terça-feira, 16 de outubro de 2012

"Rio das Flores", de Miguel Sousa Tavares

Até parece que, através deste livro, MST quer associar-se a todos aqueles que ainda hoje sentem necessidade de exorcizar a era Salazar ou, também, associar-se à necessidade de uma certa catarse nacional dessa época.
A história descrita neste romance histórico decorre na primeira metade do século XX, com enfoque especial nos anos 1936/1945, incorporando episódios e fatos da guerra civil espanhola e da II guerra mundial e o comportamento de Portugal, chefiado por Salazar, perante elas.
Os fatos, os episódios aqui recordados são, em geral, já conhecidos mas, acrescento, nunca será demais avivá-los, trazê-los à luz do dia, repassá-los às novas gerações como testemunho do que foram esses terríveis anos, inculcando-lhes o custo e o gosto pela liberdade, pela democracia e pela paz.
A Europa (e o mundo ocidental em geral) tem hoje a posição cimeira de que se orgulham porque aprendeu com os erros do passado, com muito sangue, a implementar soluções coletivas duradoiras, e alicerçadas nos grandes e, então, novos valores morais, principalmente o que mais faltava: a paz. Foi somente a partir da segunda guerra, recorda-se, que se acabou com a banalização da morte. O valor da vida humana, e não só, foi a partir daí muito mais respeitado e conseguido. Nunca mais houve tantas arbitrariedades e mortes.
É comum aceitar-se o número de 45,000,000 de mortos na II guerra mundial e entre 330/450 mil em Espanha.
Há mais de 65 anos que há paz na Europa.
Os principais valores que há mais de 150 anos vingaram na Revolução Francesa (1789: Liberté, Egalité, Fraternité) e que rapidamente se espalharam pelo mundo civilizado, foram ideias força importantes que informaram positivamente a gestão das sociedades futuras. Faltava o maior deles: a paz. A Europa e o mundo, contudo, não estavam nessa altura ainda preparados para dar esse grande passo, o passo para a paz. Só depois da catástrofe da II guerra é que foi possível agregar países para essa causa.

Quanto ao romance ficou um pouco aquém das minhas expectativas. Lê-se com facilidade. Escrito com laivos Queirosianos, peca porém por falta de adrenalina, aquela substância que anima a alma e que aqui não é ativada no leitor, concretamente nos primeiros 2/3 do livro; no último terço redime-se um pouco.
A leitura decorre lenta mas gostosa a um nível chão, como bem terreno é todo o cenário da narrativa.
Viagem romantizada ao século XX, até ao final da II guerra, com enfoque bastante detalhado nos incontornáveis e odiáveis ditadores reinantes nessa altura. De Salazar a Hitler, passando por Mussolini, Engelbert Dollfuss, Franco, Getúlio Vargas – personagens por quem MST nutre um especial ódio de estimação e contra quem verte seu imenso fel.
No último terço do livro encontra-se uma ou outra página particularmente vibrante e acordatória, concretamente o curto discurso de Pedro para com o irmão Diogo após o regresso daquele da guerra civil espanhola para onde se voluntariou pela defesa das suas causas.
Curiosamente MST quase que não utiliza as tradicionais imagens de estilo; não que sejam necessárias mas sublinha-se pela novidade.

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