das auroras boreais
do gelo
da neve
da lava
dos vulcões
das placas tectónicas
dos ríftes
das lagoas
das cascatas
das crateras
das quedas d’água
das piscinas naturais
da central geotérmica
dos vales
do canhão
dos fiordes
dos geysers
dos glaciares
das planícies
dos prismas hexagonais
das grutas
das baleias
da diamond beach
dos banhos termais
das povoações dispersas
do bacalhau!!!
foi marcada com bastante antecedência, pelo que durante esse tempo tudo o que de novo se passava na Islândia/IceLand (omq terra de gelo) foi-me caindo em pequenos pedaços como as partículas de neve que por lá esvoaçam até poisar. Ao conhecimento que tinha do país outros se lhe juntaram: o que chega à grande imprensa no dia-a-dia e o disponível na net. Para não especialistas ou, por outra, para quem se empenha em agarrar um pouco de tudo em tempo útil, encontra na Wikipedia - mesmo c/ a falta de rigor que esta fonte possa conter - uma resenha que o posiciona no essencial, dotando a pessoa de um background informativo e aproximativo que a capacita a abordar o país, já in loco, com uma abrangência razoável e tornar, assim, o tour mais rico, mais emotivo e mais empolgante.
Como lá está dito, o país tem a sua própria história, secular, recheada de sucessos e insucessos, de avanços e recuos, de fome, guerras, vulcões, epidemias, emigrações… igual a muitos outros, mas também lá é dito, e nós sabemos, ser dos países mais ricos e desenvolvidos do mundo (6° - PiB nominal per capita: 72.000 USD. PT: 26.000 USD. Ucrânia: 3.500 USD. - indicadores de antes desta guerra Rússia/Ucrânia).
Para não ir muito atrás, partamos do pós segunda guerra, e ficamos a saber que, step by step, se tornou num país do primeiríssimo mundo.
Retiradas as tropas aliadas inglesas que lá se posicionaram durante a II guerra e financiado também - como tantos outros - pelos dinheiros do Plano Marshall, iniciou a lenta ascensão económica baseada essencialmente nas pescas e na agricultura, apesar desta última ser ali bem difícil e trabalhosa. Com a entrada na EEE (1994) e com a liberalização da economia - mais tarde se veio a revelar excessiva -, atingiu níveis de desenvolvimento e riqueza impressionantes.
A crise de 2008, porém, atingiu-o violentamente, tendo provocado o colapso bancário e forte contração da economia, muito alavancada pela descontrolada liberalização bancária.
Passou tempos de aflição, como o mundo em geral. Então em Portugal!!!!… foi um sufoco, um sofrimento e um pesadelo, acrescido do que se seguiu à bancarrota de 2011, com o inevitável resgate pela Troika e as inesquecíveis imposições draconianas ao nosso modelo económico.
Mas na Islândia foi apenas um intervalo para a retoma. Socorrida, também, pelo FMI, aos setores tradicionais instalados - serviços, finanças, indústria (alumínio), (menos) pesca e agricultura, muito suportados em energias renováveis, mais baratas, incluindo principalmente a geotérmica (recurso ao magma terrestre) - acrescentou o Turismo. Com esta reconfiguração da economia e políticas estruturais assertivas, ascendeu outra vez aos melhores rankings.
Belo
Um deleite
Deslumbrante
País de exageros
Uma aposta ganha
Apaixone-se pela Islândia
Paisagens avassaladoras
Ambiente fantasmagórico
Muitos lugares maravilhosos
Quedas de água monumentais
Mil e um lugares extraordinários
Não há nenhum lugar como a Blue Lagoon
Invulgar
Imperdível
Preciosidade
Impressionante
Espetacularidade
Delícia
Surreal
Paraíso
Fabulosa
Magnificente
Encantadora…
Desta vez, prescindi do poeta que costumo levar a tiracolo. Nem lhe senti a falta.
Islândia é um poema.
