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A grandiosidade, a opulência que os 7 (sete) Emirados Árabes Unidos (EAU) atingiram nos dias de hoje - de que se orgulham, exibem e ostentam -, com destaque para o estado de Abu Dhabi, o da capital com o mesmo nome, e para o de Dubai -, começaram a acelerar nos anos ‘60 e ‘90, respetivamente, alicerçadas na descoberta na sua área geográfica de abundantes jazidas do ‘ouro negro’, incluindo a do gás.
A máquina industrial do mundo precisava urgentemente de energia para se levantar do chão depois da 2ª guerra, e ali havia-a. A pressão de consumo do precioso líquido foi tal que desencadeou a primeira grande crise petrolífera nos anos ‘70 entre vendedores e compradores, atingindo o valor de mercado inflacionado nos 400%. Os EUA, querendo continuar a protagonizar a liderança mundial, apressaram-se a fazer um acordo com os produtores da área em que o petróleo seria transacionado nos mercados internacionais em dólares (USD), a sua moeda, e em contrapartida oferecia-lhes a segurança de que precisavam para poderem operar. Com esta decisão, obrigaram o mundo a comprar dólares para comprar petróleo, diminuindo, subsequentemente, o valor das próprias moedas. O valor do dólar disparou, a economia americana consolidou-se e os produtores escalaram a riqueza. Estranhamente, ou não, houve, e há, países produtores de petróleo que não quiseram beneficiar deste 'bónus' e distribuir a abundância que a oportunidade dava, e dá, pelas suas gentes.
A China de Mao estava empobrecida e a URSS de Khrushchov e depois de Brejnev, periclitante e sem energias competitivas.
Os EUA cintaram o golfo pérsico então, e desde então, com armas de todo o tipo, principalmente nucleares, quer com meios próprios quer por interpostos acordos com os países satélites. Uma das poucas exceções do não acordo - depois de eliminado o Xá da Pérsia, Rezā Pahlevi -, foi o Irão (e o ex-Iraque) que vai resistindo entre a ameaça e o bluff. Com uma certeza: os EUA jamais permitirão que a veia principal de energia que faz funcionar o coração do mundo e o seu seja entupida. Seja por quem for. Os EUA como superpotência precisa que o mundo continue a drenar para os seus cofres parte da riqueza que produz para alimentar o, até agora, motor económico mundial: os EUA. Até se encontrar uma alternativa ao ‘ouro negro’ assim será. Se os EUA sucumbirem, outro - China, Índia, Rússia - lhe sucederá. Por agora, o seu grande e único opositor é a OPEP, grupo que não domina totalmente. O Grupo é composto por países muito heterogéneos, desde a Arábia Saudita à Venezuela passando, inevitavelmente, pela Rússia, degladiando cada um deles pelo seu maior quinhão. Sem contemplações por ninguém o grupo OPEP gere no dia-a-dia o preço do petróleo e do gás nos preços máximos, mas atento a que a economia mundial não entre em recessão descontrolada e prejudique a sua faturação. Tem assegurado sempre coesão interna, Rússia incluída, e assim vão continuar.
Rockefeller e Gulbenkian, mentes astuciosas, foram no seu tempo os homens mais ricos do mundo sugando e acumulando fortunas no emaranhado mundo deste negócio. Agora são outros a fazê-lo.
E chegamos aos Emirados.
Os ingleses no seu tempo colonial naquela zona tinham-na dividido a ‘régua e esquadro’ e cada um dos 7 (sete) Emíres tomou conta do seu pedaço. Abu Dhabi, o Emirado maior - ⅔ do total - e mais rico em energias fósseis, ensaiou e mais tarde consolidou uma união com os outros 6 (seis) estados, formando os EAU. Cada um deles com o seu Sheik, cada um deles com a sua autonomia, mas sabendo quem é o maestro: o de Abu Dhabi. Abu Dhabi tem sua ‘mina de ouro’ garantida por mais 200 anos e os outros, porque ‘minas’ esgotadas ou em vias disso, ensaiam alternativas económicas, no turismo concretamente, mas não só. Ao que se sabe, em questões de dinheiro, os EAU não têm uma conduta ética como aqui no ocidente gostamos de apregoar. Money, Money, Money é o lema. Receberam de braços abertos, sem pudor ou hesitações para com o ocidente, 5.000 oligarcas russos que lá parquearam suas fortunas.
