1.
Os meus parcos e
dispersos conhecimentos sobre a história de Portugal, incluindo este período
dos descobrimentos e mais concretamente sobre a verdadeira identidade de
Cristóvão Colombo - tema do presente livro -, não me autorizam a comentar a versão
aqui apresentada; porém, sempre direi, que o orgulho português fica bem mais
polido com ela. A tentativa de JRS amarrar CC à cidadania portuguesa, é no
mínimo estimulante, carecendo todavia de confirmação. Penso que JRS não
pretende com esta sua ficção apresentar uma demonstração cabal da sua
identidade mas tão-somente recriar um simples romance usando como tema uma
dúvida secular e enigmática que alimentou e continua a alimentar gerações,
nomeadamente académicas. O uso de técnicas mais recentes, incluindo as do ADN,
reavivou a polémica e deu-lhe mais espaço e oportunidade para eventuais e novas
conclusões. Não fiquei particularmente motivado em saber exatamente qual a sua
verdadeira nacionalidade, confesso; o importante mesmo foram as novidades e as possibilidades
que a suas descobertas trouxeram ao mundo que foram, como sabemos, gigantescas.
No decorrer da leitura do
livro e no confronto com as diversas pretensões ou até reivindicações da
nacionalidade de CC (portuguesas, espanholas, italianas e judaicas) veio-me à
mente a recente viagem que eu e minha mulher, mais um casal amigo, fizemos a
Madrid (MAR’2014). Como ficamos alojados na Calle Goya e andamos muito a pé,
passamos várias vezes na Praça Colon; praça que a cidade (penso que povo
espanhol) honrosamente lhe dedica. Mesmo no seu centro, com alguma pretensão e
imponência, é ali bem destacada e exibida a sua estátua. Ao lado e também num
espaço bem amplo, o ‘Jardines del Descubrimiento’. Ou seja, Espanha liga assim de
forma enfática CC aos descobrimentos espanhóis, como que pretendendo, no
mínimo, nacionalizá-lo ou identificar nele as boas caraterísticas do povo
espanhol; se se quiser, ter nele mais uma bandeira de identificação e união do
povo espanhol. Recorda-se que seus restos mortais estão em Sevilha (?).
Quando há uns anos passei
por Génova, Itália, este tema passou despercebido nem o guia sequer o referiu;
porventura devia tê-lo lembrado a bem de toda a verdade sobre o caso.
Acabado o livro, fica
clara a ficção de JRS, ou seja, inventando um pretexto – uma presumível rasura
num documento importante – cria a partir daí esta trama envolvendo CC e o
eterno tema da sua verdadeira identidade. Honra lhe seja feita: está bem
imaginado, conseguido, todavia extenso em demasia.
O livro não só não
resolve o enigma mas, sobretudo, alimenta-o e potencia-o. Terá sido essa a
intenção de JRS? Creio que não; tenho para mim que usou o tema enquanto inspiração
literária e fonte comercial.
2.
Fica aqui confirmado,
mais uma vez, de que a forma de escrita reflete o ADN de cada escritor. JRS é,
ele também, fiel a este princípio: os temas variam mas a forma, o clima e a
densidade narrativa são idênticos para não dizer iguais; gravitando à volta dos
assuntos, expõe-nos da mesma maneira.
Este, como os outros,
apetece-me dizer, está ‘limpinho’: sem gafes, bem ligado e com uma lógica
narrativa que não suscita discussão. Para quem acompanha JRS como escritor
chegará à conclusão que a inovação está apenas nos temas. Quanto ao resto é de
fato muito igual.
Leitura fácil, agradável
mas sem empolgar. Diverte, ocupa os tempos livres mas sem grande valor
acrescentado. Pura diversão.
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