“A Conspiração Contra a América”
Tradução de Fernando Pinto Rodrigues
Dom Quixote, Romance dd 2005
“The Plot Against America”
By Philip Roth, a novel dd 2004
Alguma razão têm os escritores quando referem que os seus livros deixam de ser seus a partir do momento em que chegam aos leitores. Este é mais um e bom exemplo disso mesmo.
Apesar do reforço adicional de ser escrito na primeira pessoa e até usar o próprio nome num dos personagem, o leitor - eu incluído - tende a esquecer quem o escreve pois se perde nos caminhos por onde é levado ou o próprio descobre.
Este Philip Roth, através da sua enorme capacidade de expressar em palavras pormenores do quotidiano, de criar e recriar factos, argumentos e contextos, limita um pouco essa deriva pois absorve, condiciona e até conduz a atenção.
Coloca interrogações novas a quem se interessa pela coisa pública, pelo comportamento das pessoas em/e sociedades, pelo fascínio do poder, pela tontice que, tantas vezes, anima os dirigentes…
Deixa, não obstante, margem para se optar por caminhos alternativos, tirar outras ilações e conclusões que melhor sirvam quem o lê.
O que mais me surpreendeu e agradou foi a sua veia criativa, narrativa e descritiva: brilhante.
Agora o tema do livro: sobre os judeus durante a segunda guerra (assunto recorrente nos seus livros, segundo li na sua biografia na net, sendo ele próprio de ascendência judaico-americana).
Ensaio ou ficçao sobre a hipótese de, durante a II guerra, ter sido eleito para Presidente dos EUA um conservador e, mais que conservador, um fascista seguidor-confesso de Hitler, e o que isso significaria para os judeus, em particular para os judeus americanos, se tal tivesse acontecido.
Sobre essa hipótese tece e retece cenários interessantes. Como um bom escritor que é, coloca esses judeus em situações passíveis e perfeitamente possíveis de terem ocorrido.
Há páginas de alguma aridez mas no geral são bem duras e humanamente tocantes.
E premonitórias.
A América trumpiana do “Great Again”/“First”, está aqui retratada. Em 2005!. Até parece que Trump leu (se soubesse ler) o livro e o adotou como cartilha. Lindbergh, o presidente-personagem do romance foi o sósia inspirador de Trump. E, na respectiva escala, de Ventura, esse português estranho e igualmente desprezível.
A veia criativa de Philip Roth não seca, pelo contrário, jorra página a página ao ponto de distrair o leitor do objectivo que demora ou fica por perceber; a não ser o de dar a conhecer e sensibilizar as novas gerações sobre as atrocidades a que os judeus foram sujeitos durante a II Guerra. Evidentemente que é defensável e crível que o que a estes judeus-americanos acontece no livro, tenha acontecido de facto a muitos judeus-europeus e, mais do que aqui é suposto, aconteceu muito, mas muito mais e pior.
Tenho presente, muitas vezes, os horrores que a história registou a respeito deste povo. Sobressalto-me sempre com o acervo/evidências que vi em Auschwitz ou, mais recentemente, em Israel.
Romance longo, bem escrito mas algo exagerado nos detalhes.
Ou talvez não.
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