sexta-feira, 20 de outubro de 2017

'China Clássica', com a PLV


 I) Antevisão da Viagem
Preâmbulo
Visitados que foram os lugares mais icónicos, mais promovidos e de orçamentos mais acessíveis, restam os longínquos, também entusiasmantes, mas financeiramente mais exigentes. China, Índia (será que quero?), Vietnam/Laos/Camboja, Malásia, Singapura, Dubai, Austrália (tão distante…!), Argentina/Patagónia... enfim, um lote de boas opções ao dispor de oportunidades que o tempo se encarregará de definir e ordenar.

Comecemos pela China.
  • Quem nunca ambicionou passear-se por lá (e porque não haverá uma segunda vez), nomeadamente pela chamada China clássica?
  • Quem nunca desejou calcorrear-se pela sua célebre Muralha (Unesco)?
  • Quem nunca, mormente a partir do filme ‘O Último Imperador’ (1987/nove Óscares/vi), teve curiosidade em coabitar, por pouco que seja, com tudo o que se passou nas entranhas daquele secular Palácio Imperial - ‘Cidade Proibida’ - onde se equacionou muita da história daquele enorme país?
  • Quem desprezará conhecer o tempo de governança política de Mao-Tsé-Tung?
  • Quem não quererá revisitar os acontecimentos ocorridos na Praça Tian'anmen de 4 Jun de 1989? (lembro-me particularmente bem desse dia em que os tanques avançaram sobre os estudantes que se manifestavam pacificamente matando centenas senão milhares deles) http://dinamico-dinamico.blogspot.pt/2014/03/1989-europa-adentro.html
  • Quem não se lembrará do que diz a história sobre o quotidiano daquele(s) povo(s) nos tempos mais antigos, mais recentes e os dos nossos dias?
  • Quem não estará interessado em ver a funcionar em coexistência pacífica os vários sistemas - contraditórios - num país de orientação comunista, de partido único?
  • Quem não se interrogará sobre a ‘paciência chinesa’ na tomada de posições sobre assuntos que para os ocidentais são para ontem?
Será que o relógio chinês já acelerou?
Deveria acelerar?
  • Quem não quererá perceber como é que a China chegou à hegemonia da economia mundial, logo a seguir aos EUA?
  • Quem ousará desvalorizar o decréscimo dos níveis de pobreza daquele povo nas últimas 3,4 décadas para cifras na ordem dos 40%?
  • Quem esquece o atual poder nuclear chinês e o seu numeroso e poderoso exército (o maior do mundo), recorrendo aos 1,9% do PIB anual para a defesa (214MM/usd/2015, segundo Sipri)?
  • Que reação podemos esperar da China, enquanto player mundial, no controlo do seu vizinho Coreia do Norte? (75% das importações Norte-Coreanas são oriundas da China)
  • Num contexto do equilíbrio geo-nuclear mundial existente não deixa de ser altamente perturbadora a ideia da China não querer ou não conseguir controlar o seu vizinho. É preocupante admitir a hipótese do seu vizinho não respeitar mais a China e fica-se com a percepção de que, a troco de nada, a Coreia do Norte possa virar os mísseis também para a China...
  • Corresponderá  à verdade esta crónica sobre o financiamento da Coreia do Norte: http://observador.pt/especiais/coreia-do-norte-o-imperio-do-crime-dos-corleone-de-pyongyang/
  • Quem esquece e o que isso significa da quantidade de dinheiro que os EUA devem à China: quase 20% do total da dívida americana?
  • Por contraponto, e no ranking das grandes dívidas dos países a terceiros, seja, também a China, a encabeçar os de maior dívida em percentagem do PIB, com crescimento exponencial na última década?
  • Quem ignora que seja a China, com PIBs anuais médios na ordem dos 8% há vários anos, o motor da economia mundial e que da sua variação muitas outras dependem? (primeiro maior exportador e terceiro maior importador)
  • Como funcionará um país daquela dimensão: 9,5 milhões km2 e com quase ⅕ da população da Terra?
  • O que significa e como se articulam - em coexistência pacífica - as pequenas regiões autónomas especiais de Macau e Hong Kong com dinâmicas económicas e sociais tão diferentes das da grande China?
    • … a que acrescem as cinco regiões autónomas: Mongólia Interior, Tibete, Xinjiang, Ningxia e Guangxi.
    • … não esquecendo a questão de Taiwan.
  • Que importância tem nos dias de hoje a enorme ferida - ainda aberta - na sua relação sempre tensa com o seu vizinho Japão (milhões de mortos na guerra Sino-Japonesa 1937-1945)?

Todos conhecemos a profecia de Nostradamus que em 1500 prevera para esta altura o domínio mundial pelo ‘poder amarelo’...

Pois, é de tudo isto e de todo o resto que fica na gaveta da curiosidade e à mercê da sempre estimulante descoberta que vou à procura. Também ao contacto, tão de perto quanto possível, com as suas gentes, usos, costumes e tradições.

Por ser um país com características únicas - muito por força do seu tamanho territorial e da sua grandeza económica, mas também por ter vivido voltado para dentro durante séculos - vou à espera de novidades surpreendentes. Não detetarei todas as suas idiossincrasias, obviamente, mas irei atento, o mais possível e com as antenas sempre ‘on’.
 
  • Obs_01
Sei que a opção por este tipo de viagens organizadas tem enormes limitações quanto ao conhecimento do ‘país profundo’. Estas viagens ‘guiadas’ e com acesso apenas aos hight-lights que o turismo promoveu, são viagens ‘controladas’, mantendo os participantes sempre num túnel de conforto (em princípio). Ainda assim, e porque não sou aventureiro bastante para uma Self-Trip e por terras em tudo tão inóspitas, alinho na solução tentando, em estado ‘on’ permanente, como atrás disse, colher o máximo que as circunstâncias tiverem para dar.
 
