Há uns anos atrás, em 1989 exatamente - já lá vão 25 anos - fiz, com a minha mulher, uma ‘grande viagem’ pela europa: 17 dias.
Proponho-me agora, desafiando-me, repeti-la virtualmente, percorrendo os labirintos da memória, testando-a e tentando descobrir o que lá ficou. (1)
Fomos daqui, numa excursão, até à antiga Checoslováquia, passando por Espanha, França, Suíça, Liechtenstein, Áustria, Checoslováquia, Alemanha, Bélgica, Luxemburgo e novamente França e Espanha.
Percorremos mais de 7.000 Km, km a km, step by step.
Pagamos nessa altura 70 contos (350€) / pessoa.
“Quem tem pouco dinheiro não tem grandes vícios” e como o desejo de conhecer a Europa se tornava inadiável, fomos mesmo de excursão e numa opção que a futura Pinto Lopes Viagens (http://www.pintolopesviagens.com/plv/) proporcionava: campismo. Não fiquei dessa vez a conhecer o circuito turístico hoteleiro mas em contrapartida fiquei a conhecer este outro; com inconvenientes, certamente, mas sob um ponto de vista também agradável e igualmente bastante completo e proveitoso.
O então guia da viagem era o Sr. Pinto Lopes, ele mesmo, o pioneiro da empresa que começou, numa aposta quase inédita, este sistema de viagem em campismo. Em boa hora o fez, pois proporcionou, com esta solução mais acessível, a oportunidade a muitos que no sistema normal não o conseguiriam. Fiquei muito agradado com a postura e dinamismo que imprimia e com a confiança e segurança que espalhava pelos turistas; bem como com a logística de que dispunha para resolver as exigências do dia-a-dia, quer ao nível alimentar quer de pernoita.
Confecionava todas as refeições, e servia-as completas, incluindo bebidas (com vinho e café) e disponibilizava tendas e colchões para a noite.
Muito conhecedor do terreno que pisava incluindo a aproximação cuidada, então necessária, nos complicados e obscuros países de leste. Conhecia a palmo todo o caminho. Na sua qualidade de guia, falava muito sobre tudo, principalmente sobre a história dos diferentes países que íamos descobrindo. “Se um de vocês me for a ouvir, já vale a pena eu ir a falar”, dizia, quando o ronronar e monotonia da camioneta nos cansava e embalava para um sono irresistível e retemperador. Lembro também com agrado a alegre companhia do inconfundível cozinheiro, o ‘nosso Frade’ (2), assim o chamávamos. Uma figura. Um cromo raro. Sempre bem-disposto, comunicativo, divertido, um contador de histórias insubstituível, inultrapassável e inimitável, além de uma assinalável veia fadista.
Tinha um dito de entrada, que usava como bordão, muito peculiar e sempre prazenteiramente repetido e com uma musicalidade irreproduzível: “sabem quantos me vieram ajudar? Nem um!?”, brincava sorridente.
(1) Diz quem sabe que se deve exercitar a memória para afugentar o Alzeimer: estou a fazer a minha parte; espero que a natureza faça a dela e não me atraiçoe.
(2) Era um homem bom de fácil e agradável convivência. Antigo frade na África colonial portuguesa de onde ‘retornou’ nos idos e turbulentos anos de 1974/75.
Habituado à liberdade africana (3) não conseguiu lidar com o ascetismo e clausura dos conventos tradicionais portugueses. Pendurou o hábito e foi cozinhar para a Pinto Lopes Viagens, aproveitando ainda para fazer seus negócios de arte. Soube recentemente numa viagem à GB e em conversa com o Rui Pinto Lopes (filho), que estava bem, apenas debilitado fisicamente. Desejo-lhe daqui boa saúde.
(3) Alguns amigos meus se questionam e me questionam como é possível falar em mais liberdade em África!? Concordo que para quem não conhece África, esta ideia parece afrontosa e descabida; mas não: em África vive-se mais e melhor. Quem duvidar que ponha pés ao caminho e vá até lá tirar a prova real.
