quarta-feira, 16 de maio de 2012

José Saramago, Memorial do Convento e outros!

Os premiados Nobel são, praticamente todos, deusificados, entronizados e envoltos numa diáfana auréola de intocabilidade e incriticabilidade. Alguém arriscar comentá-los e menos ainda criticá-los, é uma ousadia pouco comum. É raro verem-se os naturais e habituais comentários, mesmo que bendizentes, na contra capa dos seus livros ou na imprensa em geral, regra também aplicável a JS.

Nota:
Relembro as polémicas posições públicas ou veladas que Cavaco Silva e Sousa Lara (representantes do coro de direita) tomaram ou omitiram sobre JS. Ainda hoje penso que tais posições ou omissões se devem tão só à tentativa do isolamento ou enfraquecimento políticos de JS (JS sempre foi assumidamente comunista) e não à avaliação literária dos seus livros, se é que alguma vez os leram. Desse lado nunca houve um reconhecimento público do escritor, apesar de Nobel.

Dito isto acrescento que, lendo-o, fica-se com a convição que o Nobel lhe foi bem entregue; muito merecidamente: é de fato um escritor original e assombroso.

Lê-lo, porém, nem sempre é fácil.
A originalidade usada na pontuação (não seguindo o método clássico), obriga o leitor a uma redobrada concentração para poder absorver e usufruir de todo o manancial de ideias e imagens que perpassam pelos seus diversificados temas. É como ouvir música clássica versus ligeira; a música clássica não admite distrações: temos de estar concentrados para a ouvir (contrariamente à ligeira que passa bem, servindo de fundo por exemplo a ambiente de trabalho).

Dizia noutro tempo Elton John que quando escrevia música preenchia todos os espaços disponíveis na pauta; gostava, acrescentava, de enriquecer os temas sempre mais e mais, acrescentando-lhes novos sons complementares. Esta ideia aplica-se bem a JS: tudo o que vem a propósito do assunto, é passado à escrita. As ‘pautas’ de JS ficam completamente cheias. As ambiências são inesperadas e agradavelmente exaustivas.

PS
No método clássico de pontuação, o leitor respira no mesmo ritmo do escritor, como que surfando a mesma onda. Aqui, com JS, cada qual – escritor e leitor - imprime seu próprio ritmo, havendo muitas vezes a necessidade do leitor emergir para retomar ou renovar a respiração. 





Sem comentários:

Enviar um comentário