  • Obs_02
Para minimizar os previsíveis solavancos que a ‘aterragem de pára-quedas’ poderá provocar no primeiro embate e de, mais rapidamente, me sentir mais integrado nos ambientes que me aguardam, ainda que de forma curta, reli os principais acontecimentos ocorridos na China desde o século 2.100 a. C., de que retive estes tópicos:

1. Dinastia Xia / Civilização / 2.100 a. C.
2. Dinastia Shang / 1766 a. C. / Auge 1500 a. C. / Escrita / Fundição bronze / Armas e Vasilhame / Trabalharam o jade e o marfim / Extensão territorial: 650.000 km2.
3. Reino de Zhou assumiu Shang em 1046 a. C. / origem da Dinastia Zhou / 800 anos (a mais longa da história chinesa)
4. Em 711 a. C. espartilhou-se por disputas entre reinos e senhores feudais / Tabelas multiplicação / Fundição ferro / Agricultura
5. Entre 485 a. C. e 221 a. C. esteve dividida em reinos.
6. À parte o que se passava com estas divisões, em 221 a. C. Qin (ou Chin ==> China) formou o primeiro império unido chinês / Sistema unificado de escrita / Pesos e medidas / Avançou e completou a construção da Grande Muralha da China, com receio das tribos do norte / Exército Terracota / Esta dinastia durou até 207 a. C. / China actual é igual à desse tempo.
7. Dinastia Han 206 a. C. a 220 d. C. / Artes palco / Pintura / Escultura / Desenho / Papel / Relógio sol / Sismógrafo / Bússola / Anexaram: Coreia e Vietnam / Rota da seda: construção de 6.500 km de estradas para comércio têxtil com ocidente / Fraturou-se em soberanias acabando o império a partir de 189 a. C.
8. Confúcio: 551-479 a. C.
‘Moderação e virtude acima dos proveitos pessoais; assumir o próprio destino’, filosofia ainda influente hoje na China, Coreia, Japão e Vietnam
9. Guerra civil 317-589 entre Hunos e Turcos.
10. Dinastia Sui 589-618
11. Dinastia Tang 618-907 / Reabertura rota da seda para Pérsia, Médio Oriente, Índia, Ásia Central / Literatura / Artes / Cerâmica (porcelana) / Escultura / Impressão / Enfraquecimento a partir 751 / Século X, dividida em pequenos estados.
12. Dinastia Song 960 até séc. XIII
13. Os Mongóis (Gengiscão) tomaram Pequim 1215
14. Kublai (neto de Gengiscão) derrotou a Dinastia Song tornando-se Imperador da China em 1279 / Com Kublai a população chinesa caiu para metade / 30 milhões mortos.
15. Em 1368 imperador Ming expulsou os mongóis da China.
16. Tamerlão (descendente(?) de Gengiscão tentou s/ êxito conquistar a China aos Mings em 1404. Morreu em 1405.
17. Peste Negra séc XIV (transmitida por pulgas que habitavam no pêlo dos ratos) começou (?) na China em 1330 e foi transmitida aos habitantes do Império Mongol pelos guerrilheiros e mercadores da rota da seda / Mortes peste negra mundial: 75.000.000 a 200.000.000.
18. Dinastia Ming: 1368 / agricultura / Indústria têxtil: vestuário e tecelagem seda / Porcelana ‘china’ / População duplicou / Aboliram escravidão / Mais impostos sobre ricos / Força naval / Exército permanente: 1.000.000 soldados / Palácio Imperial ‘Cidade Proibida / Refez a Grande Muralha da China / Comércio com europa / Início séc XV: cancelado expansionismo dando lugar ao absolutismo e isolacionismo.
19. Decadência dinastia Ming a partir de 1590.
20. Em 1644 os Manchus (Manchúria) instalaram na China a Dinastia Qing / Durou até 1911 (1644 a 1911) / Desde 1683 assegurou o controlo de toda a China / Apogeu atingida pelo neto Kangxi, Qianlong (1735 a 1796) / Agricultura / Indústria / Comércio com europa / Artes / Ensino / Edição de clássicos da literatura e arquitetura / Porcelana / Pintura / Trabalhos jade e marfim / A Dinastia Qing triplicou o território chinês: Taiwan, Manchúria, Mongólia, Tibete, Turquestão / População passou de 100.000.000 para 300.000.000 no fim séc XVIII.
21. Ao longo do séc XIX a Dinastia Qing começou a ter problemas de gestão / Milhões de mortes / O comércio do ópio prosperou inicialmente mas o seu desmantelamento foi fonte de grandes convulsões internas e externas / 1856-1860 2ª guerra do ópio / corrupção na administração Qing / 1850: 450.000.000 habitantes / 1850 guerra civil: 20.000.000 mortos / Dinastia Qing começou a enfraquecer.
22. 1894-1895 a China perde a guerra com o Japão pelo controlo da Coreia (guerra Sino-Japonesa) / Cederam Taiwan ao Japão.
23. Revolução chinesa de 1911 / Início: Rebelião dos Boxers 1898-1901 / Guerra Russo-Chinesa pela posse da Manchúria: 1904-1905 ganha pela china / Enfraquecida, a dinastia Qing foi afastada pela revolução de 1911.
24. Depois da Revolução de Outubro de 1911 foi instituída a República / Fev de 1912 Pu-Yi, último imperador Qing (6 anos de idade) foi obrigado a abdicar.
25. Terminaram assim 2.000 anos de governo imperial na China.
26. Em 1931 o Japão invade a Manchúria para ter acesso a matérias primas que não possuía / Instalam Pu-Yi como soberano / Em 1937 Japão invade mais territórios chineses (1937-1945) precipitando 2ª guerra Sino-Japonesa / Em 1945 retiraram-se da China depois das bombas atómicas em Hiroxima e Nagasáqui, com rendição incondicional.
27. Em 1931 Mao Tsé Tung e Zhu De fundaram a República Comunista Chinesa em algumas províncias / Em 1934 Mao foi vencido / Mao à frente da Longa Marcha / em 1937 comunistas e nacionalistas, juntos, combateram os japoneses.
28. Em 1949 foi proclamada a República Popular da China tendo Mao como líder (1949-1976).

II) Depois da Viagem

Preâmbulo
Para que de uma visita à China se consiga captar e reter algumas das múltiplas facetas em que o país é pródigo, é recomendável, até mesmo exigível, fazê-la preceder de alguma preparação, de leitura atenta da sua história milenar. Sem isso, a compreensão do país fica muito apoucada se não mesmo incompreensível.

