quinta-feira, 28 de novembro de 2013

...mais vale viver (relativamente) pior!


Futuro
Passado

“Século XX, Século do sofrimento e da esperança!”

Acabei de ler a “História do Século XX”, de Martin Gilbert.

Foi com gosto intenso e muitas vezes emocionado / indignado / revoltado… que revisitei todo o século XX conduzido pelas mãos de um mestre em história e literatura. Sim, as duas abordagens, histórica e literárias, estão bem presentes. História do comportamento das sociedades, da humanidade em geral bastante conseguida, agradável, imparcial, objetiva e literariamente perfeita.
Ritmo certo e uso correto e até exímio da palavra na transmissão dos acontecimentos.

Não nego, antes pelo contrário declaro, que me deixei emocionar por muitos dos fatos que aqui são lembrados em resultado dos fatos em si mesmos e pelo realismo e crueza como ocorreram.

Acresce também que a segunda metade