quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Corrupção: o cancro incurável | José Sócrates e outros...

Vivemos atualmente em Portugal, mais uma vez, momentos conturbados, muito agitados e comentados na área da corrupção, potenciados pelo aparecimento em cena de José Sócrates. E não só nesta área, lembra-se. A chama reacendeu e os ventos multidirecionais ampliam o fenómeno. As turbas perfilam-se defendendo cada qual com os argumentos mais 'inteligentes' a parte do seu quintal. Apenas uma ou outra voz mais desalinhada lá vai redirecionando o discurso para o lado da ética mais pura ou desapaixonada.

Vou focar-me, por ora nesta, na corrupção, sintonizando-me com o bruaá que corre nos media, adiando mas não esquecendo as outras.

Começo por dizer que o tema em geral me provoca, sempre, urticária aguda mas particularmente virulenta quando proveniente da classe política.
É suposto que os eleitos sejam, eles próprios, sobretudo eles próprios, pessoas de bem, idóneas, probas; diria 'imaculadas'. Deviam ser e ser vistas como exemplos de inquestionável conduta moral, pessoal e social. Deveriam ser o que nos grandes palcos altissonantemente apregoam pois isso dar-lhes-ia uma aura de inatacabilidade e creditícia que levaria a que os cidadãos acatassem com réplica colaborante as suas opiniões e conduziriam assim sob esse lastro mais almofadado, o timing e a eficácia dos destinos das sociedades, tal como o bom e sábio pastor encaminha seu rebanho para pastos mais fartos.

Sabemos, desde que o ser humano começou a ficar gregário, que tem de haver alguém, eleito ou não, que o organize e o faça funcionar em grupo, isto é, com regras. Pior que tudo são os anárquicos ou os inorgânicos que, acéfalos, tresmalham-se com mais facilidade.
Qualquer que seja a forma de organização, desde a ditatorial - mais à esquerda ou mais à direita - passando por todas as outras, e incluindo a democrática, em todas elas, esta questão da corrupção é transversal, sendo que, na democrática por ser a mais escrutinada popularmente é a menos gravosa e a que menos perdura.
A sua existência e persistência em todos os modelos foi, é e será sempre abjeta e nefanda. 
Causa-me revolta visceral, todos os casos conhecidos e tenho para aqueles que a praticam o mesmo sentimento: de repúdio total, no mínimo, e isto para me abster da escolha de qualificativos que, se usados, seriam os mais populares; os de rua mesmo.

E chegamos a José Sócrates!
Nota prévia:
Fui seu entusiasta, quase indefectível defensor, enquanto primeiro-ministro. Tinha qualidades raras indispensáveis à função.
Lutou tenazmente contra poderes e privilégios instalados e tentou equalizar um pouco mais a sociedade portuguesa. Criou com este seu denodo inimigos poderosos, alguns ferozes e de vingança retardada. Os rastilhos outrora ateados parecem estar a detonar agora bombas por todo o lado...
Essa sua postura era para mim virtuosa.
Cometeu erros? Concerteza e alguns sérios.

Não sei o que lhe irá acontecer judicialmente. Uma afirmação categórica pronuncio desde já: se é culpado - corrupto - que seja severamente castigado. Se possível mais que os outros mais 'normais'. Obviamente libertado se for essa a justiça a aplicar.
Não aceito, não pactuo com gente - seja ela quem for, incluindo José Sócrates - que, a coberto de um pelo alvo de cordeiro, usem as cadeiras públicas para o enriquecimento pessoal.
Abominável simplesmente.
Tinha satisfação que, se culpado, fosse severa e exemplarmente castigado.
'No mercy', era o título do filme...

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Um ano, um mês, um dia memoráveis: 18nov2014 - Mãe fez 100 Anos!


...umas palavras dos Filhos.
1. De entre os vários espaços que pensamos para este evento, este foi sempre o preferido e, graças à generosidade da Madre Superiora e da Irmã Isabel, isso foi felizmente possível.
A esta Casa e a ambas o nosso obrigado.
Foi aqui que a nossa mãe trabalhou durante largos anos, sendo aqui muito considerada e recordada como trabalhadora incansável e exemplar, facto recordado e testemunhado ainda há dias por algumas irmãs desta casa, tendo aqui feito grandes amizades ainda hoje reconhecidas e com alegria lembradas.
Foi também aqui que há 20 anos festejou as suas bodas de ouro com o nosso saudoso pai.
2. Em nome dela e nosso, queremos dizer que estamos muito felizes por terem aceitado o convite e por terem destinado esta tarde das vossas vidas ao fortalecimento da união das Famílias da Quelha e da Veiga. Ao chegarem mais logo a vossas casas deem da parte da nossa mãe e de todos nós abraços e carinhos aos que lá ficaram e a certeza de que os temos sempre no coração.
3.100 Anos é um objetivo raro de se atingir e estas duas Famílias foram contempladas, que se saiba pela primeira vez, com esta maravilhosa e bonita idade de um dos seus elementos ao conseguir este invejável feito. Estamos todos felizes e de parabéns. O acontecimento é grandioso e digno de ser recordado e quisemos isso mesmo: torná-lo memorável estendendo-o, por vosso intermédio, a ambas as famílias. Quisemos que fosse uma festa familiar, simples e privada, para dar mais espaço ao fluir dos sentimentos familiares que nos unem.
4. Mãe, foste ao  longo da tua vida um exemplo de Mãe, de Mulher e de Companheira. Fizeste ao longo da tua vida uma família feliz. Queremos aproveitar este dia para te agradecer tudo o que fizeste por nós e dizer-te quanto te amamos. Obrigados por teres estado sempre ao nosso lado. Somos uns privilegiados em ser teus filhos. Recebe agora de volta um pouquinho do imenso amor que ao longo destes 100 anos graciosamente nos des-te e queremos que continues connosco pois a tua presença é insubstituível.
A ela e a todos vocês, o nosso obrigado,
Francisco - Emilia - António – José - Fernando

...umas palavras dos Netos.