Muito da evolução da história do mundo passou pela China por via da sua grande dinâmica e descobertas inovadoras (ver Museu de Shanghai), e com a introdução da Rota da Seda, por exemplo - provavelmente estabelecida a partir do oitavo milénio a.C. -, pôs em contacto pela primeira vez o extremo oriente com o ocidente através dos portos de Istambul (então Constantinopla), até Roma. Daí para cá, nunca mais pararam os intercâmbios, nomeadamente os comerciais, mais tarde transitados pelos barcos venezianos (Marco Polo séc XIII e XIV) - que deu a Veneza a oportunidade de brilhar e de ser a cidade mítica que ainda hoje é -, e depois pelas rotas marítimas portuguesas a partir do séc XV, cujas consequências e benefícios, nós portugueses, bem conhecemos. E nos nossos dias por vias marítimas, aéreas e eletrónicas.

O que a Europa está a fazer agora unindo os diversos países numa União (União Europeia), fez Qin no século III a.C., reunindo numa mesma China os diversos reinos (estados).

A viagem
Nem sei bem o que pensar, por onde começar ou, por outra, como ordenar tantos terabytes de informação nova recebida.
Fazendo uso do dichote popular, é caso para dizer que venho com os olhos em bico!, no sentido em que os tive de abrir para além do normal para poder captar aquele outro mundo até agora apenas imaginado, no pouco tempo de que dispunha.
Foram 2 semanas intensas em que foi necessário manter os cinco sentidos bem despertos, para que o ‘carro vassoura’ tudo apanhasse.

Observei muitas novidades de que não terei engenho para aqui as registar todas.
Desde logo, uma questão essencial de base se me coloca: devo considerá-la de per si, isoladamente, alheio a outras influências que transporto há anos ou por comparação com elas?
Não será fácil colocar-me num ponto de vista monóculo. Afinal sou o somatório de sedimentos diversos e tenderei a ver tudo a partir dessa grande paleta. A isenção é praticamente impossível.

Vamos então devagar, começando pelas primeiras percepções e depois faseadamente.

Habituei-me a pensar a China real com a informação ocidentalizada que me chegava via história universal e principalmente na da era de Mao Tse-tung (1947/1976) em que, dizia-se, a preocupação maior era a de conseguir-se uma tigela de arroz para toda a gente; ou seja de uma China pobre, muito pobre.
Pelos vestígios encontrados, a versão da era de Mao parece-me estar perto da verdade.
Como o seu desaparecimento, desapareceu também alguma da doutrina económica e social fundamentalistas que informavam o país.

Após alguma turbulência política que sempre ocorre quando um líder tão carismático se vai, foi definido um novo rumo, nomeadamente no funcionamento da sua economia: o estado ficou com as empresas base (97) e liberalizou as restantes.
A abertura económica e a industrialização do país começou com Deng Xiaoping em 1979.

O que na Europa tinha começado a partir de Inglaterra no ano 1760, fez a China no final do último quartel do século XX: a industrialização.

O enorme dragão até então adormecido numa sonolência quase milenar começou a acordar, pachorrentamente, contorcendo-se em várias direções, expelindo fogo umas vezes, pequenos gemidos outras.

Um explosão económica, sem epicentro definido, parece ter ocorrido libertando estilhaços em forma de sementes que caíram por todo o país, renascendo daí, como a Fénix, uma nova China, conservando, todavia, a sua matriz mas com idiossincrasias regionais.
Não fora a fisionomia das pessoas serem ‘iguais’, pareceria estarmos em países diferentes.

O que será a China no futuro?
Responda quem souber.
Pelo meu lado e com os dados conhecidos, auguro-lhe um grande futuro,  contribuindo enormemente para a reorientação de um advento que nos levará noutras direções.

O Congresso do Partido Comunista Chinês a decorrer neste momento, trará novidades importantes.
Fala-se numa Putinização da China...
Pelo que se sabe, tudo está preparado para uma verdadeira entronização de Xi Jinping - o atual Presidente -, ao ponto de levarem o seu nome para a Constituição do país.
Ou seja, pretende-se dar poderes plenos a Xi Jinping, de forma a que tenha margem de manobra total para decidir como entender os interesses da China quer no contexto nacional quer no mundial. Terá, como até aqui, os sete conselheiros à mão, mas ninguém mais mandará na China.
Seus escribas estão afanosamente a escrever a(s) história(s) com que será apresentado à nação e ao mundo.
Os 90.000.000 de militantes disseminados por toda a China, assegurarão a implementação das grandes diretrizes oriundas do politburo.
  • Catarina, a Grande (1762-1796), dizia da sua Rússia que era grande demais para ser governada por duas pessoas!
A China perdeu a frente do pelotão há alguns séculos para os ocidentais mas está fortemente apostada em recuperar o tempo perdido e o lugar primeiro na condução do mundo.
Os EUA, com este presidente errático, está a franquear-lhe os comandos e a Europa, com a ganância do lucro imediato e fácil, está a cair na ratoeira chinesa.

Ao congresso apresentarão como objetivo a eliminação da pobreza na China até 2021! É arrojado, é eleitoralista ou será mesmo possível?

O mundo ocidental terá muito a perder num futuro já muito próximo ao deixar-se secundarizar pelo poder amarelo.

Veremos, mas as nuvens estão a adensar-se no horizonte e encaminham-se para cá aceleradamente. Com certeza que nos vamos molhar e não demorará muito.

Claro que tem calcanhares de Aquiles vários a começar pela poluição que é verdadeiramente preocupante, em resultado do forte dinamismo industrial. Aparentemente ainda não se estão a preocupar especialmente com isso, não obstante subscreverem e liderarem os Acordos de Paris. Mas as emergentes energias renováveis, em cuja produção estão empenhados (não tem petróleo, apenas carvão), podem vir a alterar - lentamente - o status quo.
Oxalá, para bem deles e de nós. 

