terça-feira, 12 de abril de 2016

Semana Santa em Sevilha, Espanha


Não detinha especial informação sobre este (famoso) evento sevilhano. A Sevilha que conhecia datava da Expo'92, que visitei por duas vezes a partir de férias no Algarve. Na altura, foi para mim o expoente máximo das Expo, com novidades surpreendentes, quase deslumbrantes, vislumbrando-se aí o que poderia ser o advento de um futuro muito próximo e, em muitos casos, concretizado.
Soube agora lá - isto de não acompanhar tudo o que se passa no mundo no seu tempo tem a vantagem da surpresa - que tinha havido uma outra em 1929 (ano do crash americano) de similar dimensão. Visitei parte do que fora aquela e as inúmeras marcas deixadas. Refiro-me aos abundantes e espaçosos jardins, ao vistoso e luxuoso hotel Alfonso XIII e aos muitos pavilhões que lá permanecem em muito bom estado, incluindo o português. Pelo que pude observar, terá sido uma Expo, à data, equiparável à de '92.
Esta, a de ‘92, apenas a revi de longe, do lado direito do rio (Guadalquivir), ficando com a perceção de algum reaproveitamento mas, também, de razoável degradação.
Muita coisa haverá ainda a fazer.
São bem visíveis e bem conservados os ícones principais que a celebrizaram em todo o mundo, tais como: a Torre, a ponte de Calatrava e o TGV para Madrid, então inaugurado (fala-se, por estes dias, na sua extensão para Badajoz).

Considerando estas duas grandes realizações, que vieram aumentar o perímetro da cidade e potenciar o orgulho, a energia e o dinamismo das suas gentes, encontramos uma cidade - a 4ª + de Espanha, capital da Andaluzia -, bem interessante. O casco velho - bairro judeu (daí expulsos na altura da inquisição) -, é constituído por ruelas estreitas - como se esperava - mas, bem cuidadas e adornadas pela dinâmica do abundante comércio local. Cada canto e recanto é uma agradável surpresa ao dobrar de qualquer esquina. As cores garridas andaluzas (como que num prolongamento do nosso Alentejo/Algarve ou vice-versa) espalham-se por toda a cidade velha, dotando-a de uma alegria contagiante e revigorante. O sol radioso penetra generosamente pelas vielas dando-lhes vida e convidando o forasteiro a se comprazer com elas. Pracinhas de eleição - a 'Elvira Plaza', por ex., - recebem e retêm quem a elas chega com os cheiros intensos, frescos e adocicados das laranjeiras floridas. Tive a sorte da visita coincidir com a floração das laranjeiras (laranja amarga exportada para a GB), espalhadas praticamente por toda a cidade, inundando as narinas com aquele odor refrescante que tão bem as caracteriza e que nos bem-dispõe. O olfato assim arejado agradeceu a oferta pródiga da natureza. A isto se acrescentam os inúmeros e enormes jardins - o de Maria Luísa, p.ex., - já bastante bem revestidos com a nova roupagem, meio envergonhada, meio luxuriante, dos primeiros dias da primavera, fazendo adivinhar a sua utilidade refrescante lá mais para diante, para os tórridos dias de verão (falava-se em 46/49º).

Nos limites exteriores, as zonas novas da cidade cintam-na sem a apertar, mas são basicamente iguais a muitas outras: zonas habitacionais com arquitetura construtiva de gosto questionável, para não dizer dispensável.

A tentação da comparação.
Não resisto, sem me alongar, de a comparar a Barcelona onde estive em Fev. último. Barcelona é Barcelona, com identidade e personalidade próprias, mas posicionada noutra escala. Tem-na, claramente, para ser uma Capital de país. Não estou com isto a incentivar ou a concordar com a vontade de alguns para a independência catalã, antes pelo contrário: acho mal e o futuro confirmará perniciosa.
Compararei apenas o casco antigo: têm em comum o lado labiríntico das suas ruelas mas estas de Barcelona, e também porque os prédios são substancialmente mais altos, transmitem - sobretudo no inverno com a ausência do calor, da luz e das cores vivas - uma sensação de maior desconforto, incluindo o térmico, e agarra-nos menos. O forasteiro compensa-se na Broadway lá do sítio, deambulando-se preguiçosamente pelas apinhadas e coloridas ramblas.

Semana Santa sevilhana

"Tocam os sinos, rufam os tambores, estrelejam os foguetes: é dia de festa" - Título para redação que o meu inesquecível professor liceal de português - prof. Rego - disse para fazer, sobre as romarias portuguesas de então.

Recordo o título para sublinhar do quão diferente é a manifestação religiosa de Sevilha: apenas dobram os sinos dos carrilhões numa sonoridade tristonha, sombria e de alcance longo - lembrando o toque de finados - que não convida à festa no sentido mundano ou mais alegre do termo, antes ao recolhimento e à introspeção.