À Nossa Avó Ana…
O  teu sorriso marcado pelos 100anos,
é o testemunho que o tempo por ti passou,
o teu olhar sereno e a paz nos teus desenganos,
é a sabedoria que a vida te ensinou!

É tão fácil gostar de ti, avó! Tão fácil admirar-te…

Os teus 100 anos, levam-nos ao passado, às histórias que ouvíamos sobre ti, às doces lembranças que temos tuas e que fizeram a tua história…
 A história da Ana da Quelha, a Ana da Garceira, de Atães, da Boucelha, do Viso e a Ana de Gondomar…

A Quelha foi o teu berço duro, onde nasceste e te fizeste mulher…
Na Garceira encontraste o amor. Casaste com o nosso avô, o teu companheiro de 65 anos.
Em Atães, as agruras da vida no campo, mas que com amor foram lapidadas pelos teus frutos. Foste mãe e foi lá onde nasceram os nossos pais.
Na Boucelha, foi posta à prova a tua resistência. Carregaste cântaros e fardos na cabeça, estrada acima, estrada a baixo até Celorico. Kms que percorreste a pé, ás vezes a troco de 10 mil réis. E com sabedoria, dor e fé de mãe, separaste-te dos teus filhos ao entregá-los ao saber, para um dia serem alguém…
Na Cidade, já no Viso, com 55 anos feitos, foi o começar juntos e de novo. Ganhavas o pão no trabalho do campo, tinhas uma vaca, vendias o leite e encaminhaste para a vida os nossos pais.
Aqui, em Gondomar, o que sempre sonhaste… a casa da tua vida, o teu primeiro emprego! Os teus frutos deram frutos e aqui estamos nós, os teus 8 netos! Sempre nos trataste por igual. Aos oito abriste o teu coração e contigo aprendemos que nunca deveremos desistir, porque o caminho é feito de dificuldades.
Lembramo-nos de ti à janela no 1º andar, sempre à nossa espera; e, sem darmos conta, já estavas no rés-do-chão com o portão aberto. Nunca houve um dia em que não víssemos o teu sorriso e nos recebesses com aquele abraço e nos chamasses de ‘’meu filho’’.
Lembramo-nos das tuas merendas… que boas que eram, a broa e os bolinhos de bacalhau são inesquecíveis!
Inesquecíveis também, eram os aniversários e as festas; a nota dobrada que nos metias na mão e às escondidas.
Lembramo-nos do Natal… a tua casa cheia. O enorme relógio na parede da sala, parecia que parava nessa noite, tal era a ansiedade que sentíamos em ver o Pai Natal descer pela chaminé!
Virávamos-te a casa do avesso… ..mas era mágico o Natal em tua casa!
Avó Ana, para ti, em 1º lugar e sempre, estavam os outros.
Mas primeiro, e ainda antes dos outros, estavam os teus filhos, os teus netos, os teus bisnetos e o teu Avelino.
Depois sim, vinha o trabalho. Foi uma vida de sacrifício e sofrimento, mas com muito e muito amor.

Avó Ana, alguém disse que “a simplicidade é o último degrau da sabedoria”. Tu, és a mulher mais pura e simples que conhecemos neste mundo. Foi esta honestidade e simplicidade, que de uma forma tão própria tua e tão natural, nos transmitiste.
Este são os valores mais sagrados que queremos preservar e é a maior herança que nos podes deixar.

Avó Ana,
Foste a escolhida para nós,
E colhida por nós.

É tão fácil gostar de ti, avó!

Obrigada por tudo e por hoje estares aqui!

Os teus 8 netos – 18-11-2014

... umas palavras dos Bisnetos.

Bisavó Ana, que bonita que hoje estás e tão vaidosa estou por te ter aqui…
Pediram-me para escrever um pequeno texto sobre ser bisneta da grande senhora, que és... 
Fixei o lápis e a folha branca e tanto que tinha para dizer. O lápis, esse, olhava-me intrigado e amedrontado com a responsabilidade e o medo de não estar à altura do desafio… 
 - É apenas um lápis, é igual a todos os lápis que vi na minha vida! Porque é que um lápis me olha assim?
E a resposta encontrei-a em ti, minha bisavó!
- Tudo depende da maneira como olhamos as coisas, e com a tua maneira de olhar para as coisas foi assim que construíste o teu castelo, com as pedras que guardaste pelo teu caminho.
Hoje estamos todos por ti, aqui reunidos, porque foi assim que traçaste, tal como o meu lápis traça estas palavras. Tu que nasceste na guerra, e não tiveste medo! Pensar nisso, fez-me perder este medo e comecei a escrever.