Mais que um poema intangível
é um hino à natureza
no seu estado original e puro.
Sem mácula.
Liberto da adrenalina que antecedeu e animou a viagem (mas já em posse de outra), é agora o tempo de a degustar em pequenas porções, acondicionar os ingredientes colhidos e fixar a receita, com a certeza de que à sua confeção recorrerei amiúde.
Onde a noite não chega a ser criança.
Fomos recebidos pelas 01:00H com um pôr de sol lindíssimo de tons pastel, pincelados por longos traços cinza-escuro cujo objetivo parecia ser o de enfeitar o horizonte e a planura raiada que jazia serena a seus pés, como uma oferta de boas-vindas e promessa de uma bela semana. Aceitei a oferta deste tónico cujos efeitos senti de imediato e que duraram até ao final da viagem.
Apesar de avisado da possibilidade das quatro estações poderem ocorrer a cada dia, o clima revelou-se generoso e bom sem grande necessidade de rebuscar o fundo da mala à procura de roupas mais quentes.
E não demoraram.
Serras geladas, outrora nevadas, moldavam o horizonte umas, furavam o céu para picar as estrelas ou as auroras boreais, quem sabe?, outras. Umas tantas, desnudavam-se imponentes à passagem e mostravam-se tal e qual como nasceram. À vetusta idade de muitas acrescentava-se alguma fraca vegetação, alternante com a lava escura a lembrar a sua origem secular. Perfilavam-se e ladeavam o transeunte em jeito de guarda de honra, ora em vales longos, ora em vales profundos mesclados de verdes clareados por um sol hesitante, vales esses que lhes suportavam o peso. Seguíamos intimistas com mente milenar, intemporal, de serra em serra, de planalto em planalto, de planície em planície, de fiorde em fiorde, de praia em praia… sempre encaixados entre montanhas majestosas.
Estradas de pisos suaves serpenteavam pelos incontáveis fiordes que ao penetrarem terra adentro mais pareciam uma rede de canais coletores e condutores de água a drenar para o mar.
Mais longe ou menos longe as neves eternas dos grandes glaciares pintavam as sombras do horizonte de um branco irregular e vivo, enquanto agarravam o nosso olhar com força hipnótica. Quedas d’Agua, menos ou mais caudalosas, borrifavam umas e salpicavam outras; outras molhavam, quem, sedento de proximidade, delas se abeirava. Um banho era garantido aos audazes que ousaram desafiar e contornar os 360° da SeljaLandsFoss… (private joke: honra e glória para 'os bravos do pelotão': à CaraR, CarlaS, Dulce, Manuel and MySelf: molha completa).
Quedas de Água: uma das supremas demonstrações da grandeza incontrolada e simultaneamente bela da natureza. E tantas eram; abundavam e surpreendiam. Umas pela quantidade de água que brotava lá do alto e se precipitava ensurdecedoramente no abismo; outras que jorravam de altura de queda inatingíveis; outras pelo penteado ondulante que deixavam na queda ao serem desviadas pela força do vento…
Cascatas, essas filhas menores das Quedas, correm encostas abaixo, saltitando alegremente de socalco em socalco, de pedra em pedra, de areia em areia até se saberem filtradas de impurezas, oferecendo-nos à chegada o precioso líquido pronto a saborear, límpido e fresco.
Todas, Quedas e Cascatas, despertam em nós um efeito encantatório verdadeiramente impressivo. Intenso. Quiçá pela proximidade que permitem, quiçá pela interação que facultam, quiçá pela bela estética que traçam no espaço, quiçá pela harmonia que emprestam ao conjunto… que sei eu!?, o certo é que a elas todos se querem chegar e delas todos se demoram a afastar trazendo no fio do olhar, na ressonância auditiva, no fundo da alma e bem mais perto do coração aqueles cenários deslumbrantes.
Apetece aprisionar estes momentos de êxtases.
Apetece partilhá-los com o mundo.
