quarta-feira, 31 de agosto de 2016

“Tudo está no seu lugar, graças a deus, graças a deus” - Casa da Garceira

02Jul'2016: fui espreitar o passado.

Fazia algum tempo que não entrava na Casa da Garceira.

[a casa que meus avós maternos reservaram para a sua velhice e que em criança visitava amiúde; também a primeira casa de meus pais logo após o casamento. Em partilhas, foi adquirida por um dos filhos, o meu tio António, e agora é pertença de um dos filhos dele, o Fernando].

Avistava-a apenas en passant quando esporadicamente por ali transitava. O meu imaginário era pois preenchido por vivas memórias de anos atrás e que, parecendo terem vida própria, foram resistindo à erosão natural dos dias, não deixando de reivindicar seu estatuto privilegiado de primeiras.

A reentrada foi suave, como se tivesse chegado ao destino de uma longa viagem, investigando cada canto com serena minúcia.
Passado algum tempo, depois de ter inspirado “aquele ar” revigorante que apazigua e remoça o caminhante, assentei sem delongas que tudo estava no mesmo lugar e tudo igual ao que sempre fora (ou não quis ou não fui capaz de captar os novos aromas):
A porta para os quartos lá estava: igual;
A porta para a sala de entrada onde era recebido o ‘compasso’, lá estava também: igual;
A janela para ver quem passa na estrada: no mesmo sítio.
Não vi mais compartimentos mas, era este espaço, verdadeiramente - a cozinha -, que mais me interessava.

Não houve, pois, sobressaltos.
Senti-me bem ali sentado num banco corrido (não existem mais os preguiceiros), frente à velha lareira, agora sem a negritude da fuligem pulverulenta a realçar a parede, desfolhando conversa solta com os familiares presentes numa imitação quase perfeita d’outros tempos.
O acolhimento sem reservas, o à-vontade, o sem-cerimónia, a simplicidade com alma e o saudável ambiente vivido e sentido entre aqueles primos, primas e tia, facilitaram não só a integração no seu seio - tornando-me rapidamente em mais um deles -, como foi facilitada também a observação e preservação sem danos desse passado que gosto de conservar intocado.

E que agradável que foi!
As portas e os corações franquearam-se sem receios, numa confiança recíproca sem limites que, então aumentada, dura até hoje.
Outros tempos foram recuperados dos escaninhos de cada um numa conversa morna e prazenteira embalada por um ritmo calmo como recomendava aquele dia deste crepitante verão.
Para outra altura, com mais tempo, pedirei para ver mais, incluindo os campos, o açude, a eira e o alpendre. Estou certo que me será dada permissão para tornar mais abundante a colheita de saborosas recordações.
Nesse dia soube bem espreitar algum passado comum com estas pessoas boas, honestas e sinceras, sem filtros ou presunções a tolher a relação.
Fiquei ainda com mais estima por esta família por assim serem e por darem viva mostra do genuíno ADN da FdQ que, visivelmente, carrega.

Optei por não tirar fotos para não aprisionar o momento e a circunstância; prefiro, outro sim, dar mais espaço à imaginação para que voe sem freios, mais livre e agora mais fértil com esta atualização.

“Tudo está no seu lugar, graças a deus, graças a deus” (Benito di Paula).  

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Encontro FdQ - 15AGO'2016, Final (Postado no fb)

15AGO’2016
Encontro da Família da Quelha
Mondim de Basto

Logo a partir do momento em que se começou a desenhar a possibilidade deste nosso Encontro e se percebeu que até poderia “agarrar” bastante gente, não nego que alguma ansiedade, entusiasmo e muita alegria começou a rondar-me a porta. A simples oportunidade de ver ou rever um número significativo de elementos da FdQ e juntá-los num mesmo espaço, foi altamente encorajadora.
Juntar a 2ª geração, a minha, acreditava ser mais fácil; mas quanto à 3ª e 4ª, a coisa não me parecia tão óbvia. Rever uns, ver e conhecer outros - com alguns dos quais mantenho diálogos no fb onde “nos conhecemos” - era ocasião que aguardava com grande interesse.

E finalmente aconteceu: revemo-nos e conhecemo-nos.

Uma nota curiosa e não menos interessante: as novas gerações chegaram, algumas sem a companhia dos seus progenitores - em particular as da Família da tia Maria (16) - e integraram-se com uma simplicidade e naturalidade como se coabitássemos desde sempre. Traziam já o “chip” da FdQ, como agora se diz, que os nossos primos e seus pais já lhes haviam inculcado.
Registei o facto com duplo agrado.