Há cinco qualidades que fizeram de ti uma pessoa em paz com o mundo. 
- a tua primeira qualidade foi os teus grandes feitos de 1 século, sem nunca te esqueceres que existia uma mão que guiava os teus passos. Esta mão, que podemos chamar de Deus, conduziu-te em direção à sua vontade. Tu, querida bisavó, com a tua fé e oração, caminhaste sempre de mãos dadas com Ele! Contigo aprendi a ter fé.

- a tua segunda qualidade é, de vez em quando, precisaste de parar, tal como o meu lápis que pára o que está a escrever, e tem que ser afiado. Isso faz com que o lápis sofra um pouco e fez também que sofresses um pouco com cada paragem. Mas, no final, ele estará mais afiado, tal como tu! Portanto, soubeste suportar algumas dores, e assim aprendi que foram essas dores que fizeram de ti uma pessoa melhor. 

- a tua terceira qualidade é, tal como o lápis é companheiro da borracha para apagar o que está errado, tu também tiveste muito para apagar! Apagaste o que não estava certo, e seguiste em frente e hoje estás aqui… Aprendi com isso que afinal corrigir uma coisa não é necessariamente algo mau... 

- a tua quarta qualidade é, tal como no lápis, que o que realmente importa não é a madeira ou a sua forma exterior, mas o grafite que está dentro. És velhinha, guardas no olhar e na pele as marcas de toda uma vida, nas mãos o trabalho duro e o sacrifício. Mas sempre cuidaste do teu interior, cultivaste amor, semeaste a paz e lutaste pela união da família. Aprendi que o mais importante é o que não é visível aos nossos olhos…

- a tua quinta qualidade é, o lápis sempre deixa uma marca... como tu bisavó, marcaste-nos para sempre! Tudo o que fizeste na vida, irá deixar traços... Por isso, com a consciência de cada ação, fizeste com que todos os teus desenhos fossem lindos! 

Com o meu lápis que no início me olhava intrigado, agora no final aprendi que a minha vida é uma linha feita com um traço em que a ponta final és tu, bisavó!
E que a ponta do início é a minha ponta, a ponta da minha irmã e de todos os teus bisnetos…
Nós, bisnetos, temos que correr para pegá-la
Soltando a imaginação e os nossos medos
E um dia, tal como tu, vamos alcançá-la!

Para concluir o meu texto, achei que ficava bem o teu retrato e desenhei-te com o meu lápis.

És a estrela mais bonita, que eu já vi, bisavó!


sábado, 22 de novembro de 2014

... em nome de minha Mãe: 100 Anos (2)

Olá, a toda a Família da Quelha (FdQ) e Família da Veiga (FdV).

Como podem ver pela foto ­- a foto não mente -, acabei de fazer 100 Anos e digo-vos que estou muito contente por cá ter chegado e poder festejá-los.
Não sei se já está na altura de fazer um balanço mas, até agora, gostei de percorrer os 36.500 dias com que fui agraciada pela natureza. Aproveitei-os a todos, um a um. 
Tenho tido uma vida bonita e feliz.

Meus filhos, netos e bisnetos estão aqui comigo e isso me basta: tê-los à minha volta é a minha maior alegria. Fizeram-me uma festa muito bonita, de que muito gostei, e espero que se repita.

Gostei muito que tivessem aceitado o convite pois rever alguns de vocês foi um lindo brinde surpresa que não pensava mais vir a ser possível. Juntarei vossos rostos e vossos mimos às minhas recordações diárias.

A eles e a vocês – a toda a FdQ e FdV – tenho no coração. São vocês todos que preenchem e aquecem os espaços vazios do meu dia-a-dia. Felizmente são muitos e tenho portanto em quem pensar sem me repetir muito, mas às vezes, confesso, tenho de fazer ‘zapping’para os poder ver a todos. É que passar por mais de 300 pessoas, e ainda por cima maravilhosas, todos os dias, demora algum tempo e posso não o ter disponível…

Não vou alongar-me pois não quero que despendam mais tempo comigo mas antes que o dediquem à vossa família, essa sim, é importante e vale a pena.

Espero continuar a vê-los por aqui no FB. Quando não puderem de outra maneira, falem aqui uns com os outros e gostem-se.

Aproveitem e festejem a vida porque é muito bom viver.

Obrigada por me ouvirem.

Lembro hoje, aqui e agora, meus saudosos pais, Francisco e Antónia da Conceição, meus queridos e amigos irmãos e cunhados e seus filhos, netos e bisnetos: os do Manuel, do Inácio, do António, do José, da Maria, do Gervásio, da Rosa, da Teresa e da Amélia. Não sei se a ordem é bem esta, mas olhem, esta minha cabeça já não é o que era… 
Lembro ainda meu saudoso e bom marido, Avelino, meus amados filhos, meus lindos netos e adorados e traquinas bisnetos.

Para eles e para todos vocês vão os meus desejos de muita saúde, paz e alegria.

Beijo-vos a todos com amor e alegria,

Ana dos Prazeres Carvalho

terça-feira, 7 de outubro de 2014

... escrever um Livro!

"Ter um filho, plantar uma árvore, escrever um livro"!

