terça-feira, 16 de abril de 2013

"Uma Morte Súbita", J.K.Rowling, Nov'2012

Tinha alguma curiosidade, à partida, para a leitura deste livro de J.K.Rowling.
Embora não tendo lido qualquer livro ou visto qualquer filme da série infanto-juvenil Hary Potter, pelo menos por inteiro, acompanhei os seus enormes sucessos tanto a nível nacional como internacional.
Num City-Tour em Manchester a sua residência temporária no Bournville Hotel foi referida e acolhida com entusiasmo por outros portugueses que comigo por aí turistavam.
Ofereci um dos seus livros da série Hary Potter em dia de aniversário, a uma prima minha – Vera – cujos olhos brilharam de alegria ao recebê-lo.
Não tenho opinião pois sobre essa série, apenas lhe conheço os contornos e impactos (alguns) na vertente social. Apesar disso, alimenta-me a curiosidade de ver o seu comportamento literário nesta sua primeira tentativa para adultos.
Como fará a transposição da linguagem infanto-juvenil para adultos; que tipo de escrita praticará; que temas abordará; qual o seu alcance …
Por curiosidade regista-se que JKRowling viveu algum tempo aqui no Porto onde se relacionou com um português e desse relacionamento nasceu um filho (1993).

É outra ainda a minha curiosidade: o fato de ser uma escritora mulher. Conheço algumas, poucas, mas por contraponto com escritores homens - para muitos dos quais consigo ter uma opinião, embora que generalista -, idêntica opinião não tenho ainda sobre escritoras mulheres, por existirem menos em quantidade (ou serem menos publicitadas) e consequentemente tê-las lido menos. E acrescento que se tal acontece não é por razões de machismo ou mera exclusão. É-me completamente indiferente ser escritor homem ou mulher. Do que relevo mesmo é da sua mais-valia enquanto escritor.
Vou lê-lo de seguida.

Já vou para além do meio do livro e estou confuso não sabendo de momento e nesta fase da história se a minha opinião/desilusão se deve a mim mesmo se à qualidade da escritora: escreve, escreve, escreve, e não se vislumbra onde quer chegar. O fio condutor da narrativa é errático, disperso e até confuso. Até agora não segue por nenhuma autoestrada antes recomeça vezes de mais e por estreitos atalhos. Não estou em condições de afirmar que este modus scribere seja caraterística pelo fato de ser escritora mulher. Ocorre-me contudo a ideia generalizada de que as mulheres, diferentemente dos homens, detêm uma capacidade peculiar para expor várias situações em simultâneo. Será o caso? Fico curioso; se assim for, como é que serão as próximas páginas!?

Acrescento porém que a escrita é simples, escorreita, nada complicada e contém – como esperava, confesso – temas, expressões e abordagens que um escritor homem, por norma, não usa. Minuciosa, intrincada mas pouco consistente. São férteis as ideias mas dispersam-se e dispersam o leitor baralhando-o.
Não tem especial scope: fica demasiado amarrada à história (às muitas histórias) e não consegue que o leitor, a partir daí, divague por conta própria. O leitor fica excessivamente confinado às pequenas histórias.
Reconheço-lhe capacidade narrativa, a muito bom nível, mas ao serviço de pouco; de nenhuma história em concreto.

Já acabei o livro e, decorrente do que atrás disse, confirmo a minha deceção. Fez-me lembrar um pintor que pretendendo obter um determinado resultado inunda o quadro de tantas pinceladas e cores que no final resulta algo psicadélico de difícil e duvidosa leitura. É o caso desta narrativa. Partindo de uma ‘morte súbita’ e não explicada, reconstrói comportamentos, usos e costumes, ambições, desilusões, enganos e desenganos de pessoas de uma aldeia. Retrata, enfim, o comportamento em puzzle das gentes que aí vivem mas de forma pouco inovadora e com pouca convicção, abusando do perfil e linguagem brejeiras dos personagens usados. Não fundamenta capazmente as duas mortes finais, escolhendo gratuitamente as duas personagens mais frágeis.

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