“Não há perdão. Mas há sempre esperança, tem de haver. Portugal não acaba assim nem agora.”
Escritos políticos 2005-2012
Depois de ler o livro…
Não nutro particular estima por MST mas isso não significa necessariamente que não lhe reconheça solidez intelectual, um trabalhador incansável e um lutador de causas (algumas quixotescas).
Escritos políticos 2005-2012
Depois de ler o livro…
Não nutro particular estima por MST mas isso não significa necessariamente que não lhe reconheça solidez intelectual, um trabalhador incansável e um lutador de causas (algumas quixotescas).
Irreverente, frontal, desembaraçado, intrépido, irónico, corrosivo, mordaz, são qualificativos bem evidentes que ajudam a traçar o seu perfil muito similar, de resto, ao do seu falecido pai (Francisco S.T.).
Cuidadoso e fundamentado e com uma veia literária interessante, expõe suas opiniões cativantemente.
Faz bem o trabalho de casa.
Cuidadoso e fundamentado e com uma veia literária interessante, expõe suas opiniões cativantemente.
Faz bem o trabalho de casa.
Do lado materno - Sofia de Mello Breyner Andresen - herdou a facilidade de expressão no campo das letras que, não sendo brilhante é, contudo, aprazível de se seguir. Não se destaca especialmente nesta área, posicionando-se porém acima da média do setor.
Não obstante, revejo-me em algumas, aliás bastantes, das causas que defende e aprecio a argúcia e o timing como e em que as denuncia.
Acompanho-o numas e outras há em que sou claramente contra.
Não obstante, revejo-me em algumas, aliás bastantes, das causas que defende e aprecio a argúcia e o timing como e em que as denuncia.
Acompanho-o numas e outras há em que sou claramente contra.
Por exemplo:
i) 'Direitos dos Fumadores', tema em que sou contra.
Já fui fumador (durante 20 anos) como julgo que MST ainda o será. Nessa altura, como ele, julgava-me detentor do supremo e intocável direito de fumador. Não admitia que alguém se opusesse a esse meu direito inalienável. Arrolava argumentos que sustentassem essa minha pretensão e a lei protegeu-me durante todo aquele tempo. MST, inteligente como é, é capaz de carrear para o assunto uma infindável lista de justificações (‘Para os outros justificações, para mim convicções’, diz com ironia um colega meu), mas MST esquece que há efetivamente gente – onde me incluo – que não tolera o ambiente / cheiro do tabaco. O legislador ao dividir o mal pelas aldeias, parece-me que andou bem. Mais, no meu ambiente profissional existe naturalmente essa restrição e os fumadores exercem esse seu direito com toda a liberdade em espaço reservado para o efeito, e o que digo é que noto por parte dos não fumadores maior respeito ainda pelo exercício desse seu direito. Exagera pois MST nos seus argumentos de pseudo-defendor de causa alheia ou social por o estar a fazer à luz do seu próprio umbigo.
Já fui fumador (durante 20 anos) como julgo que MST ainda o será. Nessa altura, como ele, julgava-me detentor do supremo e intocável direito de fumador. Não admitia que alguém se opusesse a esse meu direito inalienável. Arrolava argumentos que sustentassem essa minha pretensão e a lei protegeu-me durante todo aquele tempo. MST, inteligente como é, é capaz de carrear para o assunto uma infindável lista de justificações (‘Para os outros justificações, para mim convicções’, diz com ironia um colega meu), mas MST esquece que há efetivamente gente – onde me incluo – que não tolera o ambiente / cheiro do tabaco. O legislador ao dividir o mal pelas aldeias, parece-me que andou bem. Mais, no meu ambiente profissional existe naturalmente essa restrição e os fumadores exercem esse seu direito com toda a liberdade em espaço reservado para o efeito, e o que digo é que noto por parte dos não fumadores maior respeito ainda pelo exercício desse seu direito. Exagera pois MST nos seus argumentos de pseudo-defendor de causa alheia ou social por o estar a fazer à luz do seu próprio umbigo.
ii) 'Adoção de crianças por homossexuais'.