Há muitos anos que tropeçava nesta expressão: 'ter um filho, plantar uma árvore, escrever um livro'. Quando a ouvia de alguém passava-me pela mente o exagero, o pretensiosismo, o despropósito seguidos de algum desdém e desrespeito por quem a emitia, mesmo se convictamente. Definitivamente não a levava a sério; até risível e desprezível conseguia pensar do que então ouvia.
O certo porém é que no acontecer normal da vida o filho, no caso a filha, apareceu. Em boa hora, diga-se.
Mais tarde, também, fruto um pouco do acaso, a árvore, aliás várias, foi plantada.

O livro, faltava o livro.

Decorreram alguns anos e a carga negativa da expressão foi diminuindo de intensidade. Com o tempo, o 'risível' foi-se paulatinamente esbatendo e passou para a zona mais adormecida do cérebro.

Entretanto a vida continuava seu curso.

Outrora fui um leitor não direi compulsivo mas bastante amigo dos livros. Conservei sempre essa proximidade embora com distâncias irregulares. A leitura, a par de outras, sempre foi uma enorme porta aberta para o mundo, para novas descobertas e para o conhecimento, no seu sentido mais lato.

Fiz todavia um interregno da leitura mais assídua dos livros, para acompanhar com mais detalhe outra porta de entrada de informação e novidades: os jornais, a televisão e mais recentemente a internet. Na internet, a sua fonte inesgotável de informação levou-me, (e continua a levar) à subscrição de inúmeras Newsletter noticiosas oriundas de muitos quadrantes e dos vários cantos do mundo. E aí sim, esse acesso fácil e instantâneo a todas as notícias, traduziu-se efetivamente num salto gigantesco a tudo e em toda a parte do globo.

Foi já em 2010 quando mudei da casa, que me desfiz de uma boa parte dos livros que cuidadosamente conservava e isto pela simples razão de que não havia espaço disponível para os acomodar convenientemente na nova residência. Doei-os então a uma junta de freguesia das redondezas. Fiquei apenas com uma coleção de reserva (talvez uns 200) que, por ser coleção e serem todos do mesmo tamanho e com o formato de 'pocket book', facilitou e muito a sua arrumação e conservação.

Já na nova residência e tendo de deslocar-me todos os dias para o emprego, de Metro, em que despendia uma hora por dia (meia, mais meia), começou o tédio a acumular e a distorcer o lado lúdico da viagem. Olhar todos os dias as mesmas sonolentas e silenciosas pessoas ou escutar o som eletrónico, desumanizado, metálico, impessoal, frio, ensurcedor e rotineiro da menina do Metro ('Matosinhos Sul'; 'Matosinhos Sul' - 'Sentido, direction, Senhor de Matosinhos'), estava a destabilizar-me um pouco. O reservatório da tolerância estava a encher aceleradamente.
Que fazer?
Como resolver a questão?
Sem muita convicção ou mesmo vontade fui à estante e apanhei 'Cartas de Guerra' de António Lobo Antunes.
Além de me deparar com uma escrita fácil, o tema do livro era-me familiar: a guerra colonial portuguesa.
A leitura do livro reacendeu em mim recordações vívidas dos dois anos que por lá passei. Entusiasmado pelo fervilhar das recordações, alinhavei algumas perspetivas e vivências pessoais sobre o tema e coloquei-as lá, no próprio livro, e posteriormente neste Blog.
A seguir a este, outros livros foram aparecendo (recorrendo também aos da minha filha/genro) e durante as leituras a vontade de me pronunciar sobre os temas neles tratados ou sobre outros que eles me inspiravam, foi-se impondo naturalmente.
E aí nasceu o gosto de escrevinhar.
Já tinha experimentado textos e temas livres que inopitamente me iam surgindo ou a vida suscitava, mas as leituras de livros provocavam-me e convocavam-me quase irresistivelmente.

O Blog foi a solução encontrada, mais amigável, para a execução deste impulso.

Encontrar a fórmula, o formato e o estilo da escrita passou por um processo de aprendizagem e experimentação que levou algum tempo a definir-se até ao ponto em que comecei a sentir-me confortável e confiante com o resultado.

O processo criativo e a arrumação das ideias não sendo fácil e muito menos automático é todavia, para além de exigente, estimulante e até, por vezes, inebriante. Requer inclusive algumas cautelas para a salvaguarda do excessivo ou do deslumbramento torpe.

Não foi fácil ou pacífica a sua exposição na 'net'. Durante bastante tempo não tive a coragem suficiente para isso. Foi necessário vencer algumas enraizadas resistências interiores.
Passado algum tempo, anos, verifiquei não ser especialmente importante a sua exposição ao grande público internetiano. Estimulante, sim, começou a ser o prazer sentido na sua criação. Mais relevante que o número de leitores, quem lê, ou o que pensarão sobre o que eventualmente leiam, é ver expressas em forma de letra, o que este ou aquele tema me inspira ou sobre outros me apraz pronunciar. O que cada um pensa pertence ao seu direito individual e intocável e não me apoquenta mais. Assim como me sinto livre para pensar e escrevinhar, assim todos os outros o sentirão (ou não) também; mas isso pertence ao foro íntimo de cada um e a ninguém é dado o direito de o retirar.

Passei com alguma facilidade para o comentário / opinião político e social, com bastante naturalidade e apetência. Comecei também a incluir um ou outro pedaço de vida pessoal não só em texto próprio como inserto noutras crónicas, adicionando evidências pessoais como complementos à minha opinião ou ao tema em tratamento.

