sábado, 23 de janeiro de 2021

“Homo Deus” - by Yuval Noah Harari



“Homo Deus”

- ‘História Breve do Amanhã’

by Yuval Noah Harari

Trad.: Bruno Vieira Amaral

Faz tempo, algum, que não lia livros, incluindo audiobooks, em ritmo continuado.

A necessidade emergente de me sentir online com o nosso mundo, um mundo tão ebulitivo nestes últimos meses, fez-me optar, entre outros media, pela novidade crescente do mundo dos podcasts e relegar a leitura mais longa, mais estruturada, para depois. Aceder a multi informações e opiniões que me centrassem no problema tornou-se prioritário.

A pandemia - já sindemia em muitos pontos do globo - foi o novo ingrediente mistério(?) que, ao provocar uma total agitação no modus operandi ou status quo mundial, obrigou a uma interação geral - felizmente concertada em várias geografias. De repente, vindo do impensável, tudo entrou em alvoroço e, quase, - pasme-se - em sintonia. Urgia entrar nesse caldeirão fervente e, inevitavelmente, fazer parte dele.

E, para mim, os podcasts responderam bastante bem.


[Sobre os podcasts alguém profetizou já que destronariam a rádio! Nessa linha opinarei que, também os jornais, em papel e online, e tv's, estão a ensaiar esta plataforma como resposta às mutações dos tempos; mas sem se saber se a profecia se cumprirá ou se aparecerão alternativas. O certo é que o espectador, leitor - no caso ouvinte -, está mais errante, mais dinâmico, mais presente na net, nas redes sociais. E é lá que o modelo de negócio dos media encontrará, veremos, uma nova saída económica que os sustente. Estamos numa fase de transição com sobreposição em diversos meios de comunicação; ou seja, pode-se ter acesso ao que se quiser, como, quando, onde e quantas vezes se quiser, nesta plataforma também. Entre nós, o Expresso é, creio, o mais arrojado mas o Observador, o Público e demais também. Não investiguei o suficiente. Várias rubricas do Expresso estão em podcasts e com qualidade audível.

Nota: os podcasts têm a vantagem de serem mais diretos, menos editados e padecerem apenas da pressão do tempo e não da imagem.]


Fechado o parênteses reto, volto ao tema inicial: leitura.


Forcei-me a retomar a companhia dos livros por necessidade imperiosa, quase vital: reavivar léxicos que o dia-a-dia desusa mas enriquecedores na expressão pela fala e/ou pela escrita; e porque ficções de outros, por simpatia, despoletam as próprias mantendo aceso algum fervilhar mental, o que me agrada.

Sabe bem retomar e por vezes roubar conhecimentos e lógicas de terceiros. 


Regresso assim ao meu estimado Yuval Noah Harari - o de ‘SAPIENS’ -, para embarcar na sua visão insuflada de optimismo sobre a evolução do homem e das sociedades; da humanidade.


Posto isto, vamos ao ‘Homo Deus’.

Depois da boa surpresa que foi o Homo Sapiens, em que Yuval Noah Harari alinha a evolução do homem e da humanidade e conclui pela sua supremacia sobre o resto dos seres, surge o inevitável Homo Deus. Este último é, de resto, como que o Tomo II, ou, por outra, a sequência lógica do primeiro: eleva (a evolução) o animal homem à divindade. Coloca-lhe a condução do mundo nas mãos, responsabilizando-o; dá-lhe alertas a ter em conta aquando das soluções que achar por bem dever tomar; deixa claro que não há espaço nem tempo para sebastianismos. Para o projetar a esse status tece pelo caminho raciocínios surpreendentes, originais e cruzados entre si que o põe a pensar e que vale a pena conhecer.


Nestes dois livros pelo menos, Yuval Noah Harari revela-se um corredor de fundo; não tem pressa de chegar (pratica Vipassana), ao invés, coloca-nos na pista obstáculos novos em que não tropeçamos - ou, sim, tropeçamos - pois chama a si a interrogação, a resposta, o contraditório e a réplica.

