sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Migrações - ' Naufrágio da Humanidade'

Ao longo dos tempos e da história da humanidade, esta questão das emigrações, migrações, refugiados, deportados, retornados, cruzados, êxodos... com várias designações  mas com o mesmo pano de fundo - as pessoas - sempre foi um fenómeno repetido, insolúvel e usado como recurso, o último, para a transposição de dificuldades geradas localmente, regionalmente ou mesmo entre continentes.
As motivações podem ser diversas, oscilar com as circunstâncias, mas 'as pessoas são as mesmas'.

Na idade antiga, a começar pela, talvez, mais célebre delas, Moisés (séc. XIII a.C.) conduziu os hebreus através de um êxodo de 40 anos pelo deserto levando-os para a 'terra prometida'.
Dois séculos depois esta história dos escravos hebreus (e do Rei da Babilónia 'Nabucodonosor' - o maior dos reinos até então - séc. VI a.C.), ainda não tinha sido resolvida, como nos é magistralmente e emocionalmente lembrada na ópera de Verdi 'Nabuco' (libreto de 1842).

Dando um salto grande no tempo, mas sem esquecer as entretanto ocorridas, nomeadamente as do império romano (findo no séc. V) e as da era áurea Viking séc's VIII / XI) ou Veneziana (séc's XV / XVIII), chegamos ao início da idade moderna (séc. XV), quando os sonhados tesouros alcançáveis no fim do mundo, entusiasmaram e mobilizaram multidões e as dispersaram pelos cinco continentes.

Saltemos para o Séc. XX, para a idade contemporânea e temos várias catástrofes humanas com ecos bem presentes nos nossos dias. A primeira desse século: a deportação em massa dos arménios para a Síria - ironia do destino, agora são escorraçados de lá - (metade da sua população já desertou: 9,5 milhões).
Tão ou mais numerosas, as deslocações humanas motivadas pelas I e II guerras mundiais de que ainda todos nos lembramos.
Bem vivas estão também as desgraças humanitárias que a redefinição de domínio social e sobretudo grupal ou tribal ocasionou na África pós-colonial.

Já saradas mas não esquecidas da história, ficam algumas feridas abertas pela descolonização portuguesa nos idos anos de 1974/1975, com o regresso abrupto de cerca de 500.000 'retornados' das ex-colónias.
Nos últimas quatro anos e fruto da turbulência económico-financeira nacional, 485.000 portugueses abandonaram o país...

E agora temos, bem vivas e tangíveis, porque a elas estamos a assistir em directo, 'ao vivo e a cores', as oriundas do médio oriente, com as da Síria à cabeça.

Portanto, o fenómeno não é novo, é desgraçadamente recorrente, e vai acontecer mais e mais.

Não acredito em soluções definitivas para estes problemas que mais aqui ou acolá, hoje como ontem, sempre existirão.

Não resolvidos os problemas antes, a montante,

- e fica aqui a questão em aberto:
. Se poderiam tê-lo sido?
. Se deveriam tê-lo sido?
Eu muita gente achamos que sim, embora reconhecendo não saber exatamente como -

o que fazer então, agora, a jusante?
Que papel podemos desempenhar na minimização do sofrimento dos atuais atingidos?
Ao nível individual, pessoal: pouca coisa ou mesmo nada.
Ao nível social e institucional: pressionar os estados para fazer alguma coisa.
A UNHCR (acrónimo inglês da organização da ONU para os refugiados), faz o que pode mas é consabidamente insuficiente: não consegue chegar a tantos incêndios e tão grandes ao mesmo tempo.
Ao nível dos estados e dos grandes blocos económicos, desde logo a UE e os EUA: talvez. E sabemos que estão a 'tentar' alguma coisa, embora com uma lentidão de morte. Não resolverão a origem do problema mas poderão mitigá-lo, salvando algumas vidas e alguma dignidade humana.
Queremos acreditar que sim.
Conhecemos bem as motivações da Alemanha, por exemplo mas não só, com a demonstração pública do bom acolhimento.
Pode ser o princípio de alguma coisa.
Oxalá.

Mas que importam as razões de tanta hesitação e demora? Pergunte-se aos desgraçados se estão preocupados, se pensam sequer nisso?
Fogem do terror, da miséria, da falta de futuro, sonhando-o noutras paragens, arriscando o máximo: a vida.

Pelo que sei, aqui no meu concelho, com iniciativa autárquica, estão a preparar o acolhimento de 50 pessoas.
Já é alguma coisa.

É tempo dos refastelados na vida deixarem de olhar só para o seu umbigo gordo e abrirem a janela ao 'Naufrágio da Humanidade', antes que nos afoguemos todos.

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