Aquela grande região do golfo Pérsico, ou Arábico como os Emiradenses preferem dizer, sempre andou nas bocas do mundo. Desde os tempos mesopotâmicos, passando pelos de Laurence d’Arábia e agora da Arábia Saudita, Irão, Iraque, Kuwait, Catar, Emirados… sempre assim foi. Dos anos ‘60 para cá porque reenergizados pelo ouro negro.
O que pensar dos atuais Emirados?
Reduzir a opinião a aplausos ou críticas é seguramente precipitado e redutor do muito que por ali se pode observar. E manieta dimensões importantes e interessantes. Opto, outrossim, por os ver nas suas múltiplas facetas. Algumas aqui ficam, muito longe do todo. Desde logo cada um de nós os vê de acordo com a sua sensibilidade, seus conhecimentos, sua abordagem cultural, em suma, de acordo com as idiossincrasias que nos cabem.
• Visto do lado deles
Fruto da dinâmica do mundo, os Emirados foram bafejados com a existência dentro de portas de uma commodity muito cotada nos mercados internacionais. O mundo precisa dessa matéria-prima para funcionar e vai lá comprá-la. Em resultado, oleoduta e gasoduta diariamente para lá biliões e biliões. O que fazer com tanto dinheiro? Não têm direito a usufruir dessa riqueza? Quem não desejaria ser rico assim? E os Sheiks, precisando do apoio dos seus súbditos, de proteger e aumentar suas fortunas, de se porem a salvo da inveja e cobiça das numerosas famílias, vão distribuindo ‘algum’ por todos, acrescido de cargos políticos pelos seus muitos irmãos. Sim, aquietar 50 irmãos, filhos de prolífera poligamia, não é tarefa fácil. Não é raro haver quezílias, lutas intestinas, familiares e fratricidas pelo poder, pelos diversos níveis do poder. Para com a plebe, a dádiva de uma casa, manutenção incluída, carro e 20.000 USD no casamento, tem sido suficiente até agora. Mas sempre atentos às reações populares e familiares. O culto de descendências numerosas mantém-se em alta: 90% dos residentes são estrangeiros. Estimular a descendência é prioridade. Porém, um regime de monarquia absolutista, tem as diversas grelhas de proteção criadas - segurança, economia, externa… -, bem oleadas, de forma a manter todos sossegados. Até agora com sucesso.
• Visto de outros lados.
Um mundo estranho este! Um mundo de exageros. Um mundo invejado. O que dirá a África profunda? Será que sabe da existência deste outro mundo? E se souber?
O deslumbramento e a revolta caminham a par, mas em rota de colisão. Estas desigualdades tão abissais magoam. E ferem mais por se saber que sempre assim foi, assim é, e assim continuará. Coexistem em nós sentimentos contraditórios a cada passo. Será que nós portugueses seríamos mais generosos? Noutro tempo, no tempo em que fomos império, repartimos os excessos com alguém? E agora, abdicaremos da oportunidade do lítio?
‘Frame’ (2018), Dubai.