Embora amarrado e muito condicionado pelo rígido regime militar ao serviço da guerra colonial (72/74) e mais tarde (2000/01) pela guerra civil angolana (Jonas Savimbi seria morto em 2002), tal não impediu que saboreasse o prazer da liberdade africana. A liberdade não se esgota na de opinião, circulação de pessoas e bens ou económico-financeira; essas eram (e são) aí limitadas como sabemos. Refiro-me à possibilidade do usufruto das muitas potencialidades que aquelas terras, ares e clima tropicais propiciam; ao contacto com a natureza selvagem, muitas vezes virgem.
Há ainda uma outra razão e talvez a mais facilmente entendível, que tem a ver com a dimensão territorial dos países africanos em geral e em especial com aquele que melhor conheço: Angola. A diversidade geográfica, paisagística, climatérica, da fauna e da flora, muda com surpreendente e inebriante facilidade e ao percorremos aquela imensidão (14 vezes maior que Portugal), saboreamos de tudo um pouco o que o nosso planeta do seu estado mais original e puro tem para oferecer. E, mais, e aqui entra a maior das razões: sentimo-nos longe, muito longe de tudo e de todos, entregues a nós próprios, ao (s) nosso (s) mundo (s) e à natureza numa relação a dois: nós e a natureza selvagem. E, perceção importante, fora do raio de controlo de qualquer tipo de poder. O Bilhete de Identidade é dispensável. Interioriza-se a sensação da não ligação a ninguém. A união àquela natureza comparável à que se fala do paraíso bíblico, é tão intensa que chega a ser alucinogénia. Absorve-nos por completo os sentidos.
Acresce que, quer da primeira (oficial do exército) quer da segunda vez (bancário), era beneficiado com algum desafogo financeiro, o que não era despiciente.
Acresce que, quer da primeira (oficial do exército) quer da segunda vez (bancário), era beneficiado com algum desafogo financeiro, o que não era despiciente.
Os participantes na excursão foram paulatinamente criando um saudável espírito de grupo alicerçando o princípio da boa disposição colhido nos diversos convívios em comum, espírito esse que veio a favorecer e muito um melhor usufruto da viagem, agilizando e facilitando a resolução das novas questões que sempre se colocam nestas circunstâncias.
O enfoque e entusiasmo na descoberta dos novos mundos que a todos ia tocando e moldando, também ajudou a esbater a importância relativa das pequenas questões. Por outras palavras, todos tínhamos os ‘complicómetros’ desligados e isso foi importante.
À medida que íamos entrando Europa adentro - recordo o ano:1989 -, a nossa boca então ainda semicerrada pelos longos anos de clausura política salazarista, por questões culturais ou simplesmente de ordem pessoal, começou a abrir-se aos poucos, aumentando mais e mais à medida que novas descobertas iam sendo assimiladas.
Espanha
Espanha
A começar pela nossa vizinha e mais conhecida Espanha. Foi um bom começo.
Espanha ainda no rescaldo também da era franquista sofria de alguns males endógenos e muitos deles similares aos nossos.
A democracia dava aí também os primeiros temerosos passos.
(A Constituição do país foi então salva - FEV’81- por Juan Carlos quando se opôs nas cortes às intenções golpistas, com ‘direito a tiros’).
Filipe González (1982/96) - depois de Adolfo Suárez (1976/81) ter ensaiado os novos ares da liberdade -, tentava a consolidação democrática e o progresso económico e social do país.
Espanha contudo, pela sua dimensão, importância e cultura - deixando de parte o portuguesíssimo olhar soslaio bem traduzido na expressão ‘de Espanha nem bom vento nem bom casamento’ - exercia grande fascínio nos portugueses. Gostávamos (e gostamos) de ir a Espanha. Soubemos in loco da história do rico país basco e da luta das suas gentes (?) pela autonomia total. A sua luta armada remetia-nos para os avisados cuidados a observar quando circulávamos por entre eles.
Bastante de passagem - assim determinava o programa da viagem – ainda deu para ver a Catedral de Burgos, passar pelo Santiago Bernabéu e pelo Vicente Calderón.
