Ao ler as diversas crónicas reunidas neste livro (algumas com belíssimos estados de alma e todas exibindo um amor confesso a Portugal) em que o tema é ‘porque vale a pena conhecer Portugal’ (desafio proposto a vários portugueses de diversas origens, e em que os destinatários da mensagem são, essencialmente, potenciais e ainda desconhecedores turistas estrangeiros), aceitei também eu a provocação e inspiração.
Todavia vou deixar que a pena siga solta dando assim mais livre curso ao que me vai na alma. É que o tema é tão rico que prevejo não vir a ser capaz de o conter nos 2.500 caracteres sugeridos.
Imaginei-me na pele de Guia Turístico, profissão que de resto aprecio e, como eles, vou tentar ‘passar este sonho’ que é Portugal.
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Tenho por hábito fazer convites para assuntos que, também para mim, valham a pena; e verão que o que agora vos faço é um desses: convido-vos a conhecer Portugal, o meu país.
Imaginei-me na pele de Guia Turístico, profissão que de resto aprecio e, como eles, vou tentar ‘passar este sonho’ que é Portugal.
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Tenho por hábito fazer convites para assuntos que, também para mim, valham a pena; e verão que o que agora vos faço é um desses: convido-vos a conhecer Portugal, o meu país.
Um país que, como poucos no mundo, tem uma história longa de quase nove séculos, feita com suores e lágrimas, alegrias e tristezas, excessos e escassez, riquezas e pobrezas. Igual, nestes pontos, a tantos outros, afinal.
Começamos a definir este pequeno retângulo com 89.000 km2, ali em Guimarães, no século XII (1143), dividindo a Península Ibérica em dois, autonomizando-nos dos outros peninsulares e depois de progressivamente termos conquistado e expulso outros povos então aqui residentes; árabes inclusive. No século seguinte (XIII) estava definido o território que é hoje. Mais tarde, século XV, no início do que viria a ser uma empolgante bravata nacional, juntamos-lhe os Arquipélagos da Madeira (2 ihas) e Açores (9 ihas).
Reforçamos a nossa vontade independentista no século XVII (1640), resistindo bravamente a mais uma tentativa da nossa reintegração na Península, expulsando o domínio Filipino. Viríamos a ser novamente e seriamente ameaçados em 1808/1814 com as Invasões Francesas, imperava em França o todo poderoso Napoleão Bonaparte.
E outras houve mas ficarão para outra altura.
Nos finais do século XIV, em resultado de um mau momento nacional e sem outras melhores alternativas, atiramo-nos para o mar desconhecido e cheio de adamastores em caravelas inimagináveis e nelas chegamos aos quatro cantos do mundo. Trouxemos e oferecemos esses mundos ao ocidente e levamos o ocidente para lá.
A globalização tinha começado.
Foi o nosso período áureo.
Com o novo comércio que aí se praticou e com a Ciência Náutica (Escola de Sagres), ficamos ricos e importantes, quiçá os mais importantes no mundo. Fomos também e então os primeiros beneficiados.
O nosso pequeno território cresceu imenso passando a incorporar:
O nosso pequeno território cresceu imenso passando a incorporar:
• em África: Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné e São Tomé e Príncipe;
• na Ásia: na China, o pequeno enclave, Macau; na Índia, Goa, Damão e Diu;
• e bem lá longe no extremo do mundo, na Oceania, junto à Austrália/Indonésia: Timor;
• na Ásia: na China, o pequeno enclave, Macau; na Índia, Goa, Damão e Diu;
• e bem lá longe no extremo do mundo, na Oceania, junto à Austrália/Indonésia: Timor;
• na América: Brasil.
Somadas todas estas diferentes geografias - 10,742.000 km2 - chegamos a uma área com 1.000.000 de km2 superior aos EUA, ao Canadá ou à China.
Somadas todas estas diferentes geografias - 10,742.000 km2 - chegamos a uma área com 1.000.000 de km2 superior aos EUA, ao Canadá ou à China.
Se somarmos as suas populações chegamos a 300 milhões de pessoas (a quase totalidade a falar a língua portuguesa).
