Encantado, é a palavra que escolho para reunir e definir o que observei durante uma curta visita de 10 dias à Alemanha.
Tinha um desejo grande de observar de perto, com os meus próprios olhos, tudo o que dela se diz e foi essa a primeira razão da preferência, de entre as diversas opções possíveis. Queria apreciar as várias dimensões de um país que é líder e está no topo mundial em muitos domínios.
E não fiquei desapontado: confirmo e concordo com muitas coisas que os media em geral têm veiculado. Junta-se com destaque aos países que conheço, mais homogéneo em mais áreas: social, territorial, infraestruturas, equipamentos base, monumentalidade ...
Talvez devesse esperar que o crivo do tempo tria-se as poeiras daninhas das primeiras impressões e esperar para ver o que os escaninhos da memória conservariam de mais importante.
Talvez um dia reedite este texto.
Percorri cerca de 2.500 km e visitei 14 cidades em excursão organizada e com guias locais em todas elas.
Bem sei que este tipo de visitas nos conduzem por um túnel turístico levando-nos assim aos High-Lights mais célebres, visitas previamente elaboradas e que se justificam porque são esses os sítios mais procurados pela grande maioria de visitantes. E é justamente esta massa crítica flutuante que acrescenta oportunidade a esses locais para se dotarem de meios, de ofertas de serviços mais qualificados, compatíveis e exigidos por essa migração ocasional.
Esforçar-me-ei por dar a compensação adequada de forma a melhor calibrar a opinião final.
Reconheço que me faltou mais contacto com as pessoas e isso pode fazer diferença. É certo porém que o que passa para a história é a vida e modo de vida dos grandes e poderosos; os pequenos, em todo o lado e lá também, são meios para os 'importantes' conseguirem seus objectivos.
Deles, dos pequenos, não reza a história.
Observei:
. um país pujante, respirando saúde económico-financeira por todos os poros;
. um povo pacato e acolhedor (contrariamente ao que por aí se houve), publicamente pouco exuberante;
. um povo ordeiro e com regras comummente aceites;
. uma cozinha rica, farta e variada (tive principalmente acesso à do tipo internacional);
. uma hotelaria com performance hoteleiras acima da média;
. uma monumentalidade - plena de história - grandiosa e grandiloquente, bem recuperada das duas guerras, principalmente da segunda;
. cidades pequenas, encantadoras e românticas;
. cidades grandes, limpas e funcionais;
. um país que impõe as suas regras e rigor no seu cumprimentou não só aos seus cidadãos como a quem os visita;
. um país em que os estrangeiros, temporários ou residentes, aceitam e se obrigam a cumprir as suas leis acolhendo-as pacificamente;
. um país onde já não é visível a diferença entre a RDA e a RFA;
. um país onde já não parece terem ocorrido duas grandes guerras mundiais num intervalo tão curto de somente 21 anos, das quais a segunda principalmente, deixou o país em ruínas;
. uma sociedade a caminho da plena integração (RDA/RFA);
. um país que não esquece a sua história dela deixando marcas importantes para os vindouros, apesar de não se orgulhar de algumas delas;
. que a visibilidade do estigma da 'raça ariana' estará extinta, mas percebe-se indelevelmente interiorizada nos comportamentos das pessoas e dos seus dirigentes;
. um país com gente alegre, feliz e orgulhosa mas não ostensiva;
Nota climatérica:
Tive a feliz sorte de ter estado sempre bom tempo - Agosto -, e com temperaturas acima dos vinte graus, e esse 'pequeno' pormenor condiciona positivamente todo o resto. Outra teria sido a minha opinião se a viagem tivesse ocorrido sob as vicissitudes de uns bem possíveis e desagradáveis 18 graus negativos.
Desde sempre a Alemanha desempenhou um papel relevante e determinante nos destinos do mundo, infelizmente as mais das vezes por más razões e com consequências a todos os níveis catastróficas (50M de mortos na 2ª guerra). Nos dias que correm continuam a ter um papel central no tabuleiro do xadrez geopolítico, geoestratégico e geoeconómico-financeiro mundiais. E é assim porque é um país grande, rico e consequentemente poderoso.
Os tempos da tomada do poder por via das armas, é hoje em dia inaplicável nos países democráticos do ocidente. E a Alemanha esqueceu(?) a época Hitleriana e conquistou esse poder pela via económica.
Nos anos idos e finais da era Salazar e mesmo após o 25 Abri'74, interessou-lhes o investimento em Portugal e para cá venderam tudo, desde teares para o sector têxtil, a toda a gama e marca de carros e maquinaria de última geração, até submarinos(!).
Armadilharam-nos o futuro com a concessão de crédito fácil para a sua aquisição.
... e nós, como inocentes cordeiros entrando na boca do lobo, compramos; e endividamo-nos.
Desenganem-se todos aqueles, portugueses incluídos, que pensam (alguns exigem!?) que a Alemanha de Angela Merkel, CDU, ou eventualmente de Peer Steinbrück, SPD, nos deveria ajudar solidária e graciosamente. Fá-lo-á sim, enquanto lucrar com isso; fá-lo-á sim, enquanto formos pedras úteis do seu xadrez.
Há cerca de um mês atrás os media fizeram contas e noticiavam que a Alemanha tinha ganho 41 MM Euros com a ajuda financeira prestada aos países que a pediram. No caso concreto de Portugal, dos 78MM pedidos, e da parte oriunda da União Europeia, a Alemanha contribuiu com os 20% da sua quota do PIB comunitário, a uma taxa média de 3,5%.
Por sua vez a Alemanha tem-se financiado nos mercados internacionais a taxas negativas (os receios gerados na comunidade europeia e não só, tem levado à compra da sua dívida, pagando para a conseguir, por lhe parecer segura).
Por outro lado, o dinheiro emprestado aos bancos, por exemplo, pelo governo português tem de ser devolvido nos prazos acordados a uma taxa de 8,5% Os Bancos por sua vez, têm de repercutir estes custos junto dos seus clientes.
É pois uma questão de fazer contas para se saber como funciona esta máquina trituradora e quem está a lucrar com quem! Quem está afinal a financiar a dominadora Alemanha!
Não podemos, todavia, alijar as nossas responsabilidades. O nosso mau voto e a má governance dos nossos políticos neles suportados, conduziram-nos ao ponto a que chegamos, praticamente a um beco sem saída. Portugal não está a gerar riqueza capaz de suportar este delay de taxas de juros.
Até onde e como vamos aguentar esta situação, é a questão.
Com o seu sentido pragmático e programação à distância, mantendo-se fiel ao rigor dos números, a Alemanha consegue fabricar massivamente produtos de alta qualidade - muitos deles únicos - e exportá-los para todo o mundo. Nessa senda, criaram clusters e conservaram monopólios dificilmente ultrapassáveis. Detentores de tecnologia de ponta e de capacidade produtiva, o mundo em geral em muito dela dependente, disputa sôfrego muitas das suas criações.
O que seria da Alemanha se não tivesse o seu calcanhar de Aquiles: a dependência energética!
Curiosidade ou talvez não:
Os Sindicatos em Portugal a partir de Abril'74, reivindicaram salário mínimo e aumentos salariais indexados à inflação, de preferência superiores à inflação; e os sucessivos e diferentes governos anuiram...
Na Alemanha não existe a figura de salário mínimo e os aumentos salariais são indexados à riqueza produzida, ao PIB.