França
Deixados os ‘olés’ espanhóis e ultrapassados os frios e míticos Pirenéus, chegamos à influente e não menos mítica França: França da Tour Eiffel, do Moulin Rouge, do Arque de Triumphe, dos Champs Elisées, do Quartier Latin, Sorbonne, do Sena, do Bateau Mouche, do Sacre Coeur, de Monparnasse e dos seus, ainda, boémios artistas, do Bosque de Bolonha...
França da Revolução Francesa (1789) e da Liberté, Fraternité, Egalité.
França que nas décadas anteriores tão bem tinha acolhido os necessitados emigrantes portugueses.
Andar pelas bem cuidadas autoestradas francesas, observar todos aqueles ícones que o turismo nos passou ao longo dos tempos, serviu para validar toda a imensa informação que a história despejou nas gentes de todo o mundo e de mim também, claro.
França de François Mitterand de que era o seu presidente e foi até 1995 (1981/1995). ‘François Mitran’, na fonia caraterística de Mário Soares. Presidente que haveria de ser importante nas negociações para a adesão de Portugal à U.E. Presidente carismático e detentor de muito poder, também a nível internacional. A sua opinião era então tida em consideração.
O objetivo do programa não era ainda Paris, o que aconteceria apenas no regresso. Passamos ao largo, em direção à Suíça. Até lá foi conhecer França vista de fugida. Observamos sobretudo a performance da produtiva agricultura francesa, elevada a níveis latifundiários inimagináveis então para Portugal (pelo menos para mim). Enormes e pujantes produções agrícolas a perder de vista, de todo o tipo de produtos. O horizonte eram campinas e mais campinas! (mais tarde, com a negociação da entrada de Portugal na Europa, o peso dessa agricultura haveria de ser determinante não só para a sua manutenção mas principalmente para a anulação da portuguesa. O peso da França impôs-se nas negociações e ficamos a perder totalmente).
A limpeza, o asseio, as cuidadas bermas das autoestradas, constituíam um aviso para o que deveríamos perseguir mais tarde em Portugal quando começamos também a construir as nossas.
‘Massacre da Praça Tiananmen, China’
Durante a viagem acompanhamos (tivemos tempo para isso) toda a evolução do que viria a ser o ‘Massacre da Praça Tiananmen - 04Junho - (Praça da Paz Celestial).
Vivíamos então por essa altura, nós portugueses, ainda, o rescaldo do fervor revolucionário do 25ABR’74. Todos os turistas em geral viveram bem de perto o que então se tinha passado em Portugal e alimentavam o desejo de um desfecho ocidentalizado para os estudantes de Tiananmen. Pura ilusão: foram mortos pelo governo chinês, conforme as versões, entre 400 e 7.000 estudantes e ficaram feridos entre 7.000 e 10.000. Todo o mundo democrático ficou deveras consternado e revoltado com a violência aplicada.
Suíça
A caminho da posterizada, endinheirada, fria e bela Suíça e também do país que tantos portugueses acolheu e acolhe ainda.
A curiosidade sobre este país era grande. Conhecê-lo inside; apreciar os efeitos de todo o dinheiro que ali é mundialmente depositado – o mealheiro do mundo - ; o comportamento político dos seus governantes e das suas gentes; o seu comércio e indústria, eram os focos da minha atenção.
Encontrei efetivamente uma Suíça calma, politicamente neutra – como se sabia -.
De Genebra a Zurique todos os recantos, todo o país é um wallpaper. Nada lhe falta: uma paisagem soberba de um verde luxuriante; garridas flores atapetam cada canto. As casas na sua grande maioria cuidadas, adornadas e ajardinadas, bem floridas em cada parede, em cada janela. Numa simples frase se pode dizer que todo o país é um jardim natural; as suas gentes levam esse jardim para as suas casas.
Entramos por Genebra e saímos por Zürich, percorrendo o país de ponta a ponta.
Genebra, a cidade, todos as cidades aliás, harmonizam com o resto do país. Desta - limpa, organizada e cosmopolita - fica o postal do lago Léman e do seu “Jet’Aux” (130m Altura) e do seu relógio florido;
Berna com o seu emblemático fosso do urso e dos caraterísticos tróleis;
Lucerna e a sua estação de comboios e a famosa e turística ponte da Capela com a sua Torre d’Água (anos mais tarde viria a arder e também viria a ser reconstruída).