Estou numa fase de maior confiança em que transponho para aqui o que em cada momento me ocorre e sobre o qual acho oportuno dizer algo. As barreiras estão bastante mais reduzidas e salto-as com algum à-vontade.

Tem sido uma experiência bem interessante, com motivações e conclusões inesperadas.

Funciona muitas vezes como catarse para temas que pontualmente ou sempre me acompanharam mas que ao passá-los para aqui provocam um alívio apaziguador. Até parece que, ao alijar essa 'carga', fico mais leve, mais em paz comigo mesmo ou, porque não, como que me desfaço dela entregando-a a alguém.

Obviamente que ao pensar-se num tema e por uma questão de lealdade e honestidade tenta-se ser o mais verdadeiro possível. Não se devendo lealdade a terceiros fica apenas a verticalidade pessoal em causa e aí, pode-se não se ser verdadeiro - embora se tente (errare humanum esd) -, mas o que se escreve é honesto e sincero.
Também é verdade que, não raras vezes, se escreve pensando na pessoa A ou pessoa B, funcionando um pouco ao contrário de quando nos posicionamos como leitores ao sentirmo-nos incluídos neste ou naquele parágrafo de um qualquer texto.
Por outro lado, ao longo da vida, o nosso depósito de conhecimentos, experiências, vivências e emoções, tendem a enchê-lo até ao vazamento, e dá vontade a certa altura que esta emulsão laboratorial veja a luz do dia. Quanto mais não seja para memória futura.

Tenho notado que fico refém do que escrevinho, isto é, á medida que aqueles temas evoluem ou vão sendo repassados no tempo, vão sendo sempre testados e validados no dia-a-dia; se continuam a fazer sentido. Logo, o mais seguro é estar-se bastante certo com o que se escreve. 
Obviamente que o discurso oral alicerça-se muito no que já foi ali pensado e escrito, sendo que o contrário também é verdadeiro. Quantas vezes uma conversa solta, um pensamento, uma frase aparecidos do nada, vão servir de mote para o tema que mais tarde se desenvolverá.
Obviamente, também, não reescrevinho nada. O que foi escrito, assim fica.

Irei continuar a escrevinhar assim me acompanhe o gosto, alguma inspiração, algum engenho e alguma arte.

Voltando ao início deste apontamento, dou por ultrapassadas as dúvidas e demais questões referidas e, digo mais, aconselho vivamente a qualquer um a simples tentativa ainda que em regime experimental. Estou certo que concluirão o mesmo que eu: vale bem a pena.

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Roménia e Bulgária, com a PLV

04 a 13 de Agosto '2014

I)
Antes da viagem

Mais uma vez, como é meu hábito, não preparei esta viagem. A preguiça, por um lado, e o gosto do fator surpresa, por outro, continuam a marcar pontos. A opção por estes dois países insere-se na vontade de observar in loco a 'diferença' e conhecer novos mundos e novas gentes e as suas histórias. Dos chamados países de leste, conheço apenas a Rússia, mais concretamente São Petersburgo, Moscovo e arredores; ou seja conheci a cabeça do Império Ksarino e Comunista, mas não ainda nenhum dos países seus satélites. Exceção para a República Checa e Eslováquia, em 1989.

Limitei-me a consultar os Pibs Per Capita / ano de ambos
[Roménia: 8.000 USD e Bulgária: 5.000 USD (Portugal: 20.000, Botswana: 16.000, Alemanha: 40.000, Sri Lanka: 1.000) e a suas populações e áreas, 23.000.000 / 240.000 km2, para a Roménia e 7.000.000 / 110.000 Km2, para a Bulgária],
e recordar o que a história guardou de cada um deles.

Se da Roménia detenho pouca informação, da Bulgária bastante menos. Da Roménia, recordo a sua inclusão e a consequente subordinação ao Império Otomano (até 1879) e ao Austro-húngaro até finais da primeira guerra (1918), o seu envolvimento nas duas guerras mundiais e principalmente da era de dependência comunista terminada apenas em 1989. A sua história foi pródiga, 'colorida' e terrível durante os duros e pobres anos da governação do ditador comunista, cruel e sanguinário Nicolae Ceauşescu. A vida sumptuosa que levou contrastou com a da sua gente, a todos os títulos miserável, de alguma indigência mesmo. Exceção, naturalmente e sempre, para a entourage que o sustentou durante todo esse tempo.
Hoje, desde 2007, está na U. E. e tenta soerguer-se nomeadamente através do financiamento dos fundos comunitários. Por motivos políticos e sociais mas também financeiros, estão neste momento a alienar o abastado património de Nicolae Ceauşescu. Infelizmente, digo eu. Em alturas de muito aperto vence sempre a tese do 'vão-se os anéis mas fiquem-se os dedos'. Mate-se a fome às pessoas em primeiro lugar. Mas é pena que assim tenha de ser. Espero que os seus dirigentes estejam a fazer a coisa certa e inevitável. E digo que é pena pois este espólio poderia ser um bom atrativo e ativo a explorar em particular para o setor turístico. Oxalá consigam conservar, pelo menos parte, para esse fim.