Apontamentos avulsos

A distância 
A viagem para aquelas bandas, por tão longínquas serem, não são propriamente fáceis, melhor dizendo, são-no desgastantes. As horas de voo são muitas. Shanghai-Porto: 15 horas a voar, a que se acrescentam as horas de pré-voo e as horas de ligações de voos.
Acrescenta-se ainda idêntico desgaste nos necessários voos inter-cidades visitadas. No total, só de voo, não menos de 36 h… 

A Segurança 
Contrariamente ao que pensava, a China é um país seguro; tão seguro ou mais que qualquer europeu.
O exercício dessa segurança, a começar nos aeroportos (voos internos e internacionais), é minuciosa ao ponto de não deixarem que se usem as malas de porão para aí se transportar  isqueiros ou carregadores de Tlms...
… não há visita a zona histórica sem os obrigatórios controlos.
… igualmente nos comboios de alta velocidade.
Tudo feito com minúcia, porém com serenidade.

Nas ruas - mesmo no meio de grandes multidões - as suas gentes são simpáticas e afáveis, não tendo notado nunca animosidades quer entre elas, quer com estrangeiros. Pelo contrário, quanto aos estrangeiros, são curiosas e acolhedoras.
 Fiquei inclusive com uma dúvida quanto à origem desta inesperada afabilidade: resultará ela de ADN cultural ou do temor ao regime?
Gostaria que fosse cultural, obviamente. 

Formas de expressão noutra(s) língua(s) 
Segundo foi dito pelo Gustavo (guia local de Pequim), nas escolas aprende-se o idioma regional, o mandarim - língua oficial -, e o inglês.
Distintamente de nós portugueses em que o inglês no geral funciona qb, os chineses esqueceram o inglês escolar, rarissimamente alguém o fala, mesmo em setores sociais mais elevados, como médicos, por exemplo.
Porquê isso? Não sei. Mas sei que em nações grandes, muito populosas, em resultado, quiçá, de algum orgulho / sobranceria oriundo da dimensão, é normal não se interessarem por outras formas de expressão. A começar pela nossa vizinha Espanha, França, Alemanha, Turquia, EUA … 

Feriado Nacional de 1 a 8 de Out 
Estava lá também nesse período e pude acompanhar o que estava a acontecer.
Li numa das viagens internas de avião num jornal chinês emitido em inglês que nessa semana assistiu-se a uma movimentação de turistas internos e externos na ordem dos 750.000.000 de pessoas (tinham-me referido estimativas de 400 M). Se o número é verdadeiro ou não, não o sei. O que sei é que por todos os lugares por onde andei, cruzei-me sempre com multidões, por força de razão nos locais mais emblemáticos. O que não foi mau. Sinto-me bem entre gentes e o grande número de transeuntes não afetou negativamente o programa da viagem, pelo contrário até o enriqueceu.

A grande maioria era chinesa mesmo. E isso releva para a percepção do ponto económica em que o país está e, mais que isso, para a melhoria da qualidade de vida das suas gentes: melhor, claramente melhor.

Outro dado interessante que atesta dessa melhoria tem a ver com a mudança do seu tradicional transporte básico: não é mais a bicicleta a pedal mas motorizadas. Aquela imagem antiga com filas intermináveis de chineses maltrapilhos e alinhados nas suas bicicletas desapareceu para dar lugar ao transporte motorizado. 

Mundo rural 
Indústria, turismo, comércio, exportação e agricultura (não sei se a ordem está correta) são as grandes alavancas que animam a pujante economia chinesa. Sem tempo, com grande pena minha pois tinha curiosidade em ver o cultivo do arroz, nomeadamente, não passei pelo ‘interior’ da produção agrícola. A avaliar pelo que observei nos restaurantes, nas ruas e nas pessoas, fiquei com a convicção de que está a bom nível. Não sei se mantendo métodos artesanais se modernos. 

Notas intercalares, a propósito. 
i) À cerca de mês e meio andei pelo interior das  nossas lezírias ribatejanas. Uma máquina-trator  e o respectivo condutor, vindimavam a ‘todo o vapor’. Em prazenteira conversa foi-me dito que esta parelha colhiam 15 ton uvas/dia, substituindo 20 trabalhadores braçais…

ii) Há alguns anos, visitando uma fazenda no nordeste brasileiro de produção de cana-de-açúcar, foi-me dito pelo dono que a ceifa era manual: a cada trabalhador era atribuído um corredor e ao fim do dia era pago de acordo com os metros cortados.
Com a minha ‘douta sabedoria ocidental’ questionei:
- Porque não maquinizam a colheita?
- É que assim dou algum dinheiro às pessoas e evito que me venham para a porta com revoluções, respondeu de pronto.

iii) A colheita de cereja no Fundão - onde gosto de ir para ver e comer - obedece ao mesmo princípio: o trabalhador é pago por quilo de cereja colhido.

Isto a propósito da produção agrícola chinesa: fiquei sem saber em que ponto está; como acontece…

Talvez lendo lá chegue.
Fim das notas 

Alimentação e confecção culinária 
Não fiquei fã.
E não me refiro aos produtos exóticos pois esses estavam eliminamos à partida. Se nem os nossos caracóis consigo comer (e já tentei), que dizer de espetadas de grilos, lacraus, baratas, morcões e sei lá que mais… exposto sem cerimónias nas ruas!?
Nem pensar.

As comidas de restaurantes, mesmo as dos hotéis de 5* em que sempre ficamos ou outros equivalentes, tem uma ligeira aproximação à cozinha internacional, mas mesmo essa passa pela matriz da cozinha chinesa.

Pão: usam pouco e pouco cuidado.
Charcutaria e derivados do leite: idem.
Sopas: uma aguadilha insípida mas odorosa em excesso  (que saudades das nossas…).
Arroz: apesar de ser a terra dele, desconhecem as ‘mil e uma maneiras’ de o confeccionar: sempre cozido, sem sal, tipo ‘unidos venceremos’. Será a base onde embrulham os molhos? Talvez.
Legumes: abundam em qualquer refeição, envolvidos em molhos diversos.
Fruta: melancia, melancia, melancia… e praticamente mais nada que se veja. Nas ruas: romãs, romãs, romãs e dióspiros, dióspiros, dióspiros...

A confecção de rua, recheada de variedades exóticas e com odores fortes e novos (novos é um eufemismo), é, para mim, impossível: só para a foto.