Apreciamos a Zurique banqueira e seus primorosos prédios, o saboroso chocolate, o metro de superfície e os obrigatórios relógios suiços.
Liechtenstein
Passamos ainda pelo pequeno Liechtenstein, por Vadus, com o seu castelo altaneiro e dominante. Tomado o café na rua principal e depois do momento Kodak, entramos enfim na sonhada Áustria.
Não conhecia a existência deste pequeno país.
Áustria
Começamos pelo Tirol - procurando sua música e chapéu tirolês e onde mais tarde (1991) viria a ser descoberto o esqueleto milenar (5.300 anos) de Ötzi, o ‘homem do gelo’ - a entrada no país sede do ex-império Austro-húngaro; no país da boa música clássica: de Mozart, de Haydn, de Schubert, dos Strauss; das valsas (… quem nunca dançou o Danúbio Azul! Dancei-a lá, num dos seus bonitos salões numa incursão noturna); do ‘Música no Coração’ (…quem não viu o filme? Eu viu-o muitas vezes...); do país da bela imperatriz Sissi (…tão bem recriada no cinema pela também belíssima e malograda Romy Schneider!)...
Passando pelas pistas de gelo de Innsbruck, que avistamos ao longe, pelos Alpes, chegamos à famosa, romântica e mundialmente conhecida cidade natal de Mozart: Salzburg.
Aqui acrescento que sou um apreciador de Mozart – para mim, o expoente maior de toda a música clássica. Tinha já escutado e apreciado muitas das suas obras e nutria (e nutro) por ele enorme admiração. Encantam-me as composições para clarinete. Foi pois com este sentimento que entrei na sua casa, nos seus aposentos e beber um pouco do espírito musical de Mozart, também junto do seu cravo.
Passando por Linz, encaminhamo-nos para Viena d’Áustria.
A Áustria, toda a Áustria, é um país belo e fascinante, mas Viena d’Áustria, a capital, é uma cidade encantadora. Tendo sido a sede do ex-império Austro-húngaro, para lá foi levado pelo imperador Francisco José a grande e melhor fatia do império. Na altura da visita a cidade tinha 200 edifícios não só classificados como exemplarmente conservados. Catedrais e igrejas feitas com o melhor e mais requintado mármore de Carrara e desenhadas pelos mais famosos arquitetos da altura. Foi aí que pude apreciar o peso e a riqueza do império dos Habsburgo. O Palácio de Schönbrunn (1643) (Palácio de Versalhes de Viena) com a sua cor amarelo-ocre, retrata bem a opulência daquele tempo.
Passando por Linz, encaminhamo-nos para Viena d’Áustria.
A Áustria, toda a Áustria, é um país belo e fascinante, mas Viena d’Áustria, a capital, é uma cidade encantadora. Tendo sido a sede do ex-império Austro-húngaro, para lá foi levado pelo imperador Francisco José a grande e melhor fatia do império. Na altura da visita a cidade tinha 200 edifícios não só classificados como exemplarmente conservados. Catedrais e igrejas feitas com o melhor e mais requintado mármore de Carrara e desenhadas pelos mais famosos arquitetos da altura. Foi aí que pude apreciar o peso e a riqueza do império dos Habsburgo. O Palácio de Schönbrunn (1643) (Palácio de Versalhes de Viena) com a sua cor amarelo-ocre, retrata bem a opulência daquele tempo.
Fiquei pesaroso, até hoje, por não ter entrado na Ópera de Viena; mas deslumbrei-me a passear pelas alamedas floridas e bordejadas pelas expressivas estátuas de Mozart, de Schubert, de Strauss, ouvindo ao vivo as orquestras que aí tocavam graciosamente para o grande público.
Almocei debaixo das arcadas do estádio do Prater onde o FCPorto ganhara (1987) a primeira taça de Campeão Europeu com o inesquecível golo de calcanhar de Madjer. Andei na roda gigante do parque de diversões do Prater (1897/64 m) com vista panorâmica da cidade.
É arriscado fazer esta apreciação, mas ouso dizer que há dois países neste planeta que encantam pela sua beleza e história e que ficam para sempre na retina: Suíça e Áustria.