Diz ele que é contra porque apenas ‘cura dos interesses dos adotantes sem curar dos do menor, cuja vontade presume indiferente’. A simplicidade da frase peca por exagero; admito que tenha outros argumentos que sustentem a sua posição pois esta, só por si, é francamente pouco por relegar para o esquecimento outras vertentes da questão que importam ao caso. Pegando no exemplo largamente conhecido dos ‘meninos da rua’, (quem não viu o filme ‘Cidade de Deus’ - uma caricatura bem conseguida sobre o tema) dá-nos, com um grau de crueza notável e realista, o que pode ser a vida dos meninos que crescem sem eira bem beira, fora de qualquer carril paternal ou social.
Diz ele que é contra porque apenas ‘cura dos interesses dos adotantes sem curar dos do menor, cuja vontade presume indiferente’. A simplicidade da frase peca por exagero; admito que tenha outros argumentos que sustentem a sua posição pois esta, só por si, é francamente pouco por relegar para o esquecimento outras vertentes da questão que importam ao caso. Pegando no exemplo largamente conhecido dos ‘meninos da rua’, (quem não viu o filme ‘Cidade de Deus’ - uma caricatura bem conseguida sobre o tema) dá-nos, com um grau de crueza notável e realista, o que pode ser a vida dos meninos que crescem sem eira bem beira, fora de qualquer carril paternal ou social.
Vou apenas também lembrar aqui o desempenho (às vezes questionável) de algumas instituições coletivas - Casa Pia / Casa do Gaiato / Refúgio Aboim Ascensão, sempre tão faladas – que sendo necessárias e de apoiar, são todavia bem mais impessoais e de ambientes potenciadores de ‘problemas’, pelas naturais dificuldades de acompanhamento e de gestão humanas. E a questão põe-se aqui: qual será a aposta mais visionária: a da continuação dos ‘meninos de rua’ ou a da adoção por pessoas ‘diferentes’ mas, em princípio, portadoras de valores humanos e de qualidade de vida social e financeira que lhes venham a proporcionar futuros mais promissores e mais socializantes? O que é que a sociedade prefere, uns ou outros? Chegou a altura de fazer a escolha. Pode-se dizer que a escolha é exigente e fraturante mas, por a mim, opto claramente pela segunda, pela adoção.
iii) 'Facebook'.
O argumentário que MST usa para fundamentar a sua posição contra, peca, novamente, por exagero. Muita coisa do que diz é obviamente verdade; mas existem bons exemplos que rejeita e que eu aplaudo. E dou dois: i) o meu grupo de tropa. Encontramo-nos uma vez por ano e reencontramo-nos e comunicamo-nos em bloco no Facebook. É-nos útil, portanto (de acesso restrito).
O argumentário que MST usa para fundamentar a sua posição contra, peca, novamente, por exagero. Muita coisa do que diz é obviamente verdade; mas existem bons exemplos que rejeita e que eu aplaudo. E dou dois: i) o meu grupo de tropa. Encontramo-nos uma vez por ano e reencontramo-nos e comunicamo-nos em bloco no Facebook. É-nos útil, portanto (de acesso restrito).
Um outro exemplo é o do ii) meu grupo privado familiar (de acesso restrito). Aí cada elemento do grupo diz o que quer, quando quer e todos reagem animadamente e isso não condiciona o contato pessoal, antes pelo contrário, estimula-o.
Deixo apenas estes três exemplos mas outros mais há.
Alguns dos testos selecionados para o presente livro, contêm verdades indesmentíveis e, para quem assim o quiser, premonitórias também no sentido em que certas causas juntas, sabemo-lo, produzem invariavelmente efeitos previsíveis.