Mantivemos esses territórios sob nossa administração até 1975 [Brasil tinha-se tornado independente em 1822 (instigado por um dissidente, descendente e herdeiro monarca português), e Goa, Damão e Diu em 1961 (era então Pandita Nehru o 1º Ministro da Índia].
Nota pessoal:
O odiável e temível Nehru como então era tido pelos portugueses, em especial pelos diretamente envolvidos. Aproveitamos a fonética do nome para derramarmos as nossas angústias e o nosso fel que ele, Nehru, nos punha a produzir abundantemente comparando-o ao extravagante e tirano Nero romano.
Como impacto e testemunho pessoal refiro que, na altura com 10 anos e vivendo na aldeia - Atães/Fermil Basto, tinha um vizinho, o Manuel do Pomar, que cumpria o serviço militar aí nessa parte da Índia, Goa. A família ao saber da notícia da invasão e ocupação pela Índia, principalmente sua mãe, Srª Teresa, tresloucada, inconformada e temerosa com o destino do filho, de mãos na cabeça e vagueando desnorteada de lado para lado, emitia gritos pungentes e lancinantes em cuidados com a sorte do filho nessa Índia inimaginavelmente distante.
Foi o meu primeiro embate frontal com a situação periclitante dos territórios portugueses do além-mar. Aos meus olhos e perceção de criança, longe vinham ainda os tempos em que eu próprio viria a ser sujeito ativo neste processo, indo também eu para Angola durante dois anos ‘72/74. Tenho bem presente as preocupações e angústias vividas pelos meus pais, irmãos e familiares mais próximos nesses tempos sofridos de tantas incertezas pela vida deste seu ente-querido.
Felizmente a natureza anestesia a juventude contra os excessos de sentimentalismos permitindo que sobrevivam às maiores provações e adversidades e a sociedade 'compensa-os' transformando-os em heróis.
Fim de nota.
Como se pode imaginar a sua manutenção foi astuciosa, considerando que éramos um país pequeno, sem respeitabilidade e sem capacidade reivindicativa nos fóruns geopolíticos e geoestratégicos internacionais. A cobiça internacional, sempre à espreita, foi um desafio e uma afronta permanentes.
Como se pode imaginar a sua manutenção foi astuciosa, considerando que éramos um país pequeno, sem respeitabilidade e sem capacidade reivindicativa nos fóruns geopolíticos e geoestratégicos internacionais. A cobiça internacional, sempre à espreita, foi um desafio e uma afronta permanentes.
Soçobramos em definitivo em 1975 depois da dita cobiça ter feito o seu caminho e ter atingido a plena maturação (Macau seria entregue à China em 1999).
De notar que mesmo assim, fomos o último país colonizador a retirar-se de cena. Todos os outros, incluindo os maiores, já o tinham feito.
Acrescenta-se que Portugal, com exceção entre os anos 1930 e 1951 da era Salazar nunca oficializou o termo Império com o significado que geralmente lhe é atribuido. Utilizou o eufemismo Império Colonial.
Sublinha-se que mantemos com esses países, com todos eles, excelentes relações sempre comumente renovadas. Aliás, é para esses países justamente que a nossa atual emigração se dirige e sabe-se que com bom acolhimento e sucesso, principalmente para Angola, Moçambique e Brasil. O movimento migratório inverso tinha ocorrido nas últimas décadas: Portugal acolhera muitos imigrantes desses países; estimam-se em 500.000.
Estamos reunidos numa plataforma internacional - CPLP - com um estatuto próximo do da Commonwealth, porém com uma exclusão de peso: não contempla o livre comércio. É pena! E não obstante essa falha o comércio flui bastante bem entre todos.
Quem sabe se no futuro o estatuto não será melhorado, a bem de todos.
