Toda a gente sabe o que foi o PIano Marshall e o que significou esta ajuda financeira americana para uma Europa destruída, exangue e sem capitais próprios para soerguer-se após o descalabro da segunda guerra. A começar pela própria Alemanha, UK, França, Itália e tantos outros, ficaram de rastos; em ruínas.
Os EUA, detentores, então, de quase 50% do PIB mundial e com um plano geoestratégico bem definido e maduro para impulsionar - just in time - uma nova ordem económica global, o capitalismo, em que seriam o seu centro orientador e dinamizador, combatendo simultaneamente o outro, o comunista, em considerável expansão a partir da URSS, emprestaram dinheiro a ‘rodos’ a 18 países europeus, incluindo a Portugal, embora a este um pouco mais tarde (2 anos): 54.000.000 USD.
- obviamente os países do perímetro comunista não se candidataram à oferta.
O que mais me surpreende é o facto dessa ajuda a Portugal ser praticamente desconhecida de ‘toda’ a gente, incluindo pessoas com responsabilidades na matéria.
Uma cortina de silêncio escondeu-o deliberadamente.
Eu próprio, contrariando o que neste blog num ou noutro texto fui dizendo, também desprezei esta informação histórica.
Obviamente fui consultar os books (net) e confirma-se: os 54 milhões USD entraram mesmo nos cofres portugueses e foram a alavanca financeira que faltava a Salazar para dinamizar a economia portuguesa, incluindo a consolidação do vetor ultramarino.
Central Térmica de Lourenço Marques (Cahora Bassa), Porto da Beira, pesquisas geológicas e mineira (petróleo/diamantes) em Angola e Moçambique, começaram com esse dinheiro e o conhecimento e controlo da meteorologia, fundamental para o uso do espaço aéreo e criação de aeroportos que viriam a permitir a aviação para aquelas terras longínquas, foi também com esse mesmo dinheiro.
Aqui, no início, aqueles recursos foram utilizados para comprar medicamentos, alimentos, fertilizantes e rações. Logo depois, foram adquiridos matérias-primas, produtos semi-industrializados, combustíveis, veículos e máquinas; industrialização, vias de comunicação (CP e Sorefame); fizeram-se barragens, indústria têxtil, conserveira, irrigação, bacia do Douro...
Sumariamente e em resultado, a implementação do plano e sobretudo o seu sucesso, ergueu o país e ajudou Portugal a posicionar-se ao nível dos seus parceiros internacionais entrando finalmente nas grandes organizações, objetivo há muito perseguido.
- Aproximadamente, 70% dos bens eram de procedência norte-americana.
Na ‘net’ existe muita literatura a propósito, mas selecionei o link abaixo de Maria Fernanda Rollo por me parecer detalhar bastante bem das razões envolventes, hesitantes, com avanços e recuos do governo de então, chefiado por Salazar.
Portugal, como não alinhado, foi beneficiado durante todo o tempo que durou a guerra - 1939/1945 - pela procura externa dos produtos que estava em condições singulares e privilegiadas de satisfazer, nomeadamente pelos da indústria necessários à manutenção da guerra - o famoso volfrâmio para o fabrico de projéteis penetrantes - e pela alimentar, em particular a indústria conserveira.
As exportações, nesse período, engordaram os cofres do estado e o ouro proveniente dos refugiados de guerra, incluindo o do judeus e não só, amontoou-se no BdP. Esta ‘fartura’ deu a ‘ilusão’ de auto-suficiência nacional e levou Salazar à irracionalidade política, enveredando por uma política de isolamento mundial e à rejeição, num primeiro tempo, dos dinheiros provenientes do Plano Marshall.
Também é verdade que Salazar não gostava deste dinamismo americano, por achar que, aceitando essa ajuda envenenada, viria a ficar dependente deles e porque receava também um previsível açambarcamento dos territórios ultramarinos.
Acontece que, com o esforço de guerra, o seu principal devedor - UK - faliu, assim como os outros principais compradores europeus e, consequentemente, as até então saudáveis finanças portuguesas - cofres cheios -, foram-se delapidando rapidamente até ao colapso total.
Ainda tentou, sem sucesso, a via dos impostos…
Sem dinheiro, sem alternativas, entalado em várias frentes, e depois de muito litigar com os americanos - tendo, inclusive, tentado vender-lhes a dívida do UK - sucumbiu, recorrendo in extremis, ao Plano Marshall, nas condições exigidas pelos americanos.
Em bom rigor, deveria - nos modelos de hoje -, chamar-se a isso ‘pedido de resgate ao FMI’, uma vez que o dinheiro do Plano Marshall era destinado aos países participantes e Aliados na guerra.
Retomando a questão:
Porque o país, os meios políticos e académicas sempre esconderam esta parte da nossa história a começar pelo próprio Salazar?
Porque não constaram na altura e não são historiados ainda hoje nos manuais escolares?
À luz da política ditatorial, não democrática e escondida de então, ainda lhe encontro alguma lógica por obedecer à matriz que a informava. Era assim.
Mas depois dessa fase ultrapassada, já em plena democracia, no século XXI, continuar o assunto naquela zona obscura, apagada mesmo, é incompreensível. Os nossos académicos e os políticos em geral têm obrigações perante o país e não as estão a cumprir: a verdade.
Podcast interessante sobre o tema: ‘Conversas à Quinta’ de 22jun2017.
José Manuel Fernandes
Jaime Gama
Jaime Nogueira Pinto
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