Checoslováquia
Sair da Europa ocidental e entrar na Europa de Leste fazia parte do desejo secreto ou menos secreto de toda a gente e minha também. Ver a funcionar o mundo comunista para depois o poder comparar com o capitalista, era ambição geral adiada. Falar disso agora, num outro tempo, em que a história fez o seu curso, parece risível. Eram, confirmo, tempos bem complicados; era o mundo comunista com uma dimensão existencial agora inimaginável.
Ao aproximarmo-nos da fronteira da então Checoslováquia começamos por notar a diferença que mais adiante se veio a revelar enorme. Desde logo e nos controlos de fronteira a segurança era blindada. Os nossos temores eram visíveis. Os guardas, muitos guardas, entraram intimidantemente pela camioneta adentro e vistoriaram tudo. Nós, os turistas, atentos, acompanhávamos silenciosos a sua evolução. Nada de significativo, felizmente, aconteceu. O Sr. Pinto Lopes com a sua avisada experiência e proverbial boa disposição, resolveu a questão dos guardas com umas garrafas de Vinho do Porto. Aliás, o excessivo aparato era o cenário previamente montado para amedrontar e extorquir os turistas. Paga essa taxa extra diretamente aos interessados, o problema deixou de o ser.
Já dentro do país, agora República Checa, e contrariamente à postura ostensiva dos militares e forças militarizadas nomeadamente dos da fronteira, observamos que éramos observados minuciosa, tolhida e tristemente por cidadãos com aparência de má nutrição, magros mesmo, e bastante descuidados, inclusive esfarrapados. Os locais de frequência pública - cafés, wc's - eram pobres e sem oferta de produtos e serviços com o mínimo de qualidade, embora pagos.
Seguimos nesta atmosfera de míngua e com os sentidos bem despertos até Brno. Embora esta cidade tenha pertencido ao Império Austro-húngaro até ao fim da primeira guerra mundial, o certo é que na era comunista, por falta de dinheiro, não foi feita a necessária manutenção dos edifícios da era imperial; pelo que o estado de degradação era perigosamente sentido. Muitos deles estavam estacados à espera de melhores dias para a sua reabilitação. Fomos numa pequena incursão pedestre até ao despovoado e desinteressante centro histórico da cidade, sem outro interesse especial a não ser para a recolha de elementos comparativos.
Debaixo deste clima pouco respirável e por estradas tipo as nossas locais, seguimos para Praga, a capital. Embora se mantendo aqui parte do que observamos até Brno, havia porém uma outra parte bem diferente e bem mais agradável e turística.
A começar pela sua histórica Praça da Cidade Velha onde ‘aconteceu história’, nacional mas com impacto internacional - Primavera de Praga, 1968, com Alexander Dubcek e a sua tentativa de abertura democrática (“A Insustentável Leveza do Ser” de Milan Kundera). No seu centro a referência religiosa e fundacional do País através da estátua de Jan Hus.
A Torre do Relógio, a Ponte Carlos, o Castelo de Praga, a Catedral de S. Vito, foram os locais de passagem selecionados e obrigatórios. A visita ao Cemitério Judeu, foi um momento especial e tocante, remetendo-nos a sua vista imediatamente para o Holocausto. Os Cristais da Boémia eram outro foco de interesse que perseguíamos. Não podíamos deixar a República Checa sem uma visita a uma fábrica da famosa cerveja Pilsen; foi o que fizemos deliciando-nos com a novidade. Não queria deixar a República Checa sem destacar as igrejas e catedrais do tempo do império: dignas de nota embora algumas ainda degradadas. (admito que já tenham sido convenientemente recuperadas, até para a exploração turística).
Sair da Europa ocidental e entrar na Europa de Leste fazia parte do desejo secreto ou menos secreto de toda a gente e minha também. Ver a funcionar o mundo comunista para depois o poder comparar com o capitalista, era ambição geral adiada. Falar disso agora, num outro tempo, em que a história fez o seu curso, parece risível. Eram, confirmo, tempos bem complicados; era o mundo comunista com uma dimensão existencial agora inimaginável.
