Interessante.
Claramente uma escrita no feminino. E, se distingo o facto, é pelo simples facto - não tão simples assim - de haver menos publicações do género.
Claramente uma escrita no feminino. E, se distingo o facto, é pelo simples facto - não tão simples assim - de haver menos publicações do género.
Sem pretensões a ver-se incluída na lista dos grandes novelistas - digo eu, e não me refiro à quantidade de livros vendidos ou de leitores (muitos) -, Isabel Stilwell, aborda a vida e o tempo de CdB pelo lado ficcional a que acresce algum talento para a escrita.
Os factos incluídos são do domínio público - a simples Wikipédia os menciona -, mas reconstrói com eles uma sequência cronológica envolta numa literatura criativa, que se lê sem necessidade de grande empenho. Leitura corrida num ritmo calmo.
Com este seu cunho light, Isabel Stilwell, traz-nos para aqui esta figura histórica retocada com os usos e costumes, virtudes e defeitos de então; os enredos cochichados nas quentes e produtivas alcovas, as intrigas segredadas nos luxuosos salões e nas sombras dos longos corredores palacianos, e as políticas de alianças transnacionais que regiam as monarquias europeias, com destaque para aquelas onde Catarina viveu e/ou reinou.
Aqui e ali um pouco de exagero ao redor de Catarina, mas o essencial, sim, está cá.
A história em si, das mais recontadas entre nós - em especial a do ‘five o'clock tea’ seguida da da geleia de laranja amarga (mais a do uso de talheres, do tabaco, dos pratos de porcelana, da ópera) - não surpreende. A novidade está na forma.
[Ainda hoje se exportam para Inglaterra laranjas amargas Andaluzas (cuja produção observei recentemente na região de Sevilha | 30.000 árvores). Catarina servia esta geleia amarga às inimigas e concubinas, ficando com as doces para si e amigas]
Com sua alma feminina a olhar para a ponta da pena, apresenta a época e CdB numa roupagem sem vincos; dizendo melhor, onde há arestas - e estas décadas (1640) foram turbulentas - a narradora calça a luva da delicadeza e afaga-as. A todas.
Animado por um sorriso-surpresa que o detalhe da leitura provoca, torna-se agradável viajar por estradas de pisos suaves, floridas e rendilhadas, ao volante de uma mulher.
Há certos pormenores - nos adereços, por exemplo ou na caracterização dos personagens -, que um homem desconhece e desmerece mas enriquecem. É um mundo diferente.
O tema é ‘Catarina de Bragança’, Rainha Consorte, sabemo-lo desde a primeira página; isto é, relega outros intervenientes trazendo-a para o centro da ação.
Como um escultor dedicado, vai moldando o seu perfil com as alegrias e contrariedades de uma Princesa/Rainha em crescimento; elege provações e provocações mais que normais por que passou, doseando-as com espontaneidades da idade, de forma a dar-lhe um carácter temperado mas resoluto para quando mais tarde dele vier a precisar. E é, segundo a escriba (e pelo que se sabe), parte da chave da sua ascensão e longevidade - 23 anos - como Rainha ‘Consorte’ de Inglaterra.
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