segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Eleição do Secretário Geral da ONU

1.
Não é fácil descartar António Guterres da análise que se possa fazer a propósito da sua candidatura ao cargo de Secretário Geral da ONU. A sua concidadania pesa e de alguma forma condiciona o dever de isenção opinativo necessário de qualquer português a uma tomada de posição sobre o assunto. Assumo, portanto, que o que à frente direi enferma desse pecado original.

2.
Deixo agora de parte a sua ação ou inação, do que foi ou não foi, enquanto político português.

3.
Refiro a sua passagem pela ACNUR para dizer que fiquei com a ideia de que cumpriu o cargo exemplarmente com uma empenhada, louvável e impressiva carga de humanismo reconhecida internacionalmente, que me lembre, unânime.

4.
Pelas suas qualidades humanas e pessoais penso que António Guterres tem o perfil certo para o lugar.
Destaco a propensão, capacidade e facilidade para estabelecer pontes de diálogo e eventuais concordâncias agregadoras como das mais importantes de um Secretário Geral da ONU. Conseguir sentar a uma mesma mesa e pôr a falar desavindos, alguns em guerra, e gerir interesses contraditórios, pode ser o caminho mais rápido para atingir bons resultados, evitando conflitos e salvando vidas.
Porá, com certeza, o ser humano em primeiro lugar em detrimento de outras causas menores.

5.
Como obrigam as novas regras, criadas para dar mais transparência ao processo eletivo, sujeitou-se a exames duríssimos (5 até agora) no seio da própria ONU e em todos passou com distinção e brilhantismo, deixando pelo caminho inúmeros concorrentes.

6.
Agora, já quase no fim da maratona dos escrutínios, forçando e confundindo as regras da Instituição, aparece a búlgara Kristalina Georgieva com combustível bastante para ultrapassar pela direita quem, até ao momento, liderava destacado as preferências e “encorajamentos” (expressão em uso no processo) de muitos países.
… porque é de Leste, porque é mulher e, principalmente, porque é apoiada pela Alemanha que, não tendo direito de veto, tem peso importante neste xadrez.
Resta saber se da Argentina não aparecerá ainda Susana Malcorra empurrado pelos EUA (mas não pela Inglaterra por causa do inesquecível episódio das Malvinas/Falkland). Pela vistos haverá vindima até tarde; há, pois, que manter os cestos disponíveis para colheitas de última hora.

7.
Sempre soubemos que os 5 que detêm direito de veto na ONU (EUA, China, Rússia, UK e França), têm a última palavra. Sempre assim foi e, apesar de terem mudado as regras sujeitando a eleição ao resultado da votação democrática dos 15 membros permanentes do Conselho de Segurança, assim será: vai ser decidido pelos 5.
Também sabemos que nenhum dos 5 (que se saiba) votou contra António Guterres nas audições preliminares, mas sabemos agora que o fizeram com uma reserva mental a todos os títulos lamentável, condenável e nefasta para a clareza democrática que apregoavam.
A “real politik” e os detentores do poder a sério, têm estes “esperados” comportamentos, jogando um jogo estranho e incompreensível, quando se guardam secretamente para o Xeque Mate.
Esperava-se da Organização máxima Mundial das Nações lisura e transparência nas suas ações.
E afinal o jogo continua viciado.

É nessa fase que estamos.
Até agora avançaram os peões e eles, os 5, deixaram que se mostrassem ao mundo num jogo de espelhos democrático falso.
Está a chegar a hora dos Karpoves e Gasparoves se posicionarem para os lances finais.
O jogo acelerou de ritmo e já não demora muito a arrumação definitiva das peças.
Espero que António Guterres (com apoio nacional) resista firme, impávido e sereno no seu propósito e aguarde que a sorte do jogo lhe caia de bandeja e o leve à 1ª cadeira da ONU.
Daqui para a frente já não depende dele (se é que alguma vez dependeu) mas do que vier a passar-se nos obscuros bastidores, principalmente, de Washington e Kremlin.

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