Lentamente, por entre Ghafs (árvore nacional) que por ali sombreavam os quentes e húmidos 34°, fomos especando à aproximação da ‘Frame’. O que é isto? O que estou a ver!? Que arquitetura é esta? Atento a todos os novos detalhes e ladeando o conjunto a fervilhar de entusiasmo - era o início da aventura Emirada -, fomos elevados aos seus 150m. Já lá, encadeados ainda pelo brilho dourado que a Frame lá fora devolvera, pasmamos e embasbacamos com a primeira grande frame assim conseguida do Dubai, aquela que circula pelo mundo. Contorcendo-nos em 360° fixamos entorpecidos todo aquele cativante panorama. Uma visão inédita, real e absorvente. Soberba. Extasiante. Foto, foto e mais fotos, tudo engavetamos na caixinha mágica. Arriscamos olhar o chão térreo bem lá em baixo pela transparência do chão lá de cima e, mais que isso, num gesto timorato, pé-ante-pé - houve quem não -, tateamo-lo num misto de ousadia e euforia para afugentar medos. Uff! O coração arritmou mas logo sossegou contagiado pela alegria reinante. A descida célere descomprimiu alguma tensão, esconjurou receios, completada já em solo seguro num banco corrido do jardim sobranceiro ao lago de águas límpidas azul-turquesa que atapetam a Frame. Sucumbimos a tanta grandeza, a tanta beleza, mas, logo, logo arribamos para a próxima.
Sheikh Zayed Grand Mosque, Fujairah, 2014
Sheikh Zayed Grand Mosque, Abu Dhabi, 2007
Ferrari World Abu Dhabi, 2010
Souq Al Jubail, 2015, Sharjah Corniche
Louvre, 2017, Abu Dhabi
Burj Al Arab, 1999, Dubai
Palm Jumeirah, 2008, Dubai
Burj Khalifa, 2010, Dubai
Museum of the Future, 2015
Sharjah Museum Islamic Civilization, 2008
De tanto que se pode destacar, do muito que há para admirar em cada um dos 7 (sete) Emirados, seleciono, exausto, a lista acima.
• As Mesquitas paralisam-nos de tão bonitas e grandiosas (pormenores: tapete persa manual com 40 Ton da lã. A Mesquita de Abu Dhabi acomoda inside 50.000 fiéis).
• As Burjs honram a celebridade que lhes é atribuída.
• A Palm Jumeirah, bem lá do alto, oferece-nos uma visão inteira deste novo mundo.
• O teto do Louvre cobre-nos com a sua gigantesca abóbada suspensa.
• O Museu do Futuro concretiza sonhos e arquiteturas irrealizáveis.
• O Ferrari Shopping e o Souk, dos maiores do mundo, também em arquitetura, cor, marcas, ordenamento, limpeza… Um luxo.
• O interior do Museu das Civilizações encanta.
Arquitetura
Surpresa. Estava à espera, confesso, de uma arquitetura mais arrojada, plus nouvelle, mais original, mais médio-oriente, mais árabe. Mas não, à parte a eminentemente árabe - que a há - encontrei uma opção futurista, sim, mas de matriz europeia ou ocidental. E com uma linha evolutiva notória. O desenho e os materiais dos atuais arranha-céus, distam anos-luz dos anos '60/70. E dos recentes gostei francamente. Não tanto pelas alturas anormais, mas mais pela estética e pela nobreza dos materiais usados, numa competição desenfreada pelo look final mais surpreendente.
Desert Safari Sunset Watching
Destino 'com emoção' (expressão popular do mesmo métier, em buggy, nas dunas do nordeste brasileiro que aqui recuperamos).
Depois de 45" em estrada corrida, eis-nos chegados ao deserto. À areia sem fim à vista. Às dunas a tomar conta dos horizontes. À vegetação escassa e a suplicar por água. À aridez pura e dura sem vestígios de vida.
O condutor não leu as nossas apreensões, hesitações e dúvidas bem audíveis em cada palavra dita ou por dizer. Depois de retirar, como recomendado, alguma pressão dos pneus para garantir melhor aderência, surdamente concentrado na sua função, mas sem hesitar um segundo, carregou a fundo no acelerador. E aí vamos nós à aventura.