Resumindo: por razões gastronómicas não ia lá. 

Bairros e mercados
O funcionamento, o dia-a-dia, a vida que agita e anima os bairros e os mercados populares, constam no cardápio de fetiches que lá levam milhões de visitantes e, já lá, os entusiasmam.

Caminhando por entre os bairros e mercados típicos - onde acontece a vida mais popular - uma mistura exótica de cores, cheiros, sons, paladares, comportamentos e circulação cruzada e serpenteada de multidões fascinam, hipnotizam e cativam o estrangeiro.

Diferentes dos ‘Souks’ árabes onde predomina o artesanato, aqui os produtos expostos têm origem mais industrializada.
Os espaços comerciais são também mais cuidados, muito iguais aos similares europeus ou norte-americanos.

Uma distinção é notória e caracterizadora do oriente: o colorido dos produtos, sua apresentação apelativa, a iluminação publicitária das lojas.

Há mais um detalhe comum aos árabes: negociação dos preços. Quem não for hábil ou capaz de entrar neste jogo, de regatear até ao limite, é seguramente ‘levado na conversa do vigário’. Mais, como é um tipo de comércio onde impera a contrafação - em diversos níveis - nunca algum produto ou negócio é garantido.
Interiorizei o critério: quanto vale ‘isto’ numa loja de chineses em Portugal?, embora subsista sempre o dilema: o que é ‘isto’? Que tipo de contrafação é esta?

Mas, enfim, alguns ‘recuerdos’ temos de trazer.

Há-os (bairros e mercados) para todos os gostos mas apreciei especialmente os instalados em edificações tipicamente chineses - pagodes - onde percorrer os seus labirintos é uma aventura em orientação e, com algumas particularidades excessivas, um delírio para os sentidos. 

Arquitéctura
Há de tudo, como noutro qualquer país, mas ia à espera de pior.
Divido-a em 5 grandes grandes grupos:
  • A da era imperial: razoavelmente conservada, em particular a das zonas turísticas;
  • A estatal: edifícios clássicos tipo soviéticos;
  • A popular: sem traça marcante, muito simples e degradada;
  • A das zonas dormitórios, nas imediações das grandes urbes:  chocam, não propriamente pelo design - enormes prédios em altura (30 pisos e mais),  todos iguais, sem cor que os animem -, mas pela quantidade e extensão. Quem passa ao largo não tem vontade de se aproximar. Mais parecem edifícios fantasma, sem sinais de vida; imensos conglomerados habitacionais aleatoriamente distribuídos pela paisagem. Será que são habitados, apetece perguntar?
  • Os arranha-céus: rivalizam em tamanho e formas com os mais altos do mundo, em especial em Shanghai. Aqui, o mais alto, tem 138 pisos. E rivalizam também na quantidade e densidade. Olhar Shanghai, à parte um ou outro pormenor, é quase como ver New York, Dubai ou outras congéneres. À noite são ‘todos’ criteriosamente iluminados, essencialmente com as cores primárias, dando às cidades a grandiosidade e o esplendor orientais que fascinam quem chega.

    Obs.: estas edificações em altura são recentes; talvez com 30 anos no máximo.

Comunicações * Redes Sociais (App) 
Neste capítulo é um problema para os estrangeiros: as novas ferramentas de comunicação mais usadas no ocidente não funcionam: são pura e simplesmente bloqueadas pelo governo. Nem Google, nem Facebook, nem WhatsApp…
Pontualmente os hackers encontram os códigos mas no dia seguinte têm de os redescobrir.

A China tem as suas próprias Apps, similares ou mesmo plagiadas das que usamos, não autorizando estranhas.
Quanto a mim, por três motivos:
  • são quase 1,4 mil milhões de pessoas (clientes);
  • não pagam direitos de autor a estrangeiros;
  • e, ‘the last but not the least’ controlam melhor (pelo que soube totalmente) os fluxos (indevidos!?) de informação; e, consequentemente, a vida do cidadão.

Troca de afetos em público.
Não os vi!
Tanto nas zonas rurais, como nas populares ou urbanas - principalmente nestas onde por norma mais se notam - não observei nunca troca física de afetos quer em idades mais altas quer, sobretudo, nas idades ‘teen’, em que os impulsos e a espontaneidade são mais incontrolados e mais manifestados.
Há, visivelmente, familiaridade, carinho e afetos entre as pessoas como em outra qualquer parte do mundo mas não ao ponto da sua demonstração pública: nada de beijos ou abraços; no toutch, portanto.
Fiquei algo surpreendido com este comportamento, ou com a falta dele, e não cheguei a captar do porquê.

Diferentes dos povos europeus, especialmente dos mediterrânicos, e muito diferentes dos do centro e sul-americanos ou africanos, mais se igualando aos russos ou árabes e um pouco aos da Europa do Norte e Leste: reservados.
Será por razões climáticas, culturais ou de regime?
Fica a dúvida sem resposta.

Na noite do cruzeiro noturno pelos lagos de Guilin e para continuar a usufruir um pouco mais daquela noite de sabor tropical, prolonguei-a caminhando placidamente pela agitada baixa da cidade e adjacências e novamente pelo lago, contornando-o pelas suas margens e pontes, sempre com os dois exuberantes Pagodes à vista, qual wallpaper laboratorialmente editado.
Num dos seus recantos ajardinado e encoberta pela penumbra da noite, uma pequena boys-band, no que me pareceu habituée, dedilhava música smooth convidando ao romance.
Rodeada de juventude, escutava-os com um fácies calmos mas envolvidos, carregados de sentimentos.

Pois nem aí se vislumbrou aquele touch físico ou qualquer outro, nos mais jovem ou nos menos jovem!

Limpeza e asseio
Foi uma agradável surpresa! Os locais públicos por onde passei estavam irrepreensivelmente limpos e, mais que isso, floridos. Os jardineiros(as) abundam e fazem seu trabalho com prontidão e esmero e com resultados que alegram o ambiente. Dispersos por entre a multidão, de vassoura na mão, bem visíveis, não deixam que os lixos se mostrem. Os espaços públicos e turísticos, são embelezados com canteiros de vasos floridos de cores garridas, tornando o ambiente em geral  alegre e acolhedor. Não há cheiros públicos dos lixos orgânicos, com exceção pontual para os de esgotos. Pena. 

