segunda-feira, 30 de setembro de 2019

30 SET 2019 - Parabéns, Ritinha, minha neta linda.


Um dia na vida da abelhinha-obreira

Tardava!, finalmente às 13:05 o besouro fez-se ouvir em toda a colmeia obedecendo às ordens superiores da abelha-rainha. As obreiras, que se agitavam impacientes aguardando o sinal de partida, arrumam apressadamente os seus pertences, enceram uma última vez as asas, distendem as longas antenas, miram as patitas se estão apresentáveis, guardam o espelhinho secreto que de viés lhes confirma a elegância da silhueta, se não esquecem a sacola para recolha de mais néctares lá mais à frente. Rodam, então, o botão para outro on, e, confiantes, em enxame compacto, desabelham do conforto da colmeia da manhã esvoaçando esbaforidas para a próxima tarefa, sim, porque a jornada ainda vai a meio.

Cá fora o zangão perscruta por entre as demais um olhar meigo e doce saído de uns olhinhos límpidos tornados rapidamente brilhantes. Um smile cúmplice estabelece o contacto.
Satisfeitos com o reencontro, carrega o zangão, alegremente, a mochila com todos os pólens da colheita da manhã, enquanto conversa com a abelhinha-obreira sobre os pormenores do seu recheio.
As respostas gotejam-se em baixos e curtos zumbidos saídos já de outro plano de voo, e ambos iniciam nova rota com destino prometedor.

Já noutro cortiço, reconfortam-se com o doce mel que a abelha-mestra lhes preparou enquanto azoina com o zangão e, juntas, desafiam-no para brincadeiras por entre sorrisos marotos.
Ainda lambuzando os últimos pingos entremeados com atualizações on line - tentando assim perceber como vai o dia noutras colmeias -, prepara nova camuflagem com que enfrentará mais colheitas de bons pólens, não sem antes produzir alguma cera…

Estou pronta, zangão. -  chama já acelerada para mais uma etapa.

Em voo apressado, mas ainda com tempo de atualizar o diário com a Rainha-das-rainhas e Zangão-dos-zangões, segue para novo floral onde a esperam saborosos néctares, desaparecendo por entre a ramagem.

Enquanto isso, o zangão vela por perto aguardando o desfecho desta investida.

Decorrido um par de horas a abelhinha reaparece sorridente como se ainda manhã fosse, trazendo deste jardim bué de novidades para partilhar com as outras, desde logo com as da colmeia principal.

Porque este dia já está a querer despedir-se, tomam seu último voo ziguezagueando por entre todas aquelas que com o mesmo fim se deslocam para o aconchego noturno dos cortiços-sede, não desperdiçando um derradeiro néctar que sabe existir no favo da abelha-mestra.

São horas de regressar ao cortiço onde repousará deste belo dia. Aí chegada, abraça as abelhas já presentes, acompanhado do relatório detalhado do desgastante dia. Dirige-se então para o seu casulo despedindo-se com um confiante e curto ‘até amanhã, zangão’.

11 Anos
30/09/2019
Parabéns, Rita, minha neta linda.
Teu avô que te adora.

terça-feira, 3 de setembro de 2019

“Olha a bela sardinha vivinha”, Ó freguês



“Olha a bela sardinha vivinha”, Ó freguês.
         - ecoava o pregão pelas redondezas!

De tão alegre e convidativa, a pregoeira leva atrás de si de imediato todos os glutões que logo logo ajustam seus afazeres e respondem com um siiiiim entusiasmado: vamos a elas.

Cedo começa a vislumbrar-se o carvão a crepitar e a estrelejar no fogareiro anunciando como foguetes festivos que o dia 31 se aproximava.
O cheirinho da sardinha na brasa não se fez esperar: subia, subia, subia. O ar enchia-se dos seus bons odores e, levados por ventos amigos, saltitam de casa em casa fazendo as vezes de aperitivo.

Ainda a uma boa e desesperante distância do dia D, a mesa começa a ganhar forma e o menu clareza.

- Uf, estava a ver que nunca mais se chegava a esta parte?
          - surdinavam algumas vozes.

As tarefas foram rapidamente assumidas sem tréguas para ninguém:
01. Carla Rodrigues - bola carne e doce;
02. Grace - paté de atum, tostas, azeitonas;
03. Carla Guedes - mousse de chocolate e pudim;
04. Carla Silva - fruta;
05. Branca - sardinhas, tomate e pimento;
06. António - idem;
07. Madalena - mousse de manga e salgados;
08. Jorge - vinho verde tinto, branco e broa;
09. Eduarda - idem;
10. Envergonhado(a) - idem;
11. Maria - casa e logistica;
12. Raquel - boa vontade.
* numa disputa acesa - já o homem do gong levantava o braço - a corrida pelo caldo verde foi ganha pela dupla Grace/Jorge em que o Jorge se comprometeu em levar o chouriço.
Nota
Lamenta-se que a Eduarda, o(a) Envergonhado(a) e o António tenham sido tão sobrecarregados e logo com o mais difícil de se conseguir.
… é que não foi nada fácil encontrar o tal de ‘idem’!

- Assim sim, assim está melhor e já se começa a ver qualquer coisa ainda que longe. 
- Demasiado longe, aliás!      
          - barafustam, de mãos nos bolsos, os mais afoitos.

Entrementes, continuavam a ouvir-se os pingos fumegantes das sardinhas a sumir abafados na cinza quente e o cheiro das assadas a colar-se aos convivas, mantendo incandescentes os olfatos e alvoroçados os apetites.

