quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Corrupção: o cancro incurável | José Sócrates e outros...

Vivemos atualmente em Portugal, mais uma vez, momentos conturbados, muito agitados e comentados na área da corrupção, potenciados pelo aparecimento em cena de José Sócrates. E não só nesta área, lembra-se. A chama reacendeu e os ventos multidirecionais ampliam o fenómeno. As turbas perfilam-se defendendo cada qual com os argumentos mais 'inteligentes' a parte do seu quintal. Apenas uma ou outra voz mais desalinhada lá vai redirecionando o discurso para o lado da ética mais pura ou desapaixonada.

Vou focar-me, por ora nesta, na corrupção, sintonizando-me com o bruaá que corre nos media, adiando mas não esquecendo as outras.

Começo por dizer que o tema em geral me provoca, sempre, urticária aguda mas particularmente virulenta quando proveniente da classe política.
É suposto que os eleitos sejam, eles próprios, sobretudo eles próprios, pessoas de bem, idóneas, probas; diria 'imaculadas'. Deviam ser e ser vistas como exemplos de inquestionável conduta moral, pessoal e social. Deveriam ser o que nos grandes palcos altissonantemente apregoam pois isso dar-lhes-ia uma aura de inatacabilidade e creditícia que levaria a que os cidadãos acatassem com réplica colaborante as suas opiniões e conduziriam assim sob esse lastro mais almofadado, o timing e a eficácia dos destinos das sociedades, tal como o bom e sábio pastor encaminha seu rebanho para pastos mais fartos.

Sabemos, desde que o ser humano começou a ficar gregário, que tem de haver alguém, eleito ou não, que o organize e o faça funcionar em grupo, isto é, com regras. Pior que tudo são os anárquicos ou os inorgânicos que, acéfalos, tresmalham-se com mais facilidade.
Qualquer que seja a forma de organização, desde a ditatorial - mais à esquerda ou mais à direita - passando por todas as outras, e incluindo a democrática, em todas elas, esta questão da corrupção é transversal, sendo que, na democrática por ser a mais escrutinada popularmente é a menos gravosa e a que menos perdura.
A sua existência e persistência em todos os modelos foi, é e será sempre abjeta e nefanda. 
Causa-me revolta visceral, todos os casos conhecidos e tenho para aqueles que a praticam o mesmo sentimento: de repúdio total, no mínimo, e isto para me abster da escolha de qualificativos que, se usados, seriam os mais populares; os de rua mesmo.

E chegamos a José Sócrates!
Nota prévia:
Fui seu entusiasta, quase indefectível defensor, enquanto primeiro-ministro. Tinha qualidades raras indispensáveis à função.
Lutou tenazmente contra poderes e privilégios instalados e tentou equalizar um pouco mais a sociedade portuguesa. Criou com este seu denodo inimigos poderosos, alguns ferozes e de vingança retardada. Os rastilhos outrora ateados parecem estar a detonar agora bombas por todo o lado...
Essa sua postura era para mim virtuosa.
Cometeu erros? Concerteza e alguns sérios.

Não sei o que lhe irá acontecer judicialmente. Uma afirmação categórica pronuncio desde já: se é culpado - corrupto - que seja severamente castigado. Se possível mais que os outros mais 'normais'. Obviamente libertado se for essa a justiça a aplicar.
Não aceito, não pactuo com gente - seja ela quem for, incluindo José Sócrates - que, a coberto de um pelo alvo de cordeiro, usem as cadeiras públicas para o enriquecimento pessoal.
Abominável simplesmente.
Tinha satisfação que, se culpado, fosse severa e exemplarmente castigado.
'No mercy', era o título do filme...