A Maria foi hoje enterrada(cremada).
Uma vida de apenas 17 anos desistiu da vida e pôs-lhe termo de forma cruel.
Uma tragédia.
Uma tragédia num só acto!
Uma agressão brutal para si mesma, para pais e irmã e para todos os envolvidos onde me incluo. Centenas deram-lhe um último adeus numa tristeza calada e sofrida.
Acompanhei a Maria desde que nasceu até agora aos 17, idade com que conheci a mãe dela, a Mónica. Fiz muitas viagens para a Universidade do Minho com a Mónica, a Sara (filha) e várias amigas de ambas. A casa em Braga era a mesma cheia de cumplicidades. As amizades evoluíram e nunca mais se separaram. Os filhos de ambas vieram, dois de cada; os maridos encaixaram muito bem e consolidaram amizades em proximidades e visitas mútuas assíduas. Férias quase sempre juntos, internas e externas. Parte económica de bom nível. Tudo a dar certo com vidas felizes.
E eu de coração cheio a assistir embevecido a tudo a muito curta distância muitas vezes junto.
E agora, inexplicavelmente, isto!!!???
Atónitos e atordoados procuram-se indícios explicativos da loucura. Busca-se e rebusca-se em todos os escaninhos e nada se encontra. Resultado da autópsia? Oxalá explique o inexplicável: haveria pelo menos uma causa e saía-se, pouco que fosse, das interrogações em catadupa.
E os meus netos??? que foram parceiros de brincadeiras toda a vida apanhados em idades tão imberbes???
Assistiram chorosos a tudo. Viveram intensamente cada episódio com perguntas adolescentes. Que marcas gravarão naquelas mentes em turbilhão?
Consegui manter os quatro sempre por perto num prudente silêncio, traindo-me apenas por lágrimas próprias incontidas que engrossavam as deles. Quis que experimentassem os momentos autênticos que por vezes aparecem ao virar de uma qualquer esquina sem influências externas. O seu laboratório de emoções ganhou novas experiências. Não os poupei a nada. Abraços firmes e fortes são suficientes. Verifiquei que os pais, eles também num sofrimento sem nome, fizeram o mesmo: deixaram que vivessem.
E amanhã?
Amanhã virá o Sol, depois nuvens, umas passageiras outras mais estáticas e a seguir novamente o Sol. Afinal, foi sempre assim e assim vai ser.
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