Através de uma escrita fluída, animada, bastas vezes com o nosso sorriso do 'como é que não tinha pensado nisto!?', disrupte o panfletário mundial de ideias tidas como certas e questiona, questiona, questiona. E responde, responde, responde.


É pouco comum ler alguém tão crente na evolução da humanidade e, quiça, tão assertivo. Onde tantos vêm problemas inultrapassáveis ou mesmo terminais ele vê saídas várias e tantas vezes de uma simplicidade desconcertante e hilariante.


Socorre-se de conhecimentos e saberes adquiridos de largo espetro e serve-no-los já em súmula.


Livro para ler com calma para dar tempo a que estas novas asserções chocalhem com as nossas.


DINÂMICO: ‘Sapiens’, by Yuval Noah Harari (2013) (dinamico-dinamico.blogspot.com)


sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

“A Conspiração Contra a América”, by Philip Roth


“A Conspiração Contra a América”

Tradução de Fernando Pinto Rodrigues

Dom Quixote, Romance dd 2005


“The Plot Against America”

By Philip Roth, a novel dd 2004


Alguma razão têm os escritores quando referem que os seus livros deixam de ser seus a partir do momento em que chegam aos leitores. Este é mais um e bom exemplo disso mesmo.


Apesar do reforço adicional de ser escrito na primeira pessoa e até usar o próprio nome num dos personagem, o leitor - eu incluído - tende a esquecer quem o escreve pois se perde nos caminhos por onde é levado ou o próprio descobre.

Este Philip Roth, através da sua enorme capacidade de expressar em palavras pormenores do quotidiano, de criar e recriar factos, argumentos e contextos, limita um pouco essa deriva pois absorve, condiciona e até conduz a atenção. 

Coloca interrogações novas a quem se interessa pela coisa pública, pelo comportamento das pessoas em/e sociedades, pelo fascínio do poder, pela tontice que, tantas vezes, anima os dirigentes…

Deixa, não obstante, margem para se optar por caminhos alternativos, tirar outras ilações e conclusões que melhor sirvam quem o lê.

O que mais me surpreendeu e agradou foi a sua veia criativa, narrativa e descritiva: brilhante.


Agora o tema do livro: sobre os judeus durante a segunda guerra (assunto recorrente nos seus livros, segundo li na sua biografia na net, sendo ele próprio de ascendência judaico-americana). 


Ensaio ou ficçao sobre a hipótese de, durante a II guerra, ter sido eleito para Presidente dos EUA um conservador e, mais que conservador, um fascista seguidor-confesso de Hitler, e o que isso significaria para os judeus, em particular para os judeus americanos, se tal tivesse acontecido.

Sobre essa hipótese tece e retece cenários interessantes. Como um bom escritor que é, coloca esses judeus em situações passíveis e perfeitamente possíveis de terem ocorrido.

Há páginas de alguma aridez mas no geral são bem duras e humanamente tocantes.


E premonitórias.

A América trumpiana do “Great Again”/“First”, está aqui retratada. Em 2005!. Até parece que Trump leu (se soubesse ler) o livro e o adotou como cartilha. Lindbergh, o presidente-personagem do romance foi o sósia inspirador de Trump. E, na respectiva escala, de Ventura, esse português estranho e igualmente desprezível.


A veia criativa de Philip Roth não seca, pelo contrário, jorra página a página ao ponto de distrair o leitor do objectivo que demora ou fica por perceber; a não ser o de dar a conhecer e sensibilizar as novas gerações sobre as atrocidades a que os judeus foram sujeitos durante a II Guerra. Evidentemente que é defensável e crível que o que a estes judeus-americanos acontece no livro, tenha acontecido de facto a muitos judeus-europeus e, mais do que aqui é suposto, aconteceu muito, mas muito mais e pior.

 

Tenho presente, muitas vezes, os horrores que a história registou a respeito deste povo. Sobressalto-me sempre com o acervo/evidências que vi em Auschwitz ou, mais recentemente, em Israel.


Romance longo, bem escrito mas algo exagerado nos detalhes.

Ou talvez não.


sábado, 2 de janeiro de 2021

POR AQUI e por ALI" - From Bill Bryson


"POR AQUI e por ALI".