Companheiros de viagem 
O grupo (33) era composto por nortenhos e alfacinhas, maioritariamente. Contando com as saudáveis picardias regionais, cedo se gerou um ambiente divertido, amigo e coeso - à PLV - que muito contribuiu para o sucesso da viagem e que  perdura num grupo fechado no fb.

Uma palavra de apreço para o Francisco (acompanhante PLV), que ficando com os nossos problemas logísticos e de mobilidade, resolveu por antecipação eventuais questiúnculas futuras.
Uma outra para os Guias locais: Gustavo, José e Léo.

E agora um pouco de detalhe sobre alguns dos locais visitados.

  • Pequim, a Capital
(21.500.000 Milhões habitantes/2016 * Centro político, cultural e educacional do país * Aeroporto: 2º mais movimentado do mundo * Sete Patrimónios Mundiais da Unesco: a Cidade Proibida, Templo do Céu, Palácio de Verão, Túmulos Imperiais das dinastias Ming e Qing, Zhoukoudian, Grande Muralha e Grande Canal)

A bem da verdade, não posso dizer que conheci a cidade e as suas gentes. O tempo disponível e os locais previamente selecionados a visitar, preencheram praticamente todo o tempo. O City Tour numa cidade desta dimensão será sempre insuficiente. Um passeio noturno, mesmo que na zona mais in soube a pouco. Destinou-se o tempo a partes específicas e a cidade foi en passant. Ainda assim, ficou a ideia de uma capital grandiosa e rara.

Não poderia deixar de destacar, por ser muito marcante, os enormes conglomerados habitacionais que dominam, feiamente, a paisagem a partir do centro para a periferia. Os ‘paliteiros’, como com humor por aqui dizemos, também por lá se instalaram. E com que velocidade e dimensão o fizeram! Assusta, só de ver. O horizonte assim preenchido não é bonito: monocórdico, monocromático e agressor do bom gosto.
Até a máquina fotográfica se esconde.

Está a acontecer em toda a China, o mesmo que aconteceu nos países industrializados há mais tempo: a concentração populacional nos grandes centros urbanos.
E a construção civil responde em ‘massa’ (e cimento), acriticamente, sem cerimónia.

  • Muralha China
(muralhas da dinastia Ming tem um total de 8.850 quilómetros de extensão; esta é composta por 6.259 km de seções da muralha em si, 359 km de trincheiras e 2.232 km de barreiras defensivas naturais, como montanhas e rios. Outra pesquisa arqueológica descobriu que toda a muralha, com todos os seus ramos, mede 21.196 km comprimento, 7 m de altura e 6 de largo)

O que eu andei para aqui chegar…
Desde os bancos da escola que ‘esbarrava’ nesta Muralha. Toda a vida ouvi falar na Muralha da China. Toda a vida alimentei o desejo daqui chegar. Tinha por vezes a ideia de que fui artífice na sua construção. Foi uma longa caminhada mas cheguei, finalmente.

E foi numa silenciosa e muito acompanhada caminhada por sobre as suas pedras já gastas por passos como os meus que revisitei não só a minha linha do tempo como a desta nação e deste povo e a do caminhar do mundo.

Não fiquei defraudado. É, efetivamente, um monumento e tanto. O seu peso histórico-milenar dá-nos a noção da proximidade milenar e humana, da intemporalidade, da perenidade e da relatividade.

Não haverá no planeta muitos mais monumentos que nos falem tanto e de tanta coisa. Não haverá no planeta livros, por muito grossos que sejam, que tenham tantas páginas tão trabalhosamente escritas, tão densas. 

§ - E não é que nos dias de hoje continuam-se a fazer ‘muros’!?
Afinal a história repete-se mesmo buscando exemplos que julgávamos banidos das sociedades.

  • Praça Tiananmen
(Nome para o ocidente ou Praça da Paz Celestial. Construída em 1949 tem 800x500 m (44 ha); a terceira maior do mundo)

É uma praça que impressiona desde logo pelas dimensões invulgares, pelas construções pomposas e faustosas que a ladeiam e pelo cuidado esmerado com que é mantida. No topo norte um bouquet gigante de flores e frutos (em cerâmica) glorifica-a, enfeitando-a de uma vivacidade colorida. Ainda no lado norte, depois do vaso da abundância, rasga-se a Avenida da Paz Eterna (40kmx50m) por onde, em túnel, se acede à Cidade Proibida. Aí, num mural de grandes proporções e virada para a praça, a foto de Mao domina o cenário, direciona e agita o pensamento; ‘faz crente o incrédulo’. Sendo a praça que domina a cidade, é também o seu centro político.

Enquadrada por edifícios estatais, incluindo o da Assembleia Popular Nacional, tem no seu centro o Mausoléu de Mao Tse tung.
Aqui, acrescento, preferia vê-la ampla e arejada sem este obstáculo central a limitar-lhe a amplitude e a tapar-lhe o horizonte, mas cuja centralidade se percebe bem: maior que tudo e acima de tudo, Mao. Hoje também.

Pisar e pensar sobre o seu pavimento é olhar um passado recente que tanta tinta fez correr por todo o mundo e, em alguma de cor vermelha, subjazem corpos revoltados: 04JUN1989.

  • Palácio Imperial (Cidade Proibida)
(Residência oficial de várias dinastias * Maior palácio do planeta * 720.000 m2)

Era este, também, um dos meus grandes objectivos a atingir.

Sua dimensão, arquitetura, espaços amplos, divisões estanques, cores garridas, praças gigantescas separadas por portas e destinos, dão-nos bem a ideia do poder que detinham os Imperadores: total. Eram donos e senhores de tudo e de todos. Dali comandavam os súbditos e os seus mundos. Seus edifícios em madeira requintadamente trabalhados e coloridos, dão-nos a ideia do máximo de conforto, luxo e fausto que usufruíram no seu tempo.

