terça-feira, 20 de março de 2012

'O Último Segredo'

A mesmo fórmula de sempre e que tantos outros, muitos ilustres, exploraram ao longo de séculos: a religião ou se se quiser o sentimento místico das pessoas. Baralhar e voltar a dar. Explorando ou reinventando pequenos nichos passíveis de controvérsia, fazem deles a sua pepita dourada. Para relembrar apenas os mais recentes: Don Brown em ‘Código da Vince’ e José Saramago em ‘Evangelho Segundo Jesus Cristo’. Este último, até é estranho ou se quisermos mais descarado, porque sendo ele um confesso ateu, não resistiu contudo ao filão comercial do tema. Agora, JRS, também não.
Nem sequer ponho em causa o que é dito, i.e, não questiono a origem dos documentos em que se alicerçam as atuais normas da religião católica. Dou-as como boas. Admito que a evolução documental escrita, possa ter acontecido exatamente como é dito. Acrescento porém que a fragilidade ou a inconsistência da sua origem não é muito relevante para os crentes. Os crentes, ou melhor dizendo, os que sentem a necessidade existencial da crença, são compelidos, compulsivamente, a acreditar e sentem-se confortáveis com a triagem secular que a história tem feito. Obviamente que a instituição, através dos seus mais fiéis seguidores, encarregou-se de colar na Bíblia as normas que julgou mais apropriadas à causa, expurgando-lhe as indesejadas. Ainda hoje assim é: continua-se a exigir alterações da hierarquia, esta ou aquela conforme as razões do grupo que as promove.
Quanto ao romance propriamente dito e para quem conhece já JRS, é mais do mesmo, sem surpresas, variando apenas no tema escolhido, seguindo à risca o seu estilo, jornalístico, mas interessante.
Este romance, quanto a mim, fica um pouco aquém do esperado. Depois, principalmente do Anjo Branco, esperava francamente mais.

PS.: Como com quase todos os escritores estrategicamente acontece, este romance é rico e surpreendente mormente na parte final. Até mais de meio o puzzle dos personagens anda disperso, quase impegável, só a partir daí o formato da história começa, tenuemente, a clarear. Lembra uma onda gigante que bem lá trás, pequenina, se começa a formar, vem engrandecendo e engrossando pelo caminho, acabando por eclodir violenta e ruidosamente no final. Assim foi n'O Último Segredo' e ainda bem.

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