Foi com interesse e até entusiasmo crescente que folheei as páginas desta viagem ‘por mares nunca dantes navegados’. E aqui a expressão enche-se de sentido uma vez que foi precisamente nestes ambientes que foi gerada.
Iniciar e percorrer aquela mesma rota, a da Índia, ao leme de Roger Crowley é garantia de que será uma bela viagem, em muito igual às que fizeram os nossos heróis no passado.
Todo o mundo sabe que foram os portugueses os primeiros a ‘atirarem-se ao mar’, mas, a seguir, outros também o fizeram. Todavia, Roger Crowley ignorou-os neste livro. Porquê? Porque foi aliciado para ‘ler’ este nosso tempo, provocação que aceitou.
Não se espere, pois, um ‘Tratado Sobre Os Descobrimentos’ em geral mas apenas sobre o pioneirismo da iniciativa portuguesa na descoberta do caminho marítimo para a Índia e sobre os anos iniciais do processo. Ou seja sobre a importância de quem, como e porquê deu os primeiros passos naquela direção e das vicissitudes encontradas. O que é muito para não dizer tudo.
Roger Crowley serviu-se de uma escrita direta, corrida, sem grandes pronunciações laudatórias ou condenatórias, mas aqui e ali de apreço pelo arrojo e bravura com que estes portugueses valentes enfrentaram o desconhecido, o imprevisto, o perigo; aquele mundo novo, em suma.
Terá lido bastante sobre o tema, nomeadamente os ‘pergaminhos’ da época, e, impulsionado e até empolgado, diria, pelas conclusões a que chegou, fez o alinhamento cronológico dos acontecimentos mais significativos - derrotas e vitórias - do ‘sonho português’. Ao longo da narrativa fica clara alguma admiração pelos feitos atingidos mas com boa margem para que cada leitor assuma suas conclusões.
Uns dirão excessivo, outros nem tanto…
Da minha parte, até porque conheço pessoalmente as consequências em alguns daqueles territórios, por um lado, e o seu impacto secular no todo nacional, por outro, mantenho uma posição multi-facetada sustentada em pilares conflituantes:
i - Que seria de Portugal, dos portugueses, de nós, sem este orgulho histórico conseguido por estes bravos, que alimentou e alimenta o ego nacional?
ii - Como desperdiçar esta oportunidade de abundância que outros (Rota de Veneza) monopolizavam?
iii - Como ignorar ou não valorizar a importância para Portugal e para o mundo do fenómeno da Globalização aí encetado?
iv - Como justificar as pilhagens, as escravaturas, as carnificinas então perpetradas mas indispensáveis ao açambarcamento deste fabuloso negócio?
Talvez justificada pela sua visão estrangeira (ou não), Roger Crowley, não sai da narrativa pura e deixa outros juízos para terceiros. Inteligente!, porque é impossível a quem o lê não os congeminar.
Leu, entusiasmou-se e escreveu.
E aqui nos deixa, sem metáforas eloquentes ou figuras de estilo rebuscadas, uma desapaixonada mas admirada e vibrante Rota da Índia, pelo mar, by portuguese people.
Descrição detalhada e factual o bastante para nela acreditarmos e imaginarmo-nos a repetir as viagens com Gama, Almeida, tantos Outros e Albuquerque; sim, Afonso de Albuquerque, sem a genialidade do qual tudo seria diferente. Ou não seria.
No desenrolar da narrativa esse reconhecimento ao Herói, ao Visionário, fica bem explícito.
No Epílogo, sim, faz uma curta mas suficiente súmula das dinâmicas inovadoras que este ato pioneiro trouxe para Portugal e para o mundo com rasgados elogios para quem nela participou.
E as riquezas orientais inundaram Lisboa, Portugal, a Europa, o ocidente…
...e despertaram cobiças!
Portugal deu então um salto de gigante no pelotão mundial, conquistando isolado o lugar cimeiro em vários domínios.
Consolidou-se e eternizou-se.
Nota_01
Camões no seu Lusíadas, tornou épicos os feitos dessa gente e está presente no subconsciente do leitor em cada página.
Nota_02
O Mosteiro dos Jerónimos (1502) e a Torre de Belém (1514) foram mandados construir com este maná.
Nota_03
A população portuguesa rondava nessa altura 1 Milhão.
Complementarmente:
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O Mosteiro dos Jerónimos (1502) e a Torre de Belém (1514) foram mandados construir com este maná.
Nota_03
A população portuguesa rondava nessa altura 1 Milhão.
Complementarmente:
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