Claro que um tipo de vida assim ostentado gera ou pode gerar revoluções. Temendo isso, sabendo que o povo sofria para manterem estes excessos imperiais, ‘guardavam o castelo a sete chaves’.
Um lago artificial a contorná-lo, fazia do Palácio uma ilha.
Ainda inseguros com previsíveis insurreições populares que por túneis poderiam chegar ao interior, mandaram pavimentar os chãos de todo o palácio com enormes lajes graníticas com 2,5m de espessura. E raramente de lá saíam a não ser para outro Palácio: o de Verão. Lá dentro tinham, de resto, tudo o que à época aquele mundo de melhor tinha para lhes dar. Porquê arriscar?

É inevitável compará-lo com o dos Czares russos: mais faustosos ainda, de materiais mais nobres e  mais ricamente dourados.

Terá sido com estes fundamentos que se justificaram as revoluções e a introdução de doutrinas sociais novas, o comunismo?
 
  • Palácio de Verão
Apesar de um passado atribulado em resultado de incêndios, vandalismo e pilhagens, a sua boa (aparentemente, sim) reabilitação, remete-nos para a grandiosidade do que terá sido este local idílico mandado construir para usufruto dos imperadores e imperatrizes.

Sua anormal extensão, edifícios, corredores de ligação, arquitetura paisagística, lago e colinas artificiais, dão ao simples visitante momentos de usufruto e relax apenas reservados aos ‘grandes’.
Finalmente o ‘povo’ tem acesso, também, ao que só aos ‘deuses’ é reservado.
Também eu fui imperador por umas horas.

Mais uma vez a comparação com o Peterhof do Czar Pedro, o Grande, situado nos arredores de São Petersburgo, é tentadora. E este, o russo, embora que da mesmo época, tem outra riqueza e esplendor.

Comento apenas estes porque faziam parte do meu imaginário que desejava validar in loco mas sem menosprezo pelo Templo do Céu (séc XV), pelo espaço onde se realizaram os Jogos Olímpicos de Verão de 2008, com o seu emblemático ‘Ninho de Pássaro’ ou mesmo pelo Silk Market, onde a contrafação é rainha.
 
  • XI’AN, Cidade Antiga.
(mais de 3.100 anos * Foi Capital nas dinastias Qin, Han e Tang * População: 8.700 milhões / 2015) * Soldados Terracota: 8.000 em vez das 4.000 meninas que deveriam acompanhar o Imperador Qin)

  • Bairro Muçulmano
Aqui se concentra principalmente população de origem muçulmana mas que depois de vários séculos de existência e cruzamentos rácicos tendem cada vez mais para a fisionomia chinesa. Fazem uma vida de acordo com as suas origens e influências e praticam o comércio popular de rua ou bairro.
Mas é de visita obrigatória uma vez que o seu original funcionamento ultrapassou fronteiras e despertou no turista uma curiosidade inultrapassável. Quem por aqui passa vê tudo o que repassa pelo mundo turístico: grandes ajuntamentos, lojas que vendem de tudo, confecção de alimentos - aqui sim, do mais exótico que qualquer ocidental alguma vez sonhou - num labirinto de ruas, sons, aromas, luz e sons em que inevitavelmente nos misturamos.

  • Exército de Guerreiros de Terracota:
8.000 figuras cuja finalidade era proteger a vida do Imperador Qin, séc III a.C., após sua morte e cujo túmulo, ainda não explorado, dista poucos quilómetro destes guerreiros. Não aberto por se temer a rápida erosão, diz-se, e por se desconhecer modernas tecnologias de conservação.

Para mim - vou inventar -, a razão será bem outra: gestão de expectativas e novas motivações turísticas (eu também assim procederia).

Qin acreditava na imortalidade, pelo menos da dele; acreditava que havia uma segunda vida.
Certo disso, mandou que fossem sacrificadas 4.000 jovens que o deveriam acompanhar nessa outra vida.
Incomodado com tão brutal pedido, o seu primeiro-ministro propôs-lhe a solução dos Guerreiros de Terracota para proteção bélica.

(versão relatada pelo guia Gustavo ou Léo, mas que procurando confirmação, ainda não encontrei)

Seja como for, é uma descoberta, um local e um feito digno e definidor de um grande imperador como foi Qin.
E impressionante.

Mais uma vez os nossos dias colam-se aos de 2.000 atrás, com singeleza e naturalidade. 
 
  • Guilin, Cidade Especial
(800.000 habitantes na cidade * 5.000.000 na grande Guilin * 40 milhões turistas)

  • Cruzeiro no rio Li
Cidade localizada mais no centro sul, vivendo essencialmente do turismo e da agricultura. En passant ligeiro seguimos para um cruzeiro no rio Li, munidos de pic-nic pois duraria umas horas.

Foi um cruzeiro normal, em muito igual aos do nosso Rio Douro, mas bem distinto quanto aos caprichos da natureza. Aqui brindou-nos em inovação, preenchendo o horizonte com serras alinhadas em incontáveis ‘bossas de camelos’ que fizerem questão de nos acompanhar durante todo o percurso. Aqui e além as próprias ‘estalagmites’ sugerem figuras humanizadas, animalizadas ou outras que prenderam alguma atenção do ‘marinheiro’. Diferente das encostas xísticas e trabalhadas do nosso Douro, a agricultura nas suas margens não era grandemente visível, não mais que a de subsistência. A pesca, em barcos típicos de canas de bambu e artesanal, era o que mais se via ao longo do leito de um rio de águas calmas.
Ainda esperava ver por aqui o cultivo do arroz, mas ainda não foi desta.
 
  • Cruzeiro noturno nos Lagos de Guilin
Já à noite chegou a surpresa, uma extasiante surpresa, com um cruzeiro noturno nos Lagos de Guilin.

A noite estava calma, morna e limpa. Encaminhamo-nos para o barco que nos esperava no cais. Entramos e as suas hélices, em baixas rotações, remexeram as águas fazendo-nos deslizar suavemente lago adentro. À nossa frente, dois altos Pagodes, profusamente iluminados com diferentes cores, prenderam definitivamente a nossa atenção. O seu reflexo psicadélico e contorcido na água duplicava a dimensão do cenário e clamava pela máquina fotográfica no desejo imediato de gravar esta imagem sublime e grandiosa no escaninho secreto da memória.

