terça-feira, 20 de novembro de 2012

Marina, de Carlos Ruiz Zafón

O estilo de escrita é uma forma muito pessoal de expressão que se vai consolidando à medida que se experimenta; resulta tipo impressão digital. Quando se diz que alguém escreve com laivos Queirosiano, por exemplo, apenas se pretende com isso catalogar estilos, sendo que não haverá dois exatamente iguais. Cada pessoa encontra a sua própria forma, o seu estilo de vestir as suas ideias. Os escritores, como os estilistas de moda, expressam-se de forma pessoal. Aliás, mesmo que quisessem copiar alguém não o conseguiriam. O cunho pessoal sobrepor-se-ia a outro qualquer estilo.
O resultado final - neste ou naquele formato - não melhora nem diminui as histórias, apenas são contadas de forma diferente, agradando mais este ou aquele estilo de acordo com cada leitor. Nem se poderá dizer com segurança que o estilo mais simples consuma mais páginas. Sabemos que há palavras que resumem conceitos mais alargados mas não significa que se abundantemente usadas consigam reduzir mais os testos.

Resumo em quatro os estilos com que chegam ao leitor:

. os que escrevem como se caminhassem sobre areia fina:
Escrita de aparência simplista, de leitura fácil, corrida. Até parece que o texto já existia e que o escritor se limitou a copiá-lo para livro, tão simples aparece ao leitor a exposição da narrativa.
A ação obedece a uma sequência lógica, e o leitor passeia-se pelas páginas do livro sem esforço, como se caminhasse descalço sobre arreia fina.
As palavras usadas são simples e de primeira interpretação. Exemplo: Haruki Murakami em 1Q84;

. os que escrevem como se caminhassem sobre areia grossa:
Os testos são trabalhados e remendados até ser encontrada a forma final. Nota-se que muitas páginas foram rasgadas entretanto. O discurso é menos fluido e são usadas palavras com conceitos mais concentrados. As imagens de estilo parecem tiradas de um caderno de ‘não se esqueça’. Exemplo: Carlos Ruiz Zafón, em Marina;

. os que escrevem como se caminhassem sobre pedras:
São usadas palavras com conceitos mais concentrados ainda, obrigando a presença do dicionário ou leitores já ‘formados’. O escritor saltita, recua e entrecorta a ação obrigando a uma atenção redobrada para o acompanhar. Exemplo: José Saramago, em O Memorial do Convento;

. os que escrevem como se caminhassem numa montanha:
Ensaio. Leitura acessível a menos gente, quase só para académicos. O Escritor não fica preso ao formato de romance ou poesia, antes percorre todos os estilos e formatos, incluindo histórias que se cruzam no tempo. Exemplo: Humberto Eco, em O Pêndulo de Foucault;

Quanto a este livro de CRZ, Marina: não fiquei convencido. Por curiosidade fui ver um pouco da sua bibliografia. Tem poucos romances publicados o que pode justificar a necessidade de um maior treino nesta área do romance. Porém, e quanto a este livro, sempre direi que é quase agradável, veiculando uma história algo interessante e razoavelmente bem escrito. A sua leitura obriga a alguma atenção; bonitas figuras de estilo.

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