terça-feira, 16 de julho de 2019

'Pérolas do Báltico', com a PLV


Pérolas do Báltico, com a PLV  - 22 a 28 JUN 2019


Ora aqui está uma viagem que não preparei para além do mínimo indispensável: geografia, tamanho territorial, respectivas populações, PiBs e PPC.
De resto, a informação que me acompanha sobre eles não me motivaram o bastante para ir mais além. Por um lado a Finlândia, um déjá vu, tem uma visibilidade maior nos mídia e mais fácil de seguir, por isso; a Estónia, Letónia e Lituânia, por outro, são pequenos países, com a sua respeitável história, naturalmente, mas que não acrescentam interesse especial. Sabe-se que a Finlândia teve outrora problemas de monta com a Rússia czarista e comunista e que os três últimos, a acrescentar a isso, foram recentemente as estâncias balneares e refúgios da elite soviética, vivendo agora suas vidas agregadas à UE.


Preferi, pois, libertar espaço para a descoberta.

Não obstante a repetição relativamente à Finlândia, voltou a ser interessante reolhar alguns icons finlandeses da capital até porque as perspectivas das coisas alteram-se com os sedimentos que o tempo sempre trás.

Ver ou rever países do primeiro mundo, depois de conhecidos alguns do terceiro, redimensiona as perspectivas e reposiciona a escala valorativa. Enquanto que os primeiros se permitem viver a vida em estádios para além do valor da riqueza, os segundos labutam e lutam diariamente pela subsistência. Dos quatro, a Finlândia é o melhor exemplo disso (PPC 40 Mil), enquanto que os do terceiro definham exaustos, uns, e reinventam-se corajosamente, outros, para chegarem amanhã.


A Igreja da Pedra, símbolo da liberdade criativa arquitetónica e submersa na rocha para ficar indetectavel a guerras aéreas futuras, a Praça Central e a Igreja Luterana que de lá do cimo da colina a domina, as áreas lagonais, o jardim de homenagem a Sibelius (ícone nacional), continuam a ser os highlight em destaque a quem visita Helsínquia.
O ausência de movimento citadino - inesperadamente meio deserta provocado pela fuga das suas gentes para alternativas que os feriados das festas populares locais entusiasmam (ou a debandada habitual para a Estónia à procura da cerveja mais barata - via Ferry/2 Horas) -, foi um pouco desoladora. Gosto de sentir o pulsar do modus vivendi das pessoas e isso não aconteceu na medida desejada.


Estónia, Letónia, Lituânia
De há 70 anos para cá o mundo vive um período de acalmia e paz sem precedentes na história da humanidade sustentadas no equilíbrio militar nuclear existente entre as grandes potências.
Em alternativa à então habitual conquista territorial por via das armas, ficou mais dinâmica a via económica planetária com a abertura ao livre comércio feito em acordos bi ou tri-laterais entre grandes blocos. A luta de titãs que acompanhamos diariamente entre a China e os EUA - com a Europa meio adormecida a tentar entrar no ringue -, lembra-nos a cada minuto o funcionamento da ‘coisa’.


Os países com fronteira marítima e com portos de águas profundas sempre foram objecto de cobiça de terceiros quer para fins de lazer quer, sobretudo, como propulsores de ambição e poder com negócios de grande dimensão sempre em pano de fundo.
Os exemplos distribuem-se pelos quatro cantos do mundo e pelos séculos, com aceleração rápida a partir de 1.500 com a navegabilidade intercontinental e, mais tarde, com a capacidade construtiva de enormes e sofisticados barcos. A que acresce nos nossos dias os jumbos aéreos com capacidade e rotas transatlânticas.

As costas do Índico, do Pacífico, do Adriático e Bálticas, só para referir estas, foram das ‘eleitas’ para o assalto e com melhor relato histórico, também.

A independência de Portugal - com fronteira marítima - sempre foi um espinho cravado na ambição hegemónica peninsular Espanhola. Com o crescimento e consolidação do império colonial português o espinho aumentou a pressão e Espanha tentou na era Filipina a fusão dos dois impérios coloniais para, juntos, melhor concorrerem com o Britânico.

