaba com a tomada da cidade. 
Daí para a frente sabemo-lo.

Se lhe foi possível obter o impossível - a conquista de Constantinopla rebatizada desde aí de Istambul - porque não continuar?
Com esta conquista, os Otomanos transformam-se em Império e viraram o curso da história e do mundo. Tornam-se grandes, grandiosos e sanguinários e partem à conquista do mundo. E conseguem uma boa parte.
Viriam a sucumbir 500 anos depois - 1923 - já depois da I guerra com a viragem política para ocidente chefiada por Ataturk.

Nos nossos dias, numa edição sultanada, Erdogan, atual presidente, insufla nas mentes turcas a capacidade da hegemonia turca de outros tempos, acalentando-lhes ideias… e arrebanhando adeptos.

As contas do rosário da história estão sempre ligadas.

Mais info:
https://www.blahcultural.com/critica-de-ascensao-imperio-otomano/


sábado, 2 de maio de 2020

Empatia nacional! Why?



Faz tempo, seguramente mais de 45 anos, que Portugal e as suas gentes não estavam tão unidos no mesmo propósito. Sendo o motivo forte, a pandemia, o certo é que outros países não lograram alcançar este desiderato, pelo menos em idêntica dimensão. Vários, desde os EUA à pequena Eslovénia passando por jornais de referência mundial, observaram-nos elogiosamente. Se a esta união vai corresponder um bom resultado?, é conclusão a que chegaremos lá mais para a frente.

Porquê esta sincronia de vontades?, é a pergunta. Responder-lhe é temerário.

De entre as muitas opiniões que pululam por aí, retenho uma em especial: a de uma longa história comum de 900 anos. Poucos países no mundo têm raízes tão profundas, tão entrelaçadas. Poucos países no mundo foram tão grandes como Portugal em alguma época. (Mais recentemente)Poucos países no mundo fizeram uma revolução total apenas com cravos. Poucos países no mundo têm um tronco comum tão definido como Portugal. 

Não menosprezo o medo individual e coletivo da pandemia que nos caiu em cima feita tsunami; não menosprezo o receio da devastação económica que a todos atinge; não menosprezo a incerteza no futuro que paira sobre o mundo e sobre nós. Mas, em adversidades como esta, saber e sentir a comunidade confinada, porém serena, a deixar-se conduzir num cenário toldado de incertezas e acreditando, quase cegamente, que assim vamos conseguir sair deste aperto, é notável. Acreditar que quem conduz os destinos do país o está a fazer bem(?), apesar de sabermos que eles também não sabem, é obra.

Termos conseguido pôr de parte temporariamente as salutares divergências políticas, religiosas, clubísticas?, é extraordinário.
Vivermos num ambiente de empatia geral, é único.

E porquê tudo isto? Porque somos 'velhos' de séculos. E esta 'velhice' é boa conselheira.

Amanhã, aos poucos, regressaremos às divergências; hoje é o tempo certo de cultivarmos a empatia.
Ela nos resgatará para dias melhores.