Registei mais este pormenor delicioso com 7/8 jovens (alguns bem pequenos ainda) da Família da tia Amélia.
Logo pela manhã, aparecidos do nada (assim pareceu) saltitando alegres nos seus passos descontraídos de jovens, de gargalhadas cristalinas e franqueza natural das idades, foram interrompidos no seu caminhar:
- Alto aí, quem são vocês?, brinquei. Vamos à revista.
Não digam, deixem-me adivinhar.
Alinhados em meia-lua, muito sorridentes e bem-dispostos, nada incomodados pela abordagem do “estranho” aguardavam:
- Tu, filha da Cândida.
Seguiu-se um sorriso cúmplice.
- Tu e tu, filhos do Paulo.
Sorriso comprometedor.
- Tu, tu e tu, do Fernando.
Fácil. Sorriso mais contido…
- Vocês (tão parecidas com a mãe), do Carlos.
Sorriso lindo de crianças.
- Podem seguir, continuei a brincar.
Alegres como apareceram mais alegres continuaram para a piscina, retomando suas conversas, talvez agora baralhadas pela do “intruso”.
Foi um belo encontro.

A adesão foi surpreendentemente elevada e multi-geracional e deu ao Encontro um sentimento de conjunto e unidade da FdQ, correspondendo ao espírito cultivado no nosso Grupo.

Foi um encontro calmo e aprazível pois o que nos reúne não justifica especiais exuberâncias.
Não são precisos foguetes para sabermos que estamos em festa.

E respirou-se FdQ.

Foi uma magnífica oportunidade para encontros e reencontros de familiares que se estimam e querem bem, mas que o tempo e o fluir da vida distanciou e que a saudade e vontade juntou.

Oportunidade para novas emoções se manifestarem, desta vez libertas de outras mais tristes, dando azo a salutares espontaneidades, atualizações sempre oportunas, cruzamento e partilhas de vidas que hiatos de tempo - n'alguns casos significativos - justificaram.

O espírito dos Encontros de outrora foi retomado, agora incorporado e mais enriquecido por mais gerações. A presença da primeira e da quarta e a diferença de 90 anos entre elas, deu aos presentes um espírito de grupo alargado, consolidado e de continuidade que contribuiu e contribuirá para armonia pessoal e do Grupo.

Fizemos uma bonita árvore genealógica ao vivo e a cores (quase) perfeita da FdQ.

A presença e envolvência simpática, comprometida e descomplexada das novas geraçoes - a 3ª das quais já está em força a tomar conta do futuro - emprestou ao encontro mais jovialidade e colorido e neutralizou nos mais velhos nostalgias excessivas.

Estou particularmente contente por conhecer e rever (finalmente) pessoas que muito apreciava e estimava através do fb, mas que tardava o encontro 'face to face'; e, acrescento com gosto, que o apreço e a estima redobraram. Continuaremos, com certeza, a falar com mais entusiasmo ainda.

Agradecimentos e parabéns:
À Filipa, pelo trabalho dedicado à elaboração e confecção das lembranças (graciosamente);
Ao Inácio que, de coração aberto e entrega incondicional e empenhada, tratou das partes mais laboriosas e complicadas e sem o qual o evento não seria o mesmo, quiça irrealizável;
A todos que contribuíram com a sua opinião construtiva;
A todos nós por termos podido apreciar e absorver a “alma da FdQ”;
E finalmente, ao Zé (do tio Inácio) pelo generoso gesto final.

Para o ano?
Percecionaremos ao longo do ano se os níveis de entusiasmo agora manifestados se mantêm.
Se sim, porque não?

Em nome da Filipa, do Inácio, do Rui (sem ter falado com eles mas admitindo que me acompanhem) e do meu próprio, dizer-vos que nos sentimos perfeitamente ressarcidos dos cuidados que dedicamos ao evento com o retorno obtido com a vossa honrosa presença.

Post Scriptum_01
Respiguei do livro de dedicatórias estes dois parágrafos, e peço autorização às suas autoras para o seu uso, por me parecerem relevantes e concentrarem ideias a reter:

“Nós podemos não ter tudo junto, mas juntos temos tudo” - Filipa Félix.

“Como galhos de uma árvore, todos crescemos em direções diferentes, mas a nossa raiz continua a ser a mesma” - Xana Carvalho

Post Scriptum_02 e nota:
Pedir à Laurence Carvalho que faça chegar ao seu pai, José Carvalho, o Patriarca dos primos, este texto na íntegra.

Abrçs e Bjs para todos(as).
Continuaremos a ver-nos por aqui…
(estou a trabalhar as fotos para publicação aqui)