Durante alguns anos mantive alguma 'proximidade' profissional com o país em resultado do Banco Millennium, que o Millenniumbcp, Portugal, lá teve e que acabou de vender. Mantive contactos funcionais diários com esses colegas de profissão mas daí, desses contatos, não resultou especial conhecimento do país ou das suas gentes. Apenas espicaçou a curiosidade e interesse. Vou ver, pois, agora, o que consigo captar.
As minhas expectativas são baixas, bastantes baixas. Estou à espera de um país em progressão, pobre, desorganizado e com a ainda era monumental comunista a dominar.
Levo uma antiga curiosidade que é a de ver como se insere a comunidade cigana - 2.000.000 - no todo nacional.
Uma nota a propósito dos ciganos: nunca nutri simpatia por eles nem pelas suas opções de vida errante, nómada e anti comunitária de que se orgulham. Gostam de viver fora do sistema, e usufruir dos seus benefícios mas não contribuir para a sua manutenção. Ou seja só querem a parte boa.

II)
Depois da viagem.

i)
Roménia: um país em desenvolvimento e desconcertante.
Ao longo dos 1.000 Kms percorridos, das 14 cidades visitadas e de 10 dias em excursão guiada, uma pergunta diariamente esquadrinhava em todos os cantos e recantos: como traduzir numa palavra ou expressão curta a impressão da visita turística a este país?
Tive de socorrer-me de duas: em desenvolvimento, numa visão benévola e desconcertante, numa perspetiva impressionista.
Conhecemos o seu percurso histórico e conhecemos também as vicissitudes e os entraves com que essa mesma história complicou a sua independência. Foi, como sabemos, pertença de alguém por tempo excessivo. Quando parecia, finalmente, ter chegado a sua hora, caiu-lhe violentamente o comunismo em cima submergindo-se por mais um longo período.
A seguir ao fim do comunismo, 1989, as naturais convulsões sociais originadas pela experimentação da liberdade, perturbaram a reorganização da sociedade. Apenas em 2007 com a adesão à UE e por necessidade imperiosa de acesso aos fundos comunitários para o financiamento da economia, começaram a aceitar a nova tutela e as suas regras. Com o dinheiro a entrar as tensões sociais acalmaram.
Porém, os anos de estagnação comunista deixaram marcas de monta por todo o lado.
O país está compartimentado, coexistindo e convergindo em, pelo menos, 4 componentes:
Uma palaciana do tempo dos impérios e da curta monarquia;
uma segunda de influência comunista cuja parte mais visível são os prédios de habitação populares e os megalómanos dos membros do politburo e os dos seus suportes, sobretudo em Bucareste;
uma terceira fortemente agrícola e
uma quarta filha já dos dinheiros da UE, em construção. 
Cada uma delas é perfeitamente visível nos respetivos lugares. Destaco porém a agrícola e a megalómana construção comunista. 
Ao percorrer o país, para além da imensa e dominante paisagem verde que nos é oferecida pelo cultivo dos campos e pelas serranias dos Cárpatos - o lado bucólico é muito matizado e francamente cativante -, ficamos apreensivos senão mesmo chocados com o estado depauperado das casas das pessoas. A sua deficiente manutenção influencia pesada e negativamente a impressão que deixam. Obviamente que se estão assim é em resultado de todo um passado de uma economia coletivizante e instável com raízes nos anos do comunismo (1947/1989). A coloração, repetidamente acastanhada, dos telhados feitos de chapa em estado avançado de ferrugem, envelhecem o país e dão dele uma imagem de algum abandono e triste, mas que cola com a realidade.
A URSS aproveitou-se da Roménia para dela explorar a produção de cereais - o seu principal celeiro abastecedor - não cuidando de estruturar o setor (típico de país explorador).
Não se vislumbra com clareza o impacto dos dinheiros recentes chegados da UE. Não acompanhei as negociações e desconheço o quadro com que a sobrevivência da agricultura foi salvaguardada, se o foi. Desejo apenas que o tenha sido por ter ficado com a ideia de que o país tem enormes potencialidades agrícolas e que seria um erro para o país e para a própria UE se deliberadamente as ignorassem. Diria até que seria um crime de lesa humanidade se não se aproveitasse este enorme recurso natural. Oxalá que o seu estado atual, similar ao português dos anos 80 do século XX, se converta rapidamente e incorpore as novas tecnologias, posicionando-se assim como player importante no mercado mundial como grande produtor de bens primários.

Perguntado agora, passado já algum tempo sobre o fim da viagem em que, por isso, alguma poeira daninha já se foi, sobre o que mais facilmente retenho da Roménia, a minha resposta começa a ficar clara: a agricultura, por estar presente e dominante a cada canto (e por definir o tipo de vida de uma quantidade significativa de pessoas), e a construção megalómana de Nicolae Ceauşescu.
Ao percorrer o país vamos construindo dele um quadro monocórdico, estagnado e sombrio, porém, ao chegarmos à capital somos surpreendidos por uma espécie de oásis formado pelas construções populares, pelas dos elementos do politburo e afins e principalmente pelo edifício onde funciona o atual parlamento (e não só).
Não vou aqui replicar a sua história ou detalhar a sua construção e constituição pois tudo isso está abundantemente documentado e espalhado pela internet. Direi apenas que, quer de longe quer de perto e por dentro, impressiona!
Impressiona a sua excessiva volumetria!
(Com 350.000 m² é o maior palácio do mundo e o segundo maior edifício, após o Pentágono)
Impressiona a conceção e execução arquitetónicas!
Impressiona a seleção e riqueza dos materiais utilizados!
Impressiona toda a sua sumptuosidade!
Impressiona o cuidado e requintes dos acabamentos!
Impressiona a fácil circularidade pelo seu interior!
Impressiona o prazer que empresta e com que deslumbra o visitante!
Impressiona como é que foi possível um país pobre, com qualidade de vida indigente, ter sido e durante tanto tempo, governado por um ditador desqualificado e ter permitido a construção de uma obra desta envergadura apenas para exibição e gáudio do seu mentor!
Impressiona!