Nota:
A acrimónia relacional ainda hoje sentida entre portugueses e espanhóis, (...de Espanha nem bom vento nem bom casamento), tem a sua explicação mais profunda na história entre ambos. Na era dos descobrimentos Espanha tentou, mais uma vez, a reunificação peninsular com um objetivo imperialista estratégico bem definido: unificar sob uma única bandeira, a sua, todos os territórios conquistados, portugueses e espanhóis. A dimensão dessa junção - 25,000,000 km2 - conteria proporções tais que tornaria a Península Ibérica num imenso império (apenas ultrapassado pelo Britânico). O que Hitler tentou em 1939, alguém já o tinha tentado bem lá atrás: poder hegemónico mundial.
Fim de nota.
O nosso maior poeta, Camões, traduziu essa epopeia nacional nos Lusíadas e aí sintetizou o gene do povo português onde nos revemos e orgulhamos.
O nosso maior poeta, Camões, traduziu essa epopeia nacional nos Lusíadas e aí sintetizou o gene do povo português onde nos revemos e orgulhamos.
Houve momentos da nossa história menos grandiosos - como o atual - mas sempre conseguimos ultrapassar o ‘mar das tormentas’ e retomar a normalidade.
Com a mixagem que resultou dos diversos cruzamentos com outros povos, começou a correr-nos nas veias sangue multicolor e com temperaturas mais quentes.
Acolhemos e refinamos o que de melhor esses povos tinham e também com isso fomos construindo neste ‘cantinho à beira mar plantado’ a nossa identidade como povo e como nação.
Depois desta necessariamente breve resenha sobre a história deste país e deste povo, acredito que já comecem a gostar de nós, senão a admirar-nos. Estou certo que se renderão em definitivo quando começarem a calcorrear, como eles, os trilhos do seu dia-a-dia, e é para aí que agora vos convoco.
Comecemos então pelos locais histórico-culturais ou naturais que são patrimônio mundial da UNESCO em Portugal. Dos quinze até agora eleitos e espalhados por todo o território - da Ilha do Pico à Zona Vinhateira do Douro - convido-vos a conhecê-los a todos, até porque eu próprio tenho dificuldade em eleger este ou aquele. Porventura irão necessitar doutras oportunidades, mas mantenham-nos na agenda pois valem bem a pena.
Deem uma chance às nossas exóticas e bonitas serranias, não esquecendo a agreste serra da Estrela e aí aproveitem para esquiar; namorem nos recantos da de Sintra sob a sua luxuriante e voluptuosa vegetação e refrescantes sombras estivais; corram atrás do Lince na da Malcata e embrenhem-se na natureza profunda da do Buçaco, respirando o seu ar puro e revigorante; deem um salto à acolhedora serra do Gerês e ao seu Parque Natural...
Deixem que os sonhos aconteçam quando apreciarem os horizontes sem limites e serenos dos nossos planaltos de Trás-os-Montes; encantem-se com o jardim natural e inebriante do verde Minho; valorizem o ser humano no trabalho árduo nas vinhas escarpadas do Douro; esqueçam o bulício frenético das grandes metrópoles na pacatez imensa do nosso Alentejo (além Tejo); bronzeiem-se e passeiem-se nas lindas e inóspitas praias Algarvias de areias imaculadas, aquecidas por um sol radioso e coloridas pela sua luz abundante; percam-se na vertigem do além-mar nas límpidas águas azuis do mediterrâneo...
Não vos poderia ocultar, até porque a sua dimensão o impede, o Mosteiro dos Jerónimos, o nosso maior símbolo da era colonial, a par com a Torre de Belém. Também não vos posso esconder, por idêntica razão, o de Mafra que traduz a loucura e o desejo de imortalidade de um dos nossos Reis; conheçam aí a sua enorme e bem recheada biblioteca, uma das mais belas da Europa. Eternizem o amor ao vosso parceiro(a) seguindo o exemplo arrebatado de Pedro e Inês, no de Alcobaça...
Visitem o Parque das Nações, ali em Lisboa, o expoente mais emblemático da modernidade de Portugal; apreciem o design das nossas modernas pontes, da de Vasco da Gama na Capital à de São João no Porto; ouçam uma sinfonia de Mozart na bonita e bem acusticada sala Suggia na Casa da Música, mas não nos levem aquele diamante que o edifício sugere; levem antes a modernidade, o movimento e o dinamismo do edifício Vodafone…
O elevado número das nossas autoestradas e as boas vias rodoviárias em geral, a par do caminho-de-ferro com o Alfa-Pendular, levar-vos-ão rápida e confortavelmente a qualquer recanto nacional.
