segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Quantitative Easing (QE)

'Alívio Quantitativo'
Rios de tinta e milhões de palavras têm sido escritas e proferidas nos últimos meses em todo o mundo, e de forma mais inflamada na Europa em geral e nos 19 países do Euro em particular: QE é o tema.

A discussão está ao rubro mesmo depois do BCE se ter pronunciado. Umas a favor, outras contra como é normal, até porque os efeitos da medida ora anunciada podem vir a atingir muitíssima gente, muita mais que a da simples Eurozona. Embora em escalas diferentes acaba por impactar direta ou indiretamente nas economias e pessoas de todo o mundo. Percebe-se, pois, que todo o mundo se pronuncie a propósito.

A medida está porém tomada e agora o foco da discussão é (ou deveria ser): para onde canalizar todo esse dinheiro? A que projetos o destinar? Privados? Públicos? Setor primário, secundário ou terciário?

Alguém defendia há dias a 'distribuição de 500€ por pessoa' incentivando-se, assim, o consumo e consequentemente o sector produtivo e, associado, o emprego. Vou deixar esta ideia sem parênteses, por a considerar inexequível e ineficaz.

Voltando aos QEs, trata-se de uma medida inédita na Europa mas replicada de outras geografias (EUA, UK and Japan) e, por ir mexer com todas as outras economias, muitos o lembram, terá seguramente consequências imprevisíveis quer nos países da Eurozona quer, por extensão, em todo o lado. Muitos a receiam e mais a aplaudem.

Atento e expectante coloco-me do lado de quem a aprova.

A Eurozona tinha chegado a um ponto crítico de deflação e, a avaliar pelo que passa nos media - nomeadamente na especializada - a única ferramenta conhecida para a tentar debelar seria esta (veja-se a razão da estagnação económica no Japão nos últimos anos).

Para além do desconhecimento do que irá acontecer, 'a vida faz-se caminhando', apoio-a, ab início, por ela fortalecer o projeto europeu. Na medida em que as economias e finanças dos 19 se vão cruzando e consolidando também por aí, a união política se robustece. Apenas boas e singelas intenções não serão suficientes para manter a União, que tanto prezo.

De resto, estas EQs não são muito diferentes das Eurobonds que em tempos aqui defendi. Vieram agora e ainda bem.

Notas
1.
Um dos nossos banqueiros, Mira Amaral, veio a terreiro este fim-de-semana para afirmar que não é por questões de liquidez dos bancos que o dinheiro não chega às empresas mas sim por falta de projetos...
2.
Os bancos, incluindo o BdP, pagam uma taxa ao BCE pelo excesso de liquidez que detenham; isto para dizer que os bancos nacionais (e todos em geral) só recorrerão a este financiamento se lhes chegarem projectos e projectos em que eles mesmo acreditem ou seja com retorno assegurado...
3.
Espero que a Alemanha não venha a ter razão quando colocou reservas a esta solução.
4.
O BCE de Mário Draghi parece querer confirmar que tomou as rédeas da condução da economia europeia - papel que lhe cabe, diga-se -, deixando a poderosa Alemanha de lado. A Alemanha não tem tido coragem em assumir a sua qualidade de propulsor económico da Europa por não querer suportar os custos que essa hegemonia obriga; bastava ver o papel que os EUA desempenharam no mundo após a II Guerra...

domingo, 11 de janeiro de 2015

O Coreto

1.
Ali, na Av. Montevidéu, no jardim acabado de renovar junto à praia do Homem do Leme, existe um coreto, algo tosco, ou para quem queira, um observatório panorâmico para contemplar o mar. Se não é, parece e pode ser usado como tal.
Um dia destes subirei lá para ver o que dali o mar oferece de diferente e interessante.

Numa das minhas matinais caminhadas diárias alternativas, desta vez pela orla marítima e fluvial até à Ponte da Arrábida, já de regresso pelas 11:00H, a uns bons 100m de distância do coreto, o som de uma música tradicional portuguesa começou longinquamente a chegar até mim.
À medida que me aproximava os sons iam ficando mais audíveis e definidos. Identifiquei: 'Oh Laurindinha vem à janela'.
Curioso e intrigado pela inusitada escolha musical, fui avançando e, em breve, já trauteava a conhecida cantiga popular. Não parei para não perturbar a sua execução mas refreei o passo para, durante mais tempo, a poder apreciar e acompanhar.
Em passo lento captei o cenário: um desconhecido - se calhar ilustre - munido de uma gaita-de-foles, altivo, de peito aberto e perscrutando o além-mar, soltava a melodia ao vento, a 'plenos pulmões'. Dos foles da sua gaita saía uma alma lacrimosa ou uma alegria aprisionada. Continuei de mansinho respeitando seu carpir.
A quem era destinada? A ele próprio? À sua amada? Ao puro prazer do exercício da liberdade? Mistério que fica por desvendar.
Ao deixar de ouvir, estuguei o passo mas o episódio insólito ficou registado.

