domingo, 4 de novembro de 2018

O fermento a levedar na Arca (dos m&cª)

18-11-1914  *  04-11-2015   |     20-09-1914  *  12-08- 2009
Olá Mãe, Olá Pai,
Já lá vão 3 e 9 anos desde a última vez que nos vimos.
É muito tempo!

Sabem?, temos uma Arca bastante grande - tamanho 100(anos+) - que está cheia de saudades vossas e de boas recordações do tempo que passamos juntos. Zelamos para que não se danifique e assim preserve por mais tempo as preciosas lembranças que guarda.

Amiúde vamos lá e vasculhamos tudo e por lá ficamos até nos sentirmos saciados.

Sei lá porquê?, mas vamos ter de arranjar uma maior; o recheio desta, em vez de esvaziar com o tempo, bem pelo contrário, já está a deitar por fora.
Também é verdade que a estamos a usar para lá guardar as de toda a vossa família, e sabem como nós gostamos de guardar este tipo de 'coisas'!
Aliás, ainda contém algumas ‘velharias’ dos vossos pais e avós.

Está ali disponível para todos.

Cada um de nós, na medida das suas preferências ou urgências, vai lá quando quer, usa as que mais gosta e deposita as que leva.

Para ser franco, vou lá bastantes vezes e quando a abro vejo, sem surpresa, que aquilo está muito remexido! e com ‘coisas’ novas por lá amontoadas, pelo que deduzo que muitos mais lá irão e com frequência levar e trazer 'coisas'.
Qualquer dia temos de tirar senha de chegada!
Arrumo tudo direitinho mas não adianta… deixaram uma família de ‘estabalhoados’, como gostavam de dizer, não era?, com que sempre ríamos e que adotamos.

Aos mais novos perdoamos pois ‘são novos’ e compreendemos que o frenesim da vida lá fora - trabalhos e escolas - está sempre a chamar por eles. Surrupiam do que vão à procura, libertam alguma carga e vão-se rapidinho sem olhar para trás.

Também vamos tolerar aos mais velhos; é que, lá chegados, ficam de coração mole, esquecem que o mundo gira; sentam-se calmamente e aproveitam para, embebecidos com o conteúdo, permanecerem por mais algum tempo com vocês; e no fim esquecem-se das arrumações.

Foi o meu caso da última vez. Revolvi muita coisa, quase tudo para ser exato.

Bem lá no fundo com bastante pó, descobri da nossa casa de Atães - aquele sítio ensolarado que escolheram para fazer o nosso primeiro ‘ninho’-, ‘coisas’, 10 anos de ‘coisas’, misturadas com as da Veiga e as da Graceira - a vossa primeira casa e berço do primeiro filho, aquela casinha-com-ar-de-presépio, bem grande nas primeiras memórias de muitos de nós, principalmente nas da 2ª geração da FdQ, e que continua lá, impecável! -, de Vale de Bouro, de Gagos e da Quelha.
Não, de Ribas não encontrei nada ou muito pouco.

Mais em cima e também com algum pó, estavam as ‘coisas’ da Boucelha - essa casa catita onde preparamos o futuro -, de Veade e Molares, de Fermil, de Celorico e Mondim, em bastante melhor estado. Muitas, 8 anos delas.

Ainda bem que há inúmeras de Ramalde/Viso - a casa onde cada um de nós já esgravatava por si -; é que, aí, deitaram a nossa casa abaixo e assim salvamos as 'coisas' desses quatro anos.
É verdade, passei por lá um dia destes e, ficam a saber, está a nascer um novo empreendimento, justamente naquele nosso espaço.

O mundo não pára, não é?

Bem mais visíveis são as de Gondomar. Estão intactas. Um simples sopro, como aquele com que se avivam as brasas, basta para agitar o pó e dar-lhes vida também.
São várias resmas delas: 42 exatamente.
E como a vossa filha mora perto vemos com mais frequência a vossa (última) moradia, essa casa onde fomos todos muito felizes.
Daí partimos em direções diferentes (o Chico já tinha ido, eu sei). Cada um de nós foi procurar a sua própria casa para fazer o seu próprio 'ninho', mas sempre nos reencontramos nesta Arca, na Nossa Arca, onde está tudo o que é preciso e a vida de muitas vidas.

Perguntarão?, que ‘coisas’ lá encontrei. Um ror delas, podem crer, e todas bem ordenadas. Para vos poupar a uma lista enorme, vou apenas pegar na primeira, a que está mais à vista, e aquela que mais significado teve e tem para todos nós, os 35 (+2, vocês): Amor.

O vosso tempo por cá não foi fácil, sabemos, (nós também gostamos de nos queixar… enfim, lamúrias de barrigudos) mas responderam com o melhor de vós: uma resiliência notável, uma tenacidade admirável, uma sabedoria rara, uma dimensão do tempo distendida e uma capacidade de nos amar como não sabíamos possível.

Esse amor todo, que nem todo foi com vocês, está aqui nesta Arca e leveda todos os dias.
É isso que lá vamos buscar: pedaços desse fermento-amor que levamos para nossas casas.
Foi, e é, no rasto dele que aprendemos a apreciar, a gostar e a amar.

Tivemos sorte em termos uns progenitores como vocês.

De resto, o nosso dia-a-dia segue feliz, igual ao que referi na carta do ano passado. Estamos todos bem de saúde e, como então, a desfrutar da vida o mais que cada um consegue. Encontramo-nos todos sempre que podemos e felizmente temos podido várias vezes.

Em suma:
Os trabalhadores trabalham, os estudantes estudam e os malandros malandram…

Não se preocupem connosco.
Estamos bem, confiantes e capazes de tomarmos conta de nós.
Fiquem bem.

PS_01
Esse pequerrucho que têm ao colo, o vosso primeiro bisneto, o Gonçalo, acabou de ficar maior! 18 Anos.
Foi uma festa bonita com todos nós.
PS_02
Cá em casa a Rita e o Simão lembram com frequência 'a avó dos 100 anos'.

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