Já lá vai o tempo em que raciocínios imberbes influenciavam a avaliação do desempenho e bondade dos atores políticos, nacionais e outros, distinguindo, então, uns tantos imerecidamente; utilizo agora para o efeito um crivo de malha bem estreita, malha que o tempo teceu e foi apertando e por onde poucos conseguem passar. Fosse, aliás, reversível o anzol que outrora os selecionou e de lá alguns repescaria.
Mário Soares é um dos raros elegíveis que conquistou esse direito, consolidado numa carreira política e cívica longas.
Muito se tem dito e escrito sobre ele, nomeadamente por estes dias após a sua morte: praticamente todos sublinham sua vida pública como exemplar, com (compreensível) exceções para os retornados e (incompreensível) para os saudosistas de um passado longínquo.
Junto-me ao coro daqueles que apreciam a sua dedicação à causa nacional e revejo-me em muito do que foi dito; não vou repeti-lo.
Quero deixar, porém, aqui relevadas três grandes áreas que beneficiaram da sua ação e que mais apreciei: qualidade da liberdade, dimensão da democracia e visão Europeia. Para todas contribuiu de forma vívida, pioneira e assertiva para serem o que são hoje.
Estas expressões proferidas por ele ganharam i) uma sonoridade, uma alegria e uma dimensão novas; ii) uma profundidade reverberante que chega até hoje e que perdurarão no aplauso, no sentir e no querer de muitos.
Saídas da sua boca, transmitiam uma convicção e uma força que se convertidas em decibéis tornar-se-iam audíveis em muitas partes do mundo e não só cá dentro.
A liberdade, a democracia e também a Europa que temos hoje foram moldadas por ele. Aprendi e apreendi a sua liberdade, a sua democracia e a sua Europa.
E porque com elas me sinto bem, deixo-lhe aqui o meu pequeno mas reconhecido tributo.
A história nacional e, creio, estrangeira também, recordá-lo-á e ser-lhe-á elogiosa.
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