Estes três países bálticos não foram excepção. Com um rasto histórico muito similar, sempre pertenceram a alguém, nomeadamente Alemanha, Polónia, império Czarista e Soviético, o último.

Nos anos ‘90, com o colapso do comunismo, iniciaram seus processos de independência.

O trajeto das sociedades e do mundo - territorial e social - terá sempre um formato temporário: o futuro acontecerá com o passado por perto mas mutante. De que forma? Não há guru que o saiba.
Pensar que a Lituânia já teve um tamanho territorial de 1.000.000 km2 e que agora tem 64.000, é bem difícil de conceber senão à luz da rotatividade do poder. Mas assim foi e assim é. Portugal, no auge da era colonial, foi o primeiro império colonial mundial...
Pode-se apenas conjecturar sobre o que foram e o que são hoje: do resto a história falará.
Até porque o mais normal é olharmos para tudo isso com a força da vida vivida por cada um de nós e menos secular, portanto. O que foi, foi, o que será, será.


Voltando aos bálticos.
Em resultado desta interseção civilizacional ou colonial, a definição da sua arquitetura edificada e traço das cidades são marcas notórias que vão dos castelos medievais, passando pelos emblemáticos prédios soviéticos, aos modernos arranha-céus envidraçados dos grandes grupos hoteleiros, empresariais TI e financeiras mundiais.
Ou seja, para o bem e para o mal, coexiste uma panóplia assinalável de diferentes arquiteturas e culturas, bem visíveis em zonas específicas das maiores urbes.
Portugal neste ponto é bem diferente. A independência secular de quase 900 anos torna o país em geral mais homogêneo. As marcas deixadas por arquitetos estrangeiros são menores, mais dispersas e recentemente os nossos arquitetos dominam mais no panorama nacional (Portugal é o segundo país europeu com mais arquitetos).
A composição étnica de suas gentes, inevitavelmente, é uma mescla destas influências, com clara tendência para uma identidade física comum, mas ligeiramente diferente de país para país. O look de rua dos lituanos, principalmente das lituanas - porque o país é o mais rico dos três - é bastante mais cuidado e bonito.
Uma outra característica generalizada, muito em resultado deste passado, é o multilinguismo; a que acresce uma necessidade imperiosa do seu uso por força do crescente fluxo turístico internacional que a eles aporta.


Evidentemente que gostei desta viagem e de conhecer estes pequenos países tão pretendidos ao longo do tempo, mas… vem aí um mas!, ficou aquém das minhas expectativas quanto a novidades surpreendentes.
‘Pérolas do Báltico’ - slogan que as agências de viagens escolheram para propulsar a indústria do turismo - peca por um exagero de imagem. Os espaços entre cidades são excessivamente desertos no sentido desumanizado do termo e as ditas ‘pérolas’ são localizadas.
As ‘pérolas’ deixadas pelos invasores ao longo da história estão razoavelmente bem conservadas. Não sendo fácil a sua manutenção apenas pelos próprios, tendo em conta as suas pequenas dimensões territoriais e populacionais por contraponto com o enorme acervo existente, a Unesco e a UE estão a ajudar significativamente.
Obviamente o Mar Báltico, sua costa e suas águas a banharem todo o litoral poente é, de per si, a maior das pérolas como o é para Portugal o atlântico.


De toda a maneira estamos em presença de países do primeiro mundo e, para quem tem uma visão bastante abrangente e assente deles, não causa admiração este ou aquele aspecto por se tratar ‘mais do mesmo’, apesar de ligeiras e interessantes diferenças. Ainda bem que assim é mas, repito, não deslumbram em originalidade. Países ‘bien propre’ como dizem os franceses.

O turismo é um sector da economia florescente e com peso importante no PiB. Lá, como cá, há muita gente nele envolvida e atenta em prestar bom serviço. Ruas e praças são cuidadosamente ajardinadas surpreendendo quem chega com acolhimento florido, quase engalanado. Aqui, sim, são minuciosos.
      
