terça-feira, 9 de julho de 2013

"Dentro do Segredo", de José Luís Peixoto

Uma Viagem na Coreia do Norte
"Após o bombardeamento de Hiroxima e de Nagasáqui, o Japão rendeu-se aos aliados em Agosto de 1945 e, nesse mesmo momento, terminou o seu domínio sobre a Correia. No mês seguinte, as tropas americanas chegaram ao sul da península. O exército soviético, acompanhado por grupos comunistas coreanos, estava já em algumas áreas do norte. Numa reunião de emergência, com vista a determinar estejas de influência, o coronel americano Dean Rusk porpôs ao general soviético Chischakov a criação de uma fronteira no paralelo 38. Essa passou a ser a linha de divisão entre a Coreia do Sul e do Norte"

"Actualmente, a Coreia do Norte é o país mais militarizado do mundo. Com vinte e quatro milhões de habitantes, tem o quarto maior exército do mundo, com mais de um milhão e cem mil soldados armados, cerca de vinte por cento de todos os homens entre os dezassete e os cinquenta e quarto anos do país. Em caso de necessidade, conta com uma reserva operacional de quase oito milhões de homens. O serviço militar é obrigatório para todas as pessoas que estejam aptas fisicamente e dura um período máximo de dez anos"

"Ainda no final dos anos oitenta, a União Soviética exigiu a devolução de empréstimos que o Coreia não tinha possibilidades de pagar. Em 1991, com o fim da União Soviética, a ajuda terminou abruptamente e a agricultura norte-coreana não foi capaz de produzir os alimentos necessários para o país. Durante algum tempo dependeram da China, que, em 1993, garantia 68% da alimentação e 77% de todos os combustíveis consumidos na Coreia do Norte. Logo depois, ainda nesse ano, quando a China teve dificuldades, a ajuda foi cortada de modo radical"

"... as (cheias) de 1995 destruíram toda a produção agrícola e 85% da produção hidroeléctrica do país"

"... o número de mortos ligados à grande fome oscila entre os duzentos e quarenta mil (dados Norte-Coreanos) e os três milhões e quinhentos mil (dados internacionais)"

“Entrei em algumas salas, que tinham sempre as fotografias dos líderes. Entrei também no laboratório, onde não faltavam as cobras em frascos e os animais embalsamados, entre os quais um tigre com ar ameaçador mas com a cabeça achatada, deficiente.Também estive na sala da disciplina da História das Actividades Revolucionárias de Kim Jong-il: as paredes cobertas pela sua cronologia. A sala da disciplina de História das Actividades Revolucionárias de Kim Jong-il era parecida. Estava em silêncio, a fazer mentalmente essa constatação, quando uma rajada súbita de vento abriu a janela com toda a força. De repente, o caos. Para além do barulho, as cortinas estenderam-se a dar corpo ao vento e explodiram papéis no ar, eram as folhas de pequenos dossiês que estavam a meio das secretárias, partilhadas durante anos pelos alunos que ali se sentavam.A professora preocupada, a fechar a janela e, depois, a recolher todos os papéis do chão”

O inconformismo, o desconforto e a ambição de liberdade para aquelas gentes provoca em JLP alucinações como as descritas neste parágrafo e aviva nele o lado poético.

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