http://pt.wikipedia.org/wiki/Pal%C3%A1cio_do_Parlamento )

Algumas notas avulsas:

Turismo
Visivelmente num crescendo. O trabalho de campo já foi feito e eleitos os principais ícones que alimentarão o setor. Lembro o Castelo de Bran (de Drácula) em Brasov, as montanhas dos Cárpatos, o Delta do Danúbio (património da Unesco), o centro histórico de Sighisoara, (património da Unesco), Mar Negro, os Mosteiros pintados, o Palácio da Caixa Económica, Sinaia (Castelo Peles), Bucareste.

Rede viária
Em pré-início de construção. Não há ainda autoestradas.

Paisagem natural
Composta por um mix alternado entre a planície e o planalto povoados e alegrados pelo pastoreio (muito diferentes das paisagens da Grã-Bretanha onde predomina a monótona e cansável verdura e os tão falados carneiros);
o serrano e a floresta negra, mais parecendo esta um prolongamento da Alemã.

Conde Drácula
O Castelo de Bran (1212), casa de Vlad III, mais conhecido entre nós como o Castelo de Drácula - uma não história ou história virtual (de literatura) - projeta e promove o país além-fronteiras; por ventura o seu maior e mais famoso ex-libris internacional. O Conde Drácula está para a Roménia como o vinho do Porto para Portugal.
Não deixa de ser notável a força e a dimensão que este fenómeno literário alcançou em todo o mundo.
Verifiquei com ingénuo espanto que o país não aproveita capazmente esta publicidade já consagrada para se promover no exterior. Achando estranho, fui investigar. Do que me foi dito, fiquei com a ideia de que os romenos não apreciam particularmente a recreação literária preferindo a verdadeira (já em fase de lenda); dessa, sim, gostam por Vlad III, o Empalador, ser seu herói na conquista secular pela independência do país.

Nicolae Ceauşescu / Helena Ceauşescu
Sente-se uma animosidade latente e uma sensibilidade especial do país em geral perante estes dois personagens. Regista-se como maturidade democrática o normal acolhimento que é dado há ainda existência de Valentin Ceauşescu, um dos 3 filhos do casal. Vive sua vida de normal cidadão e não é incomodado pelo fato de não ter aderido às loucuras dos pais ou dos dois outros irmãos, os primeiros mortos após julgamento sumário e os segundos já desaparecidos, vítimas dos seus públicos vícios: cirrose e cancro pulmão.
Se é verdade que os Ceauşescus continuam a ser uma referência inesquecível, inultrapassável  e a abater e por razões  justificadas - com as quais concordo por inteiro -, também é verdade que serve outros propósitos. Os políticos de hoje e dos próximos anos precisam dessas bandeiras que utilizam como cortinas para ofuscar este ou aquele ato de gestão política mais difícil de fazer passar na opinião pública.
Alexandru Vișinescu, antigo comandante de um campo de trabalhos forçados, começou agora a ser julgado em Bucareste, por exemplo. Manter viva e atiçada ocasionalmente esta chama revolucionária é útil e com sucesso garantido. É um dos truques bem conhecido a que assistimos noutras geografias, em muitas mesmo, apenas com outras bandeiras: Angola usa (e abusa) da dos ex-colonizadores, nós os portugueses; Maduro, na Venezuela, usa Chaves; Cuba e Coreia do Norte, a América e o Ocidente em geral; alguns países árabes, o islão, etc.
Há poucas semanas circulou no ocidente a notícia, - que lá não me confirmaram, pelo contrário, negaram - de que estariam a vender o ouro dos Ceauşescus. Interpreto a notícia, ou melhor não notícia, como intencional e enquadrada na exploração do fenómeno Ceauşescu.

Ciganos
Mantendo o que disse no último parágrafo do ponto I), acrescento agora alguns detalhes.
Sabemos que a sua história, sua vida, sua procedência indiana e chegada à Europa no século XV, está envolta em incertezas a que a sua existência ágrafa muita contribui para alimentar especulações. O que se vai conhecendo é-nos transmitido por terceiros que, apesar de sérios, deixam, todavia, que a dúvida do seu verdadeiro estilo de vida e vida, permaneçam.
Posto isto, e voltando concretamente aos ciganos romenos, ficamos com a ideia de que, por razões atribuíveis a eles mesmo, estão acantonados, ou, melhor dito, distribuíram-se por áreas conhecidas e não propriamente segregados; que continuam a viver como sempre viveram: rejeitando a integração.
E isso tem consequências que se podem traduzir pela dificuldade que o país tem em lidar com o assunto. O país está na UE e esta, como grande centro difusor de influências, de cultura e de poder, não abdica de ver alinhados e normalizados procedimentos e até maneiras de estar em sociedade e de difundir uma certa ideia de cultura a que chamarei 'europeia ou ocidental'.
Se é verdade que no ocidente europeu se enraizou a ideia de 'personas non gratas' - e essa é também a minha -, tal se deve à sua postura isolacionista e fechada à sociedade. Corpos estranhos, por tendência, são naturalmente rejeitados.
Acabo este apontamento dizendo que poderia ser outro o seu comportamento e a perceção que deles se tem se a Roménia fosse um país próspero e rico. 'Casa onde não há pão ...'