Faz tempo que - talvez desde que em Roma, no Vaticano, na Praça de S. Pedro e com João Paulo II à janela e em igual período pascal - não presenciava um tempo de tão generalizada demonstração e comoção religiosas.
Desde o tempo dos Reis Católicos, Isabel I, Séc. XV - em que a religião católica começou a ser a religião oficial - que se sabia deste lado dedicado do povo espanhol, mas não o imaginava a este nível de participação popular e pública nos dias de hoje, principalmente de tão elevado recolhimento e compenetração (estatisticamente 76% são católicos).
Não fica atrás da do Vaticano; com a apreciável diferença de que esta congrega pessoas de todo o mundo (e muitas delas turistas), enquanto a de Sevilha é essencialmente local, regional ou nacional.
Estamos a falar, segundo se lê, numa adesão de cerca de 1M de pessoas... e, na sua maioria, com uma postura religiosa genuína.
Exteriorizam essa seriedade com a sua melhor roupa domingueira: os homens de fato e gravata, irrepreensivelmente limpos e aprumados; as senhoras com finos e elegantes vestidos. Salpicando a multidão, muitas mulheres exibem o típico traje sevilhano de ocasião: um vestido preto define-lhes os corpos; um sapato bem alto eleva-lhes a elegância; de um pente andaluz solta-se uma comprida mantilha de fina renda que, cobrindo-lhes os ombros, esvoaça leve e solto ao ritmo do andamento, imprimindo-lhe o último toque de leveza, fazendo aparecer, destacado, um rosto jovial, alegre e sorridente, sempre recetivo para quem passa e para qualquer máquina fotográfica. Elas e eles passeiam-se pela urbe num passo altivo, ora lento, ora mais apressado, dirigindo-se para os locais por onde passará a sua procissão e prosseguir com a sua devoção.

A autarquia também se junta aos seus munícipes para o engrandecimento das cerimónias e prepara a cidade para que nada falte, tudo esteja arranjado a preceito e o ritual se cumpra por inteiro. A proteção civil, sempre presente, previne o bem-estar das suas gentes; as forças policiais garantem que não haja distúrbios; cadeiras são instaladas em pontos estratégicos para proporcionar um acompanhamento ainda mais calmo e atento; muitas varandas são enfeitadas com colchas grená e orlas douradas… tudo, revestindo a cidade de uma look cromático uniforme.

57 Confrarias saem das suas igrejas e em procissão com rituais, trajes e andores distintos, percorrem as ruas predefinidas até à Catedral, organizadamente, por um tempo que pode durar 10 horas, incluindo a noite da célebre ‘Madrugá’; daí e com o mesmo andamento solene e concentração, regressam às origens. O percurso é lento, silencioso, intimista. Os trajes dos participantes escondem o corpo e o sorriso.
Descalços e de círio pascal na mão, os figurantes marcam o ritmo e abrem alas à hierarquia da igreja e aos enormes, pesados e enfeitados andores que os precedem. Uma quarentena de homens mais jovens, com indumentária própria e escondidos por panos quaresmais, transportam-nos em ombros em esforço e suor, sem um lamento e até satisfeitos pela honra. Nas substituições saem de lá de baixo cansados, corados e suados mas com a satisfação estampada no rosto pelo dever (ou promessa ?)  cumprido.
Aqui ou/e além um(a) cantante assome a uma janela engalanada e, numa voz sonora solta sua reza num canto de melodia contida fazendo parar a procissão. Todos param e em profundo silêncio lavam também suas mágoas mundanas ao som daquele 'fado' andaluz.
Purificados, a procissão prossegue lenta para mais beatificação.

Com o tempo, sem menosprezo para as demais, algumas procissões ganharam mais destaque e a elas acorre um maior número de fiéis (ou mirones). A primeira, incontestada, a da Macarena, seguida da da Triana, El Cachorro, Gran Poder, Citanos...

Adicionalmente.
Dos vários pontos de interesse e sem os quais o conhecimento de Sevilha fica diminuído, para além dos já referidos, acrescento: Praça de Touros La Maestrança, Torre del Oro, Real Alcazar, Giralda, Praça de Espanha, Parasol e, para mim, sem a menor sombra de dúvida e sublinhadamente, a Catedral de Sevilha.
O facto de se posicionar, ex-equo, no top4 das catedrais mundiais, é, desde logo, um bom indicador da sua magnitude, imponência e importância. Não me atrevo a entrar em mais detalhes quer exteriores quer, por dificuldade acrescida, interiores; na ‘net’ abundam fotos que falam por si e vasta literatura; refiro, tão só, que por lá passou muito da história de Espanha e que lá estão com a pompa, importância e destaque que o país lhe atribui, os restos mortais de Cristóvão Colombo num túmulo de dimensões a condizer: grande e majestoso (deixo agora de parte a controvérsia sobre o tema).
Era, de resto, um dos locais onde tinha forte empenho em chegar. Acompanho CC desde que comecei a ouvir falar dele por começar desde cedo a perceber que foi um personagem realizador de feitos que transcenderam o seu tempo (1492) e que determinaram e moldaram os destinos do mundo para sempre.
Ficou ainda mais saciada a minha curiosidade quando consegui (nesta mesma viagem) chegar a La Rábida, (Huelva), local de onde desancorou nos seus pequenos barcos à vela (a nau Santa Maria, e as caravelas Niña e Pinta) rumo à aventura, mas com um propósito bem definido.
No Mosteiro de La Rábida, em Palos de la Frontera, Huelva, fomos recebidos por um frade, um contador de histórias fantástico, que historiou com razoável detalhe a vida de CC, em especial sobre o tempo da sua permanência em Espanha e mais concretamente neste mosteiro. Tinha um tal dom expressivo, quase teatral, que parecia estar a escutar alguém que privou com CC e viveu pessoalmente os acontecimentos ou, renascido das cinzas, alguém acabado de chegar para relatar com toda a minúcia os 7 anos que CC lá viveu e as vicissitudes por que passou até conseguir garantir financiamento da Coroa (Isabel I) para o empreendimento que sempre o animou: a descoberta da América.
Interessante.
Macarena
Praça de Espanha
Cidade Carmona
Stma Vigem del Roccio
La Giralda
Túmulo CC, Catedral
Pintura de Cristovão Colombo, em La Rábida
Pavilhão Português 1929
Elvira Plaza
Catedral
Praza del Cabido
ParaSol
Torre del Oro


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