Ao aproximarmo-nos da fronteira da então Checoslováquia começamos por notar a diferença que mais adiante se veio a revelar enorme. Desde logo e nos controlos de fronteira a segurança era blindada. Os nossos temores eram visíveis. Os guardas, muitos guardas, entraram intimidantemente pela camioneta adentro e vistoriaram tudo. Nós, os turistas, atentos, acompanhávamos silenciosos a sua evolução. Nada de significativo, felizmente, aconteceu. O Sr. Pinto Lopes com a sua avisada experiência e proverbial boa disposição, resolveu a questão dos guardas com umas garrafas de Vinho do Porto. Aliás, o excessivo aparato era o cenário previamente montado para amedrontar e extorquir os turistas. Paga essa taxa extra diretamente aos interessados, o problema deixou de o ser.
Já dentro do país, agora República Checa, e contrariamente à postura ostensiva dos militares e forças militarizadas nomeadamente dos da fronteira, observamos que éramos observados minuciosa, tolhida e tristemente por cidadãos com aparência de má nutrição, magros mesmo, e bastante descuidados, inclusive esfarrapados. Os locais de frequência pública - cafés, wc's - eram pobres e sem oferta de produtos e serviços com o mínimo de qualidade, embora pagos.
Seguimos nesta atmosfera de míngua e com os sentidos bem despertos até Brno. Embora esta cidade tenha pertencido ao Império Austro-húngaro até ao fim da primeira guerra mundial, o certo é que na era comunista, por falta de dinheiro, não foi feita a necessária manutenção dos edifícios da era imperial; pelo que o estado de degradação era perigosamente sentido. Muitos deles estavam estacados à espera de melhores dias para a sua reabilitação. Fomos numa pequena incursão pedestre até ao despovoado e desinteressante centro histórico da cidade, sem outro interesse especial a não ser para a recolha de elementos comparativos.
Debaixo deste clima pouco respirável e por estradas tipo as nossas locais, seguimos para Praga, a capital. Embora se mantendo aqui parte do que observamos até Brno, havia porém uma outra parte bem diferente e bem mais agradável e turística.
A começar pela sua histórica Praça da Cidade Velha onde ‘aconteceu história’, nacional mas com impacto internacional - Primavera de Praga, 1968, com Alexander Dubcek e a sua tentativa de abertura democrática (“A Insustentável Leveza do Ser” de Milan Kundera). No seu centro a referência religiosa e fundacional do País através da estátua de Jan Hus.
A Torre do Relógio, a Ponte Carlos, o Castelo de Praga, a Catedral de S. Vito, foram os locais de passagem selecionados e obrigatórios. A visita ao Cemitério Judeu, foi um momento especial e tocante, remetendo-nos a sua vista imediatamente para o Holocausto. Os Cristais da Boémia eram outro foco de interesse que perseguíamos. Não podíamos deixar a República Checa sem uma visita a uma fábrica da famosa cerveja Pilsen; foi o que fizemos deliciando-nos com a novidade. Não queria deixar a República Checa sem destacar as igrejas e catedrais do tempo do império: dignas de nota embora algumas ainda degradadas. (admito que já tenham sido convenientemente recuperadas, até para a exploração turística).
Alemanha
Da Alemanha não ficou grande recordação. Retenho a famosa, densa e bonita ‘Floresta Negra’, a cidade de Nüremberg e de resto foi fazer quilómetros até ao próximo destino. Aproveitamos essa grande travessia de quase toda a Alemanha - oriente / ocidente - para as fotos de ocasião e entretenimento coletivo no interior da camioneta, com fados do nosso Frade, anedotas e campeonato de sueca (por acaso ganhei-o com um parceiro de ocasião do Fundão e como troféu tive direito a uma garrafa de Vinho do Porto da coleção particular do Sr. Pinto Lopes).
Mais tarde (AGO/2013) regressei aqui para uma visita de 10 dias, e aí sim, fiquei com uma ideia bastante mais plena do que é a Alemanha.