… e os dias iam-se arrastando penosamente, com os recipientes XL a aparar os excessos salivares.

- nunca mais é sexta!?
          - ouvem-se vozes em crescentes decibéis já próximas do desespero (e mãos nos bolsos).

Depois de longa espera, muita saliva desperdiçada, menus feitos e refeitos e acertos de última hora (viva o WhatsApp), eis chegado o grande dia.
Finalmente!

Uma correria desenfreada acelera os disputados UBER para o vernissage que as anfitriãs amigas em boa hora dispensam. Sem grandes delongas ou conversas fúteis, apressam-se para a mesa a fim de  resgatar apetites já descontrolados, sim, porque o almoço fora estrategicamente frugal.

Olhares de águia, quiçá de abutre, inspecionam as iguarias expostas e, confrontados com tamanho requinte e qualidade, paralisam na indecisão: começo por onde?
          - hesitam, depois de um curto ah! de incredulidade (e mãos a sair dos bolsos).
A dúvida, porém, rapidamente se dissipa e a mão tremelicante alcança sorrateiramente a primeira prova, seguida de um ah! de descompressão.

Os profissionais da grelha, com indumentária desmerecedora do ofício, tomam conta do seu posto e de lá, com um olho na grelha e outro na mesa, imitando a sentinela (deixemos o cigano em paz), vigiam o movimento das tropas… não vá alguém, explorando distrações alheias, adiantar-se na conversa, sim, porque os acepipes tentavam e estavam ali mesmo à mão de semear.
Todo o cuidado é pouco
          - como soi dizer-se.

- Sai-te, melga!
          - esconjura-se.

Inesperada e vindo diretamente do IEFP aparece o Miguel, ainda sem carteira profissional, para aprender com os mestres este difícil ofício de Assador. Todavia, as lições recebidas foram tão superiormente ministradas que recebeu logo ali o diploma e o aplauso do júri.
Júri que, de copo numa mão firme e outra a gesticular para disfarçar o pedaço surrupiado, atentava no fogareiro e no aprendiz. E, ao ritmo do abanador,  abanavam-se dicas científicas sobre a ‘arte de bem assar sardinhas’:
… o abanador?
… o carvão está a morrer.
… está muito forte!
… cinza, onde está a cinza?
… mais carvão.
… aquela está a queimar!
… alecrim.
… estão a ficar no ponto.


          … dicas aproveitadas para um popurri de divertida cavaqueira.

As sardinhas colaboram e apressam-se em dar por terminado o assamento… não vá dar o chilique a alguém!?

Ouve-se a curta distância:
- Saia uma ali para o canto!
- Mais outra para a ponta!
- A dali, sai ou não sai, carago?

- Uf, até que enfim!
- Sardinhas para a mesa (ó mãos para que vos quero?).

E o ataque às ditas começa, cada qual competindo como melhor sabia. Uns preferiram vê-la pingar na broa e lambuzar os dedos, outros empunham faca e garfo, não se sabe ao certo se para comer mais, se para manter em sentido um ou outro atrevido!... (a sentinela continuava em estado de alerta).

Os copos rodam e tilintam à passagem, e o verde fresquinho cumpria sua nobre função  de temperar os mais acalorados.

Nota:
Dizia um velho receituário popular, entretanto desaparecido - um dia o Borda d'Água (1929) far-lhe-à menção! -, que 'não se deve beber água, tão-pouco chá, coca ou sumos nestas ocasiões', por não ser boa companhia para as sardinhas. Fartas de água andam elas!
          - Diz-se por aí à boca cheia que o povo tem sempre razão!!!...

Como que por magia, instalou-se de repente um prolongado silêncio gustativo…
- Jorge, diz qualquer coisa!?
          - interrompeu o desmancha-prazeres.

One by one, sardinha sim conversa não, ficou o mar mais desfalcado... e estas foram-se porque estavam, como dizer, de estalo.
Ah, e os glutões saciados, pois claro.

Mais uma Nota
melhor dito, três, para referenciar o i)tamanho e qualidade dos tomates do António por ii)contraponto com as minudências mas bonitos dos do seu neto e iii)pela surpresa do chouriço do caldo verde: afinal o Jorge não trouxe o dele por, alegadamente, não estar própria para consumo. Desculpas?

Era chegada a hora de escalar o patamar da degustação. Atiram-se com a gulodice inicial para os doces prazeres e frutas altera-paladar, já antes marcados pelo olhar de águia… ou abutre, conforme o caso.

- 'Alto e pára o baile': quais foram as mãos de fada que prepararam estes pitéus?
- Beijamos essas mãos, Senhoras.
          - ouve-se em coro afinado.

Foi um 'vê se te avias'. Pouco resta ou não fossem estes comensais afamados bons garfos com provas dadas por ‘terras do fim do mundo’, - esse mesmo o de Preste João.

O cafezinho reanima e leva a conversa para locais distantes e quem sabe se por lá não se encontrarão.

Um tchim tchim tardio selou o dia com um sorriso colectivo e projectos no ar, oxalá que para breve (Novembro).

Aconselhados por outras estrelas que lá em cima já cintilavam, recolheram-se estas ao seu espaço habitual de onde continuarão a brilhar.

Bjnhs à Maria Inez e à Raquel pelo trato principesco e pelo prazer proporcionado nesta linda tarde de verão.
Abraço para todos nós que elegemos a alegria como condimento certeiro e indispensável de Bem Saber Viver.

Um forte Viva aos 'Viets e Associadas' - v&a