sexta-feira, 4 de abril de 2014

'O CODEX 632', de José Rodrigues dos Santos (JRS)

1.
Os meus parcos e dispersos conhecimentos sobre a história de Portugal, incluindo este período dos descobrimentos e mais concretamente sobre a verdadeira identidade de Cristóvão Colombo - tema do presente livro -, não me autorizam a comentar a versão aqui apresentada; porém, sempre direi, que o orgulho português fica bem mais polido com ela. A tentativa de JRS amarrar CC à cidadania portuguesa, é no mínimo estimulante, carecendo todavia de confirmação. Penso que JRS não pretende com esta sua ficção apresentar uma demonstração cabal da sua identidade mas tão-somente recriar um simples romance usando como tema uma dúvida secular e enigmática que alimentou e continua a alimentar gerações, nomeadamente académicas. O uso de técnicas mais recentes, incluindo as do ADN, reavivou a polémica e deu-lhe mais espaço e oportunidade para eventuais e novas conclusões. Não fiquei particularmente motivado em saber exatamente qual a sua verdadeira nacionalidade, confesso; o importante mesmo foram as novidades e as possibilidades que a suas descobertas trouxeram ao mundo que foram, como sabemos, gigantescas.

No decorrer da leitura do livro e no confronto com as diversas pretensões ou até reivindicações da nacionalidade de CC (portuguesas, espanholas, italianas e judaicas) veio-me à mente a recente viagem que eu e minha mulher, mais um casal amigo, fizemos a Madrid (MAR’2014). Como ficamos alojados na Calle Goya e andamos muito a pé, passamos várias vezes na Praça Colon; praça que a cidade (penso que povo espanhol) honrosamente lhe dedica. Mesmo no seu centro, com alguma pretensão e imponência, é ali bem destacada e exibida a sua estátua. Ao lado e também num espaço bem amplo, o ‘Jardines del Descubrimiento’. Ou seja, Espanha liga assim de forma enfática CC aos descobrimentos espanhóis, como que pretendendo, no mínimo, nacionalizá-lo ou identificar nele as boas caraterísticas do povo espanhol; se se quiser, ter nele mais uma bandeira de identificação e união do povo espanhol. Recorda-se que seus restos mortais estão em Sevilha (?).
Quando há uns anos passei por Génova, Itália, este tema passou despercebido nem o guia sequer o referiu; porventura devia tê-lo lembrado a bem de toda a verdade sobre o caso.

Acabado o livro, fica clara a ficção de JRS, ou seja, inventando um pretexto – uma presumível rasura num documento importante – cria a partir daí esta trama envolvendo CC e o eterno tema da sua verdadeira identidade. Honra lhe seja feita: está bem imaginado, conseguido, todavia extenso em demasia.
O livro não só não resolve o enigma mas, sobretudo, alimenta-o e potencia-o. Terá sido essa a intenção de JRS? Creio que não; tenho para mim que usou o tema enquanto inspiração literária e fonte comercial.

2.
Fica aqui confirmado, mais uma vez, de que a forma de escrita reflete o ADN de cada escritor. JRS é, ele também, fiel a este princípio: os temas variam mas a forma, o clima e a densidade narrativa são idênticos para não dizer iguais; gravitando à volta dos assuntos, expõe-nos da mesma maneira.
Este, como os outros, apetece-me dizer, está ‘limpinho’: sem gafes, bem ligado e com uma lógica narrativa que não suscita discussão. Para quem acompanha JRS como escritor chegará à conclusão que a inovação está apenas nos temas. Quanto ao resto é de fato muito igual.
Leitura fácil, agradável mas sem empolgar. Diverte, ocupa os tempos livres mas sem grande valor acrescentado. Pura diversão.