Há meses que não encontrava cabimento mental capaz de acomodar alguma boa leitura, melhor dizendo, os livros em geral; leitura tão necessária, de resto, à torrente das fontes que irrigam a diversidade e compreensão da vida e do mundo.
A este propósito, há uns meses, ouvindo uma entrevista num Podcast [“Falar Criativo” - (falarcriativo.com)] o escritor Afonso Cruz a discorrer sobre a importância da leitura, comparou, ele, o escritor a um cozinheiro que, para o ser, deverá ter sempre à mão uma despensa bem recheada, de onde possa socorrer-se para aprimorar a sua criatividade culinária. Ou seja, ‘ler muito’, como fonte inspirador e motor propulsor da escrita.
Achei a imagem da despensa divertida e não menos interessante, por me parecer traduzir bastante bem o conceito e a importância do hábito de ler.
Ultimamente o mundo ferve, quase em ebulição, e as notícias nacionais e internacionais têm sido de tal ordem absorventes que relegam fácil e displicentemente para segundo plano aquele outro critério: o da leitura da “literatura pura”.
Tentar acompanhar e perceber tudo o que está a passar-se por aí - mesmo filtrando o mais importante -, é tarefa hercúlea e que absorve tempo.
Perceber o que se vai passando na UE de Merkel, nos EUA de Trump (hoje empossado), no Brexit de Theresa May, na Rússia de Putin, na Turquia de Erdogan, na China de Xi Jinping, na Coreia do Norte de Kim Jong-un, no “Estado Islâmico”, na Síria, em Israel e no Médio Oriente, refugiados… e sei lá o que mais, requer ouvidos bem atentos e leituras online; na hora, tal é a velocidade dos acontecimentos que nos chegam em catadupa.
Internet, TVs, Rádios, Jornais, Podcasts, e conversas tête-à-tête, são os recursos mais à mão para atingir esse desiderato, mas não suficientes.
Há sempre um gato escondido com o rabo também escondido.
E a literatura, onde fica?
Na Web está disponível esse mundo novo e inteiro, ao alcance de um clic, de acesso fácil (e grátis) a maior parte. Pouco a pouco vamos acedendo a conteúdos e ferramentas que nos dão outras perspectivas e facilidades, mas sempre longe do todo.
Destaco, para o que agora quero sinalizar, os AudioBooks, os eBooks e a ‘Fala’: praticamente os mesmos conteúdos servidos em plataformas diferente. Ao gosto ou necessidade do utente.
São incontáveis os AudioBooks e os eBooks publicados na Web mas, em língua portuguesa, substancialmente menos; o que reduz as minhas opções por não dominar na dimensão pretendida o significado das estrangeiras mais comuns. São, no entanto, os AudioBooks e os eBooks, uma solução amigável e usável.
A ‘Fala’.
Tem o iPhone/iPad (e creio que os outros smartphones/tablets também) uma funcionalidade ao dispor (basta ativar) que nos facultam facilidades bem interessantes; não perfeitas, é certo, mas o bastante para responder aos mínimos: a ´Fala´.
Para ‘ver para crer’ baixei um livro bem conhecido para experienciar a proposta: “Amor de Perdição”.
Em dois dias foi-se! E gostei.
Deu, perfeitamente, para “ler ou reler”, já não sei bem, o célebre romance de Camilo, e glosar os rígidos hábitos e costumes do século XIX, seguindo a bússola que guiou a pena de um mestre: Camilo.
O ponto mais negativo, porque muito diferente dos hábitos do da leitura em livro, deriva do facto da leitura corrida e declarada por outrem, acelerar a vontade do desfecho, não pausando para reflexões a propósito; e com menos vontade de tirar apontamentos. E isso é um pecha a apontar.
Porém, em consequência desta “leitura”, fui recordar a plêiades de escritores famosos desse século e que agora, por esta via, vou revisitar.
Espero vir a preencher assim a lacuna acima identificada.
[‘Fala’ - trata-se de um método aplicável a qualquer documento digitalizado, programável para a língua pretendida, para a velocidade da leitura desejada, altura do som, do género do leitor dizente e com sublinhado a acompanhar o texto. Basta então selecionar a quantidade de texto que se pretenda e libertar ‘Fala’. Pode-se ainda pausar, anotar, pesquisar, retomar, marcar a página, escolher o tipo, tamanho e cor da letra e das páginas...]
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