Veloz, mais do que imaginávamos, mas o necessário para assegurar (será!?) a estabilidade e tração do Jeep, voou para o desconhecido. Duna acima, duna abaixo, guinada à direita e à esquerda, descida íngreme, sabíamos lá até onde?... parecia querer provocar-nos. E o Jeep mais parecia um brinquedo de um jogo de consola nas suas mãos. E nós, novatos em desertos, marionetes descontroladas, tipo boneco teimoso, bamboleando-nos uns contra os outros e contra as paredes e tejadilho do carro. Veio-me por instantes à memória o boneco que outrora se colocava na traseira do assento dos carros a abanar a cabeça e o corpo hirto pregado à alcatifa como se não fosse nada com ele. Diferentes do boneco, cada um de nós se agarrava ao que tinha à mão tentando garantir estabilidade e controlo de riscos, como se isso estivesse ao nosso alcance. Mas o carro não queria saber das nossas angústias e galgava frenético por dunas e vales. Quando é que isto acaba? - ouvia-se em surdina. Respira, respira fundo, acalma o ‘gregório’ - ouvia-se do silêncio. Será que isto vai correr bem? Ainda faltará muito? O sol lá longe, embora bonito, ameaçava despedir-se da última duna e de nós, até que… o carro atascou. Oooh! Bonito! E agora? - perguntava o silêncio. O silêncio estava muito falador naquela tarde, vá-se lá saber porquê. Calma, o condutor resolve, - desejamos todos. O acelerador fez roncar o motor, seguido de guinadas no volante. Nada, o bicho não se mexia. Nova tentativa: marcha atrás, para a frente, para o lado e… nada. Será, será que vamos pernoitar no deserto? Olha que… O que nos passa pela cabeça!? Menos pressão nos pneus, - decidiu quem sabe. O condutor do carro que nos fez atascar, também atascado - bem feito! - veio opinar, melhor dito, veio bitaitar, mas logo virou costas. Restava por companhia ou solidariedade, como sabê-lo?, um terceiro carro parado à distância pouco animadora de 50m, que não sabíamos se atascado também. Bonito! Coragem, coragem, isto vai. Há-de ir. Era bom que fosse. Mais uma manobra, mais uma aceleradela e… aí vamos nós felizes e contentes. Uff, Uff, desta escapamos. Decorrida uma hora, agora que estávamos ases em safaris, avistamos o grupo no ponto de chegada. O ritmo cardíaco foi desacelerando, devagarinho, como o motor do Jeep, ajudado por um pôr de sol bonito, mas já expirando uns enfraquecidos últimos raios. Raios brilhantes, apesar de últimos, e compridos que chegavam até nós. Por onde passavam tonificavam as areias do deserto com uma coloração matizada de tons castanhos, ocres, avermelhados, cinzas e azuis-claros. Estes sim, são bonitos. Brincamos às fotos, sentamos na areia ondulada e macia, rimos, gargalhamos. What Else? Criamos momentos e recordações que perdurarão.
Mil e uma Noites
Recuperamos da literatura e do cinema a magia das ‘Mil e uma Noites’ num típico jantar árabe permeado com a dança do ventre de uma contorcida bailarina e com os acepipes coloridos dispostos abundantemente em longas mesas. A temperatura amena amaciava o lusco-fusco do entardecer e este, por sua vez, libertava os espíritos noctívagos vagabundos, enquanto as mentes mundanas se transportavam para os interiores das tendas árabes, recebidas à entrada pelas chamas ondulantes saídas dos archotes pendurados e mais danças do ventre na penumbra do interior! Por momentos o 'Lawrence d'Arábia’ esteve entre nós e trouxe com ele todo o acervo mágico arábico do seu tempo, 1888/1935. [(filme épico de 1962 (vi na altura) de David Lean, com elenco de luxo: Peter O'Toole; Omar Sharif; Alec Guiness; Anthony Quinn…)
Por último, e podia ter começado por aqui, o meu regozijo pela companhia da Branca, minha mulher, e de duas grandes companheiras destas andanças: a Carla Guedes e a Carla Silva (saudosamente, lembramos amiúde os amigos viajantes do “Por esse mundo fora”). Sempre animadas, sempre bem-dispostas, comunicativas, de smile espontâneo, sempre à procura de mais e mais, da descoberta de coisas novas, de novas emoções.
O grupo PLV não se chegou a agrupar, ou nós ao grupo, com duas pequenas exceções para a Mafalda e para a Lenita. Se por um lado se descuidaram novas relações, por outro estreitaram-se as nossas. E foi bom. Bom mesmo.
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