Belo dia este:
Dia de São Martinho!
Até faz esquecer a água
A quem gosta mais de vinho.
Até faz esquecer a água
A quem gosta mais de vinho.
A chuva fez intervalo
Para o Verão de São Martinho,
Logo à pressa fui buscar
As assadas, as cozidas e o vinho.
As adegas já estão cheias do líquido
Que faz mais bem que mal!
Bebendo-se um pouco mais que a conta,
Fica-se em vinha-d’alhos até ao Natal.
No dia de São Martinho
Vai à adega e prova o vinho.
Toma nota que ‘provar’
É só beber um copinho.
São tão quentes e boas
No fogareiro a estalar.
Venha de lá um do tinto
Para melhor as saborear.
“São tão quentes e boas”,
Canta-se no refrão do velho fado.
Come, come glutão
Até ficares saciado
Ao passar à tua janela
Pedi-te uma castanha assada
Distraída com a treta, brincaste:
Já está estragada!
Desconsolado com o sucedido
Ali permaneci de pé
Aguardando pelo menos
Um copito de água-pé.
Por não querer ‘ficar a seco’
Pedi-te então um queijinho
De olhar maroto e a sorrir
Atiraste-me um beijinho.
São Martinho, meu bom santo,
Atira-me a tua capa;
E mantém este Sol bonito,
A ver se da chuva a gente escapa.
Para quem trabalha, São Martinho,
Tem especial consideração;
Não lhes negues o que te peço
E dá-lhes um belo dia de Verão.
E para os demais também,
Sê amigo e satisfaz-lhes o desejo.
Para não ficarem em casa
E preferirem o arejo.
Para os meus amigos te peço hoje:
Sol, água-pé, castanhas e vinho;
Não me obrigues a pedir segunda vez,
Pois não te peço, nem baixinho.
Ai de ti se não me atenderes?
Não venho mais ao engano!
Ficas virado para a parede,
De castigo até ao ano.