2.
Era eu rapaz, menino de 7,8 anos, morava num lugarejo de nome Atães, Fermil, Celorico de Basto (hoje pertença de familiares).
Era verão, altura das festas e romarias. Era já noite alta, talvez 23:00H, e, por ser verão, dormiria mais tarde.
Por volta dessa hora, um dos músicos  da banda local (nunca soube quem) regressava a casa depois de um dia de folia pela estrada, ainda em Macadame, que serpenteava pela região.
Talvez animado ou inspirado pelo fim de festa, parou na curva de uma encosta a que chamávamos 'saibreira', justamente em frente à minha casa e, tirando seu clarim da caixa, soltou 'El Silencio'. Aquele som surpreendente e mavioso, ecoou e reverberou por aquele imenso vale que infindava dos pés da encosta, perfurando o escuro da noite, abrilhantando ainda mais o intenso mas suave luar de Agosto e retemperando a canícula daquele verão.
As orquestras dos grilos e das corujas, pasmadas com esta nova melodia, pararam as suas sinfonias e placidamente foram adormecendo e sonhando com esta música que amanhã ensaiariam.
... ainda hoje aquele som chega até mim.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Os (novos) 15 pecados da igreja, segundo Francisco

1.
Acompanho a alguma distância os assuntos da Religião Católica seguida, ainda a maior, da Islâmica, da Hindu, Budista, incluindo todas as outras de menor expressão por entender que todas elas - cada uma à sua maneira - são imprescindíveis na condução dos povos e por, assim, compreender melhor mais alguns comportamentos das sociedades.
Interessa-me principalmente o lado institucional e social.
É próprio ao ser humano, nos seus momentos mais introspectivos, levantarem-se-lhe dúvidas existenciais para as quais possa não encontrar respostas à mão. Assumir um além, um deus, uma crença a quem as possa confiar e daí obter 'respostas', pode trazer-lhe a quietude de que necessita.
Mesmo o ateísmo pode ser considerado uma religião, não num deus mas, diria, num anti deus. Tem, à semelhança dos crentes religiosos, um crença em algo de onde obtém respostas similares.

2.
A Igreja de Roma, tendo sido também fundamentalista em diversas épocas - recordam-se aqui as cruzadas da idade média e mais recentemente a inquisição -, foi evoluindo lentamente muito em razão do seu chefe espiritual de momento e sobretudo a partir da segunda metade do século XX aproximou-se mais dos seus seguidores.

O perfil do Papa em exercício condiciona e muito a seleção dos itens que queira valorizar no seu mandato, a rapidez da sua implementação e a sua maior ou menor globalização.

Francisco, sucedendo a um Papa fidalgo e curricular e oriundo de um mundo diferente, encontrou terreno sequioso que muito bem trata e onde as suas sementes estão a crescer, algumas já com fruto.

Nas vésperas de Natal fez nova sementeira.
Aproveitando a presença da Curia e o seu estado dormente pelo espírito natalício, passeou o seu arado por entre eles, deixando reflexões importantes para todos.
É certo que aquele terreno é árido e resistente à água fresca. Ouviu-se até o restolhar das cadeiras e o 'frou-frou' das suas imponentes vestimentas encardidas agitando o pó acumulado. Suas mentes começaram lentamente a acordar do longo período hibernal.
Tenho a certeza que perceberam a mensagem de Francisco mas já não a tenho para a quererem passar à prática. Ainda estão demasiado refastelados nas suas vistosas cadeiras cardinalícias para delas abdicarem.

As religiões transportam, também através destes seus agentes, cargas pesadas com sedimentos milenares onde as novidades demoram tempo até encontrarem espaços.

Em Francisco,'Habemus Papa'.

1.    A doença do sentir-se “imortal”, “imune” ou até mesmo “indispensável” 
2.    A doença do “martalismo” (que vem de Marta), da excessiva operosidade
3.    A doença do “empedernimento” mental e espiritual
4.    A doença do planejamento excessivo e do funcionalismo
5.    A doença da má coordenação
6.    A doença do “alzheimer espiritual”
7.    A doença da rivalidade e da vanglória
8.    A doença da esquizofrenia existencial
9.    A doença das fofocas, das murmurações e do mexerico
10.  A doença de divinizar os chefes
11.  A doença da indiferença para com os outros
12.  A doença da cara funérea
13.  A doença de acumular
14.  A doença dos círculos fechados
15.  A doença do proveito mundano, dos exibicionismos