Apetece esticar o tempo.
Apetece imergir neles.
A alma humana cede perante esta imensidão incompreensível. Apequena-se humildemente. Busca explicações mas refugia-se no limbo contemplativo. Contenta-se com a anestesia que recebe das gotículas aspergidas.
Aproximávamos o olhar da cratera, investigávamos minuciosamente o borbulhar da água, seguíamos o fio do vapor expelido, atentávamos às alterações na caldeira, sempre de ‘olho em riste’. Alterações repentinas na boca da cratera indiciavam, ou não, movimentações lá embaixo nas profundezas. Talvez. Talvez. ‘O que eu andei para aqui chegar’ robustecia a paciência; um dichote para o vizinho do lado compartilhava e aliviava o frisson da espera.
Et voilá!
Uma explosão inopinada saída das entranhas daquela terra fervente atira-se ruidosa e vaporosa para o espaço num crescendo apoteótico. As entranhas de todos nós, comprimidas pela longa demora, explodiram em sincronia num ah! ah! ah! gritado de Happy End.
Ato heróico para uns, aventura frenética para poucos.
Não foi unânime a vontade para navegar 'por mares nunca antes navegados' e, menos ainda, flutuar em águas alterosas como se dentro de cascas de noz estivéssemos. As dúvidas fizeram-se ouvir. O que estará Vasco da Gama a pensar destes seus filhos? Fazendo jus à coragem dos nossos bravos marinheiros quinhentistas e na sombra da sua gesta, todos se fizeram ao largo, com uma prece a Neptuno, uma benzedura adicional, um olho em estado de alerta a investigar o paradeiro das baleias e outro, em alerta também, atento às manobras do barco e à agitação marítima.
Onde andarão elas? - Era a pergunta surda que todos se faziam.
O radar de cada um varria toda a área na busca do chafariz identificador do cetáceo, enquanto o barco furava o mar agitado. Sentia-se, a bem da verdade, a arte de bem navegar aos comandos do leme. Conduzida com sábia mestria, a embarcação sulcava as ondas com vigor, enfrentava-as destemida, galgava-as com indiferença, surfava-as com agilidade.
A bonança, desejada por alguns, não aparecia aumentando o desespero dos aflitos.
E as baleias?
O barco seguia seu rumo, rodando às ordens do El Comandante para as 10:00, para as 03:00, para as 06:00h, sempre na busca do fugidio gigante dos mares.
Os 'filhos menores' dos nossos marinheiros heróis, também conhecidos por 'marinheiros de água doce', começaram a ceder à inexperiência da navegação. Sentados ou amparados por ombro amigo, com o mesmo olho na baleia e outro no estômago revolto, rezavam pelo fim da aventura. E o estômago nauseado continuava a ceder aflitivamente, a tal ponto que… bem, vamos ultrapassar esta parte.
E o cetáceo que não aparece!?
Ali, Ali.
Gritos uníssonos na proa e dedos em riste a apontar para a 'baleia à vista', acordaram os entorpecidos e abriram o olho vigilante, o mesmo, dos encostados à popa ou na meia-nau. ‘Tarde piaste’, a baleia tinha submergido.
Atento, o Mestre, rapidamente reorienta o barco com movimentos bruscos e persegue o rasto do mamífero encorajado pelo bruaá dos ansiosos.
À distância do disparo de um click, aliás muitos, um corpo fusiforme e volumoso descreveu à superfície uma curva suave para logo desaparecer. Mais à frente noutra aparição respirou um jato vaporoso, frondoso e sonoro, seguido de novo mergulho. Seguimos expectantes a superficie das águas e valeu a pena: fomos agraciados com pequenos recortes acrobáticos num último adeus enquanto se afastava para sempre.
Foi curta a aparição. Tão depressa apareceu mais depressa se foi.
Refeitos e satisfeitos com a visão deste animal milenar, regressamos à serenidade com a sua imagem na retina e forte ambição de que continuem a ocupar o seu lugar no nosso ecossistema.