As nossas cidades, Lisboa e Porto principalmente, estão no top do turismo mundial mas não fiquem por aí. Vão até Coimbra, dos estudantes; Guimarães, aqui nasceu Portugal, Braga ‘Augusta’, aqui se reza, Figueira da Foz e sua linda praia, Nazaré e o seu ‘sítio', Aveiro e sua ria com os coloridos ‘moliceiros’; Bragança …
Somos um país fortemente recetor de turismo e para isso estamos bem apetrechados. Podem optar por alojamentos em hotéis clássicos (do Vidago Palace ao Bussaco Palace ou Lapa Palace) ou modernos ou pelas isoladas e acolhedoras Pousadas, ambos abundantemente espalhados por todo o país.
Se com o que atrás mencionei não vos convenci o bastante, estou seguro que o conseguirei com esta nova proposta: a nossa gastronomia. Tenho porém uma dificuldade que tem a ver com o que devo selecionar. É que a dieta alimentar portuguesa é tão rica, tão variada, tão abundante, suculenta e gostosa que me sinto obrigado a aumentar enormemente o menu e antevejo já as vossas papilas Pavlovianas a salivarem descontroladamente. Deixar-vos-ei uma meia-dúzia de sugestões e um desafio: descubram vocês mesmo as restantes, todas se conseguirem.
Peixe grelhados - fazemos os melhores do mundo. Confirmadamente. Experimentem todos mas não percam a oportunidade da sardinha na brasa, do bacalhau, da corvina ou robalo de mar. Peçam para beber um vinho verde branco fresquinho, não esqueçam.
Peixe grelhados - fazemos os melhores do mundo. Confirmadamente. Experimentem todos mas não percam a oportunidade da sardinha na brasa, do bacalhau, da corvina ou robalo de mar. Peçam para beber um vinho verde branco fresquinho, não esqueçam.
Fritos - não serão muitos saudáveis, dizem, mas vezes não são vezes. Experimentem uns choquinhos fritos, uns carapausinhos, uns pastéis de bacalhau ou pataniscas acompanhados com um arrozinho malandro de feijão ou hortaliça. Ah, e reguem com vinho verde tinto ou branco fresquinho.
Assados no forno - degustem o cabritinho, vitela à Lafões e peixes em geral incluindo o bacalhau e o robalo. Reguem bem com uma reserva do Douro ou Alentejo.
Cozidos - não podem regressar sem verem e comerem o nosso enorme cozido à portuguesa (uma montanha de carnes e hortaliças), regado com Douro ou Alentejano. Curiosamente também suporta o verde tinto.
Doçaria - do pudim Abade de Priscos, ao simples pastel de Belém, encontrarão um leque de oferta variada de que não vão conseguir experimentar todas.
Peçam para acompanhar estas sobremesas um Vinho do Porto e terminem a refeição com um cafezinho.
Se preferirem a ‘Nouvelle Cuizine’ ou de Autor, temo-la em abundância. São vários os restaurantes Michellados.
Espero que o pedaço de paraíso que daqui levam vos obrigue a regressar, prometendo que continuaremos a cuidar dele para que melhore ainda mais.
Os sedimentos deste já longo viver coletivo deste singular povo português consolidaram princípios, moralidade, hábitos, usos e costumes e, como resultado, sentimo-nos irmanados numa tolerante e sã convivência que apaziguam o nosso dia-a-dia e que partilhamos com todos vós.
Vale a pena conhecer Portugal.
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Os sedimentos deste já longo viver coletivo deste singular povo português consolidaram princípios, moralidade, hábitos, usos e costumes e, como resultado, sentimo-nos irmanados numa tolerante e sã convivência que apaziguam o nosso dia-a-dia e que partilhamos com todos vós.
Vale a pena conhecer Portugal.
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