Edição Portuguesa da Bertrand, 2015

Tradução de Miguel Conde

A Walk in the Woods, 1997

From Bill Bryson

Filme de 2015 com o mesmo nome

(Robert Redford, Nick Nolte and Emma Thompson)


É um belo livro, de leitura animada, inclusive para aliviar da clausura em tempos de pandemia. Sim, porque o espaço para leituras mais longas ou mais sérias(?) têm escasseado por estes dias. E era crescente a vontade de encontrar uma fuga para escapar de alguma letargia instalada. Percorrer o mundo, via livros, é uma possibilidade sempre à mão.


Surgiu este na hora certa (obrigado Luís) trazendo no desfolhar das suas páginas sensibilidades para o lado da ecologia, da sustentabilidade do planeta como um todo. Repassa, reflete e critica o incongruente e frenético estilo de vida americano, a erosão que o 'faz e desfaz' imparável provoca na estabilidade do sistema, a alimentação desregrada - hambúrgueres e coca-cola -, a obesidade crónica, a sofreguidão destemperada e bem visível em cada canto no sprint pelo dólar (este aspeto senti-o em choque em NY e nos outros estados por onde andei, Massachusetts (Boston) e Connecticut. Muito diferente do europeu, principalmente, mas também de muitos outros países - do vizinho Canadá, p. ex., de onde viajava - e de vários outros países e continentes onde o apreciei).


Para além da boa informação que Bill Bryson cuidadosamente preparou e carreou para aqui, sublinho e congratulo-me com o humor que coloca, quase, em cada página. Quero crer que o usou como isco e/ou estabilizador para prender o leitor e levá-lo mais confortavelmente ao ponto que perseguia.

Não será alheia à opção o facto de, dos seus atuais 69 anos de idade, ter vivido (continua a viver depois de uma estada temporária nos EU) 40 deles em Inglaterra. Atrevo-me a pensar que se deixou empolgar pelo conhecido humor british, ao ponto de o usar como estratégia - pelo menos neste livro -, obliterando para o efeito suas origens americanas. Dei comigo a sorrir bastas vezes com apontamentos simples mas plenos de humor tão pouco comum entre nós lusos. Parece um mágico que em vez de coelhos tira piadas da cartola a um ritmo notável. Na linha, de resto, da inesquecível série 'Yes, Prime Minister' (anos '80) - acabei de ver um pequeno excerto premonitório no YouTube sobre o Brexit - ou 'Allo, Allo!' ('80/'90).


Só por este lado bem disposto e com efeitos contagiantes, vale a pena a leitura sendo que o resto não é despiciendo. E numa sequência narrativa cadenciada, como se tivesse sido escrita de uma penada, pese embora tenha inserido peças complementares diversas para melhor servir os seus propósitos.


Há tempos um amigo meu, o Odracir (inventei o nome), admirava-se por eu me admirar com situações novas, essas num quadro perfeitamente inóspito. O que que deixou admirado! Essa faceta é, reconheço, um dos meus lados de que gosto e preservo. Deixo-me fascinar quando capto novidades, ângulos novos na observação das pessoas, coisas ou circunstâncias, ou na pacata leitura de um livro. Why not? São oportunidades que não enjeito - até persigo - porque entusiasmam momentos e induzem apego a coisas novas.


Vem esse episódio com o meu amigo Odracir a propósito deste livro, “POR AQUI e por ALIi”. 

Para além do que mais atrás referi, foi desta forma que fiquei a conhecer a antiquérrima Cordilheira dos Apalaches, os espantosos TA (Trilho dos Apalaches) e suas envolventes, com algum pormenor, dito de forma agradável e aparente simplicidade. E no decorrer da leitura o encanto pela forma e pelo conteúdo saltou facilmente. Agora resta ir lá para confirmar! Quem sabe!?

Aqui esbocei um esgar incrédulo.


Não conheço o texto original nem seria capaz de o traduzir; isto para dizer que gostei do texto em português, identificando algumas expressões nossas, cuja versão não desmerecerá a ideia do autor.


Daria à obra (A Walk in the Woods) outro título em português para além do eleito: "TA: 3.500 km de mochila".