Já de regresso, ainda houve tempo para que os 'filhos maiores' dos nossos marinheiros, marinheiros de provas dadas e experimentados como eles, honrassem a sua coragem e bravura brindando-os com uma chávena de cacau quente, aliás duas, e um bolo gostoso, aliás dois.
"Quem vai pró mar avia-se em terra".
Blue Lagoon
Já no final do Tour, em jeito de Fim de Festa, e como corolário de uma bela semana, fomos a banhos.
- Onde?
- Blue Lagoon
E que belo banho.
De repente tudo ficou reduzido ao tamanho da Lagoon. Que importa o que se passa fora daqui se aqui se está tão bem?
O Grupo fechou-se ao mundo e dentro da sua bolha viveu o momento. Entusiasticamente. Vibrantemente. A bolha foi ajustando o seu tamanho para que lá coubessem a alegria contagiante, a transfusão da amizade, o gosto de viver, o prazer da descoberta de outros ambientes. Não foi necessário furá-la para aceder a uma bebida revigorante ou disfarçar as rugas do rosto com argila rejuvenescedora. Ou submergir nas águas sulfurosas em busca da eterna juventude. Houve quem (private joke) se amarrasse à chave do cacifo - e disso desse aviso público - com receio de não ser reconhecido quando emergisse… Houve espaço ainda para um duche na cachoeira, uma sauna e banho turco. Saudamos a vida, o futuro e a amizade com um brinde sonoro, efusivo, partilhado e feliz, a tal ponto que a bolha rebentou e dela saímos para a etapa seguinte. What Else?
Obliterei, deliberadamente, os dias de pandemia e guerra que por estes dias nos assolam e atormentam. Uma pausa. Será?
Uma palavra de satisfação pelo companheirismo pronto, franco, comprometido e amigo da CarlaR, CarlaS, CarlaG, Dulce, Branca, Eduarda, Manuel e Jorge.
The last but not the least: uma palavra de desolação por à última hora um elemento muito querido da Equipa ter ficado retido ainda em Portugal por motivos ponderosos. Sei que está bem e isso importa. Haverá uma próxima, Raquel.
Este nosso mundo é tão desigual!
tão desigual!
no que diz respeito ao Índice de Desenvolvimento Humana (Islândia 4°, PT 38°, Camboja 144°, Moçambique 181°!).
Seria um desafio bem, bem difícil - porque mundos conflitantes - meter numa mesma tela os diversos africanos, os diversos americanos, os diversos asiáticos, os diversos orientais, os diversos da oceania (não conheço nenhum), os europeus. Uma tela para cada um? Talvez, mas resultaria, mesmo assim, sempre imperfeita. Muito imperfeita.
O fosso entre um europeu e um africano, p. ex., é tão intransponível que se vão manter assim irremediavelmente afastados. Até quando? Ad eternum, uma vez que as forças que os animam são antagónicas porquanto auto-protetoras e umbiguistas.
Não me refiro, obviamente, enquanto seres humanos, raças ou credos pois aqui os mundos são inextricavelmente iguais - apenas com rituais diferentes -, mas sim enquanto seres aspirantes ao bem estar e à satisfação das necessidades primárias como beber, comer, vestir, saúde…
A riqueza muda de mãos, de zona, de continente até - quantas vezes com recurso a guerras -, mas haverá sempre quem fique esquecido atrás das masmorras da indiferença do mais forte.
Estarei a ser pessimista? Infelizmente e com muito pesar, acho que não. A história diz que se manterão distantes.
Sempre.
Parabéns!
ResponderEliminarDescrição fabulosa!
Mais uma a juntar à tua cronologia...!
Grande abraço amigo
Jaime Pruxa
Que descrição maravilhosa, obrigado António,a nossa viagem inesquecível...
ResponderEliminarEste comentário aparece como pertente a anónimo. Quem o escreveu, pergunto?
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