Alimentação / Refeições
Estrategicamente a PLV programou praticamente todas as refeições em restaurantes de hotéis. Por norma esta opção ocorre em países onde o setor não responde aos níveis tidos como normais, estando em causa a qualidade da confeção culinária, o conforto dos espaços e a segurança higiénico-alimentar.
A opção confirmou-se correta. Mesmo servidos em hotéis a qualidade culinária era um pouco abaixo dos padrões europeus, incluindo a falta de diversidade (sobretudo frango e porco).
Não usam sopa! e em sua substituição servem salada de vegetais.
Não relevo as quantidades servidas pois para mim isso não é importante.
Acrescento, porém, que, sabemos, o resultado final também depende do que foi previamente comprado pelo agente de viagens, que, no caso da PLV, nos habituou a bons padrões. Ou seja, adianto que o que digo pode não corresponder exatamente à verdade.

ii)
Bulgária
Percorri apenas 300 km's mas deu para perceber o que será o país.
Tem semelhanças com a Roménia mas também tem marcas próprias e bem distintas. As casas sendo igualmente de construção frágil e de manutenção minguada, parecem-se bastante mais com as europeias, a começar pela cobertura: telhados como os nossos. Parece um pormenor sem grande importância mas o que é fato é que este visual os aproxima, desde logo, muito mais de nós, dos nossos usos e costumes.
Não fossem os grandes blocos habitacionais da era comunista que ainda dominam e toldam o horizonte (e em acelerada degradação), e até pareceria que não tinha sido um país comunista.

Alfabeto Búlgaro
O grupo económico a que aderiram em 2007, a UE, vai obrigar a grandes transformações e opções alinhados pelos centros de gravidade europeus. Os grandes atraem e sobrepõem-se aos mais pequenos obrigando mesmo à anulação de boa parte das suas culturas, mesmo as mais importantes como é o caso do alfabeto.
O melhor e maior exemplo disso será a adoção do alfabeto romano com a consequente descontinuação do original, o cirílico.

Mulheres búlgaras
As mulheres búlgaras são elegante e provocadoramente bonitas pelo menos as mais vistas no centro da capital. Não consegui captar e ninguém conseguiu explicar do porquê e a que grupos sociais pertenciam mas, adivinhando, quiçá filhas privilegiadas da corrupção que, dizem, ser enorme, endémica e sistémica. Mas por ora isso não é relevante. O que ficou foi sua elegância - são altas em geral - seu look europeu, seu porte altivo e sabem, nota-se, que são bonitas.

Grande Hotel de Sofia
Refiro este hotel por ter sido o melhor hotel onde estive até hoje. Um 5* construído no prolongamento de um outro do antigo do regime, de que manteve o nome, mas com dimensões, espaços interiores, composição e decoração dos quartos, bem fora e acima do normal. As suites são soberbas: vários compartimentos, vários WC's e decoração cuidada e requintada.

III)
Custa a perceber como é que nos dias de hoje ainda há partidos políticos que defendem aqueles extintos modelos de organização da sociedade. É que apenas aproveitam o grupo dirigente paralisando a necessária dinâmica da economia. Está mais que provado de que o grande motor da modernização e evolução das sociedades passa pela estabilidade do direito à propriedade privada e à livre iniciativa económica para se produzir riqueza. Ora, aquele sistema não admite nenhum deles e as consequências são paralisantes.

IV)
Observações finais
As diferenças entre estes dois países são facilmente notadas e na aparência contradizem os seus PIBs.
Na Roménia, apesar do PIB ser ligeiramente mais elevado, o país rural com os tetos das casas característicos, de cor da ferrugem, a que se somam a inexistência da indústria e a agricultura numa fase pré-industrial, sem autoestradas, dá uma monótona ideia de um país envelhecido e de inevitavelmente lenta, muito lenta, recuperação económica.
As urbes confinam-se a Bucareste e não se pode dizer que tenha um ambiente cosmopolita. A segunda cidade, Brasov, está a anos-luz da Capital. Shausesco concentrou estrategicamente os dinheiros disponíveis na capital.
O palácio do povo é um absurdo nacional. 3 Biliões de USD enterrados num único espaço em claro detrimento ou dispersão pelo todo nacional. É um oásis no todo romeno. Enquanto monumento é de fato um ex-libris extraordinário a vários títulos e muitas dimensões. Além de ser o segundo monumento maior do mundo, logo a seguir ao Pentágono, oferece-nos uma riqueza exuberante dotado de salas ricamente trabalhadas e de dimensões inimagináveis.
Mas tudo isso reduz o país.
Bulgária, apesar de mais pobre, dá a ideia de melhor distribuída. A era comunista, não fora as tristes construções dos edifícios perfeitamente datadas, seria de mais fácil e rápida transformação.

Acompanharemos o futuro de ambos desejando-lhes o melhor.