Os textos de abordagem política deixam o leitor encharcado de um pessimismo pró-doentio, tamanho é o ‘imbróglio’ em que Portugal está submerso. Estamos mesmo no fio da navalha. Os vícios encrustados na sociedade portuguesa em geral, como quistos, estão na fase terminal e não se vislumbram soluções economicamente criativas nem alguém com capacidade técnica e de liderança para lhe introduzir os necessários e já tardios antídotos. Desde a inamovível casta dos professores aos dependentes mais ‘inofensivos’ do patrão estado, muita gente mesmo está viciada nesta dependência; habituaram-se a viver e a sobreviver sob esse imenso guarda-chuva, alijando responsabilidades e furtando-se a iniciativas próprias para no conjunto darem o seu contributo para a saída do atoleiro. Só que esse guarda-chuva já não guarda coisa nenhuma e está mesmo sem conserto. A única reparação que se conhece é a do aumento dos impostos, mais e mais impostos, até à asfixia total de quem trabalha por conta de outrem e que não consegue escapar-lhe.
No geral, MST, posiciona-se a uma distância apreciável de não alinhamento de quase tudo: partidos, corporações (…) cultivando contudo de todos eles um conhecimento continuado das suas envolvências ou interesses.
A calibração, a ponderação do funcionamento das coisas, da sociedade, da vida, permite-lhe percecionar em tempo útil a origem das tensões, criticar com denodo os desvios dos grupos e pessoas do normal comportamento numa sociedade democrática.
Todavia MST coloca-se do lado do observador, do lado crítico, do lado de quem não tem que tomar decisões. Resta saber, se estivesse do outro lado, como faria? Quando tivesse de animar a economia; quando tivesse de cortar nas despesas, ou quando não tivesse dinheiro para animar o cego, como atuaria!? Por quais optaria?
Neste ponto estou certo que i) MST não aceitaria lugares de decisão e, ii) por outro lado, a sua mente já está formatada para a análise crítica, vivendo financeiramente disso, aliás.
MST a decidir seria um problema para todos.
Se recomendo a leitura destes escritos políticos? Claro, vivamente e que cada qual tire as suas conclusões.
Alguns dos testos selecionados para o presente livro, contêm verdades indesmentíveis e, para quem assim o quiser, premonitórias também no sentido em que certas causas juntas, sabemo-lo, produzem invariavelmente efeitos previsíveis.
Os textos de abordagem política deixam o leitor encharcado de um pessimismo pró-doentio, tamanho é o ‘imbróglio’ em que Portugal está submerso. Estamos mesmo no fio da navalha. Os vícios encrustados na sociedade portuguesa em geral, como quistos, estão na fase terminal e não se vislumbram soluções economicamente criativas nem alguém com capacidade técnica e de liderança para lhe introduzir os necessários e já tardios antídotos. Desde a inamovível casta dos professores aos dependentes mais ‘inofensivos’ do patrão estado, muita gente mesmo está viciada nesta dependência; habituaram-se a viver e a sobreviver sob esse imenso guarda-chuva, alijando responsabilidades e furtando-se a iniciativas próprias para no conjunto darem o seu contributo para a saída do atoleiro. Só que esse guarda-chuva já não guarda coisa nenhuma e está mesmo sem conserto. A única reparação que se conhece é a do aumento dos impostos, mais e mais impostos, até à asfixia total de quem trabalha por conta de outrem e que não consegue escapar-lhe.
No geral, MST, posiciona-se a uma distância apreciável de não alinhamento de quase tudo: partidos, corporações (…) cultivando contudo de todos eles um conhecimento continuado das suas envolvências ou interesses.
A calibração, a ponderação do funcionamento das coisas, da sociedade, da vida, permite-lhe percecionar em tempo útil a origem das tensões, criticar com denodo os desvios dos grupos e pessoas do normal comportamento numa sociedade democrática.
Todavia MST coloca-se do lado do observador, do lado crítico, do lado de quem não tem que tomar decisões. Resta saber, se estivesse do outro lado, como faria? Quando tivesse de animar a economia; quando tivesse de cortar nas despesas, ou quando não tivesse dinheiro para animar o cego, como atuaria!? Por quais optaria?
Neste ponto estou certo que i) MST não aceitaria lugares de decisão e, ii) por outro lado, a sua mente já está formatada para a análise crítica, vivendo financeiramente disso, aliás.
MST a decidir seria um problema para todos.
Se recomendo a leitura destes escritos políticos? Claro, vivamente e que cada qual tire as suas conclusões.
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