Noites brancas
É nova e interessante esta curiosidade geográfica que os países mais nórdicos propiciam, pese embora o ritmo deste tipo de turismo lidar mal com noites em branco mesmo quando há ‘noites brancas’. Poder vaguear pelas ruas da cidade com crepúsculo tardio, noite adentro sem ajuda de candeeiros, ainda com luz do dia no ocaso, transmite uma sensação bem agradável de bem-estar, de não-noite, de continuidade, de sem-fim. E assistir ao reabrir do dia após um curto fechar de olhos, ainda mais.


Sem montanhas
Quando se quer olhar de cima estes países para ter deles uma visão mais ampla, esbarramos na planura da sua morfologia: sempre baixa. Esta observação parece tonta, mas não ter tido um ponto alto de onde pudesse captar uma visão encimada e panorâmica, mais global, criou uma vontade não satisfeita. Sem desmerecer, não obstante, as imensas e bonitas campinas verdes bem cultivadas ou os inúmeros lagos bem delineados.


Castelo de TraKai, Lituânia
Desilusão e encanto.
Tinha comprado a ideia que o turismo promove em imagens de um local idílico, paradisíaco: Castelo dos Contos de Fadas. E são-no, indiscutivelmente. Está lá tudo e muito mais que é necessário para isso: isolamento em ilha, acessos controlados, a imprescindível ponte, cercado por águas virginais, vegetação circundante de luxo, fortificação medieval em bom estado, torres de menagem perfeitas incluindo as janelinhas onde as princesas sonhavam e faziam sonhar, cores vivas da época… um encanto.
Então, o que é que desiludiu?
As falsas expectativas resumidas num único ponto: a foto ilusória que corre mundo para promover a visita.
A foto é aérea e mostra todo o castelo e ilha, tudo, num só look tridimensionado e encantatário.
Imaginava eu, então, vir a ter esta imagem real: descendo uma qualquer colina começariam, o castelo e a ilha, a revelarem-se aos poucos, resgatando eu o encanto em zooms sucessivos até à foto final, esta já ao nível térreo. E não, só pude aceder à final e de repente!

Pessoas
Quer pela ausência dos seus locais habituais de residência, quer por imposição da rota da viagem que levava, houve pouca aproximação e menos contacto com as pessoas e, por via disso, fica-se com uma ideia difusa e incompleta sobre o que são, como são; como agem no dia a dia. Apesar dos PPCs serem relativamente altos - bastante mais altos que o português - a sua distribuição pelas pessoas é menor, excepto para o setor TI. Os ordenados mínimos são na ordem dos 500€+ e os superiores pouco ultrapassam os 1000, incluindo funcionários públicos. Sendo que o custo de vida é superior e está, como aqui, inflacionado pelo turismo, o que obriga muitas pessoas ao duplo emprego.
Os apoios sociais são bons.


Segurança
Não é tema. Ao melhor nível.


Mercados
Espaços que gosto de visitar por aí colher mais alguma informação sobre o funcionamento dos países e das vidas das suas gentes.
Destaco o da Lituânia: vários e enormes pavilhões segmentando os produtos. Não são bonitos mas a boa luz disfarça-os e salienta os produtos expostos de onde destaco a variedade de peixe fumado.
Muita gente os frequenta o que me leva à ilação da sua preferência ou menor existência de shoppings.
Não é região para variedade de frutas. Vêem-se à venda essencialmente fruta vermelha importada: morangos, mirtilos, cereja, pêssegos, amoras, framboesas...
No exterior a ‘feira de custóias’ está em todo o lado.

Âmbar báltico ou prussiano, o ‘autêntico’.
São precisamente estes três países a principal fonte mundial do âmbar, com manufaturamento a precisar de restyling e comercialização por todo lado.
Uma alegria para a senhoras…


Se recomendo a viagem?
Sim, claro, principalmente para quem começa a conhecer mundo.

Um abraço para os casais Ana/Gordon e Mina/Manuel pela companhia animada, alegre e divertida.



1 comentário:

  1. Pontuação máxima em todos os parâmetros. Obrigada pelo trabalho realizado.
    Mina e Manel.

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