(http://dinamico-dinamico.blogspot.pt/2013/09/o-melhor-da-alemanha-com-plv.html)
(http://dinamico-dinamico.blogspot.pt/2013/09/o-melhor-da-alemanha-com-plv.html)
Belgica / Luixemburgo
E chegamos à Bélgica a que se seguiu Luxemburgo.
Foram passagens por estes países e cidades não tendo registado algo especialmente recordável, exceção para os icons internacionais incluindo o Centro Atomium. Nem na altura estes dois países, nomeadamente a Bélgica, tinham a visibilidade dos nossos dias.
França
Reentramos em França por Reims. Aqui sim, já ficou a sua catedral, o famoso champanhe de Reims (que não provei) e o imenso e emblemático cemitério de Reims, recordando suas incontáveis cruzes brancas (12.000) e a sua enorme dimensão de tapete verde a tragédia do que foram os mortos da 1ª guerra mundial. Esta visão provocou um impacto memorável.
Paris!
Se há cidades e locais que todos desejam visitar um dia, Paris será das primeiras senão mesmo a primeira. Paris é, também o confirmo, A Cidade.
Não é fácil, em pouco tempo, ficar-se com um overview à altura.
E aqui entro com um argumento que me levou no futuro à fidelização na PLV. É que esta empresa tem uma filosofia comercial que me agrada especialmente. Refiro-me especificamente à facilidade e franqueza que disponibilizam aos clientes para que realizem os seus sonhos, observando o máximo de coisas no tempo ao dispor. O Sr. Pinto Lopes, ele próprio, passeou-nos de dia, a primeira vez, e de noite, a segunda, por todos os cantos de Paris, sem faturar mais por isso; (em 2004(?), no regresso de uma viagem aos Países Nórdicos, o Fredy surpreendeu, brindando-nos com um city-tour surpresa de 3/4 horas pela cidade de Frankfurt.
Não faltou naturalmente a Torre Eifel, o Cartier Latin, a Sorbonne, o Sacre Coeur, o Trocadero, o Arc Triumphe, os Champs Elisés, o Moulin Rouge, Monparnasse, os Bateau Mouche …
Não faltou naturalmente a Torre Eifel, o Cartier Latin, a Sorbonne, o Sacre Coeur, o Trocadero, o Arc Triumphe, os Champs Elisés, o Moulin Rouge, Monparnasse, os Bateau Mouche …
Ou seja, apesar de pouco tempo – dois dias – foi contudo o bastante para querer regressar. Elegerei a subida à Torre como o momento especial da viagem. Ver Paris a partir daí numa abrangência de 360º é um momento único.
Mais tarde regressei a Paris – 8 dias - para refrescar a memória e conhecê-la ainda melhor (inclui Poitiers, os Castelos do Loire, a Disneylândia e o Futuroscope).
Sei bem que este método de turistar condiciona o conhecimento dos países. Sei que por esta via entramos no túnel turístico previamente selecionado e se fica a conhecer pouco mais que aqueles high lights. É certo. Mas esses, os mais significativos, ficam minimamente vistos. Selecionar uma opção, um circuito, é eliminar outros, sabemos. E para quem muitos dos lugares visitados são lugares a não mais regressar – por impossibilidades financeiras, por preferências ou outras – esta solução ajuda a resolver a questão.
Sei bem que este método de turistar condiciona o conhecimento dos países. Sei que por esta via entramos no túnel turístico previamente selecionado e se fica a conhecer pouco mais que aqueles high lights. É certo. Mas esses, os mais significativos, ficam minimamente vistos. Selecionar uma opção, um circuito, é eliminar outros, sabemos. E para quem muitos dos lugares visitados são lugares a não mais regressar – por impossibilidades financeiras, por preferências ou outras – esta solução ajuda a resolver a questão.
Chegado aqui e voltando ao início deste apontamento, fica-me a dúvida: terei sido atraiçoado pela memória? E se sim, em que sentido e em que medida, por excesso ou defeito? Admito que por ambas: aqui e ali por defeito e mais além por excesso. De qualquer maneira não procurava o rigor mas tão só a sua aproximação, e isso tentei. Levo este texto à conta da diversão ou ocupação dos tempos livres. Perdoo a mim mesmo alguma leveza na sua abordagem.
Foi contudo um bom exercício de memória.
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