O barco prosseguiu sua viagem e a cada nó percorrido novos cantos e recantos apareciam iluminados numa abundância de cores que a todos silenciava.
As margens, também iluminadas, davam-nos os contornos sinuosos do lago. O barco ia galgando as águas de descoberta em descoberta. No horizonte, bem lá no alto e bem alto começa a vislumbrar-se mais um outro Pagode enfeitado com suaves e novas cores. A seus pés, e já no final da viagem, um teatro musical recebeu-nos com uma curta peça de boas-vindas.
Regressamos então, pelo mesmo trajeto, como que para  preencher algum espaço vazio que na alma então já satisfeita pudesse caber.

A cidade, também iluminada, completava um cenário que se visto de drone mais pareceria um cantinho de um mundo apenas sonhado.

Suas gentes passeavam-se pelas suas margens usufruindo destes prazeres com que a vida por vezes nos surpreende.
Juntamos-nos a eles roubando-lhes um pedaço do que é sempre seu e de que abnegadamente distribuem por quem passa. 
 
  • Xangai, Cidade Moderna
(24.000.000 / 2013)

Logo a partir do (enorme) aeroporto e à medida que nos íamos aproximando do centro da cidade, os sinais exteriores denunciavam o que já sabíamos por outras vias e logo logo confirmamos: Shanghai é uma grande, interessante e bela cidade.

Os inúmeros ‘dormitórios’ ‘plantados’ nos acessos e no alinhamento das grandes vias de comunicação rodoviárias e ferroviárias, fluviais e aéreas, ainda bem afastados do grande centro, a que se juntam as próprias vias cruzadas em diversos níveis, deixam adivinhar o que aí viria. Os novos (para mim) sinais de trânsito luminosos indicando bem lá no alto, a verde, as vias menos entupidas, e as filas de carros compactas aguardando e escolhendo o caminho a seguir, davam a noção lenta e caótica do seu funcionamento. Manobras de condução ‘inovadoras’ iam informando da coisa.
Com algum desembaraço do motorista chegamos ao destino.

Despejadas as malas nos quartos, despachamo-nos em passo acelerado para a baixa; para a Nanjing Avenue, a principal avenida comercial com 5 km de variado e bom comércio.
O sol, ainda quente e brilhante, avivava as cores dos placares publicitários e toda a avenida fervilhava de transeuntes; turistas uns, passeantes outros, residentes alguns, um formigueiro de gente enchiam-na de vida. No nosso papel de turistas, fomos caminhando avenida fora, para o lado do rio, não perdendo pitada das novidades.
Observando o pacato comportamento dos locais, relaxamos um pouco os nossos cuidados de estrangeiros e seguimos por entre eles, como um deles, até ao topo norte da avenida, até à praça elevada sobranceira ao rio, guardada por uma estátua de Mao. Daí, desse patamar mais elevado, alcança-se na sua plenitude a imagem icónica da City que corre o mundo.

Quem entra em New York pelo túnel do rio Hudson, acabado este, apanha em cheio com New York pela frente. Acontece o mesmo aqui neste lugar em relação a Shanghai. A zona financeira do outro lado do rio, ao alcance de um disparo fotográfico, aparece ali mesmo à nossa frente moderna, pujante e grandiosa, cheia de cor e vida, como um postal ilustrado ou pintura modernista.

É impossível ficar indiferente a esta visão.

Os barcos turísticos e de mercadorias cruzam-se rio abaixo, rio acima; a torre da tv - Torre Pérola Oriental - com as suas cinco bolas ‘pérola’ foca-nos a atenção.
Volvidos segundos, o nosso olhar sobe ao 138º do prédio mais alto e fixa-se nele por algum tempo. Ao lado e a poucos metros mais abaixo aparecem mais, ligeiramente mais baixos. O olhar continua a descer mas obrigando-nos a manter a cabeça bem erguida. No dia seguinte subimos ao 80º de um de 88: Torre Jinmao. Foi pena o nevoeiro ter tomado conta destas alturas e obrigar-nos a correr de um lado para o outro na tentativa da melhor vista panorâmica.
Tivemos de nos socorrer de alguma imaginação para o restante. Mas valeu, ainda assim.

Uma bela visão que guardo especialmente foi conseguida a partir de um cruzeiro noturno nas águas calmas deste rio. Os arranha-céus financeiros de um lado e os arranha-céus comerciais do outro, todos com néons animados e multicolores injetam energia no futuro da cidade  a que aderimos espontaneamente.

Nos dias seguintes deambulamos um pouco mais pela grande Shanghai na esperança de trazermos um pouco dela para cá.
E trouxemos, cada qual o seu quinhão. O meu é grande.

Há quem apelide Shanghai de Paris do Oriente!
Pelo meu lado prefiro compará-la a New York.
A Nanjing Avenue rivaliza em comércio de rua e centros comerciais com a 5ª Avenida de New York. Só não tem o Trump Tower…
E a City, o lado financeiro, rivaliza com Wall Street ou Ground Zero.
Escutei preferências por Shanghai…

Dos outros locais visitados (Templo de Buddha, Jardins e Bairros históricos, comboio alta velocidade, Museu de Shanghai…), vou deter-me brevemente em mais uma visita a uma Aldeia Histórica; não pela aldeia em si mesma mas pelo canal que a atravessa desde o século V a.C., o canal mais extenso do mundo: o Grande Canal.
Foi também histórico este cruzeiro.

Mais uma vez, seu ano de construção (486 a. C.), seu comprimento (1.794 km) e sua navegabilidade, dizem bem da importância que sempre teve para a circulação de pessoas e mercadorias; ligando o norte ao sul, foi a veia principal que alimentou o país e a Rota da Seda.
Um empreendimento notável. 

Nota
Os 77 km do Canal do Panamá que liga o Atlântico ao Pacífico com ganhos de sinergia justificativos da obra, ficou usável em 1914, depois da intervenção norte-americana e melhorado em 2015.
https://www.dropbox.com/sh/widsn7hk68yt6ey/AAB4VZWsD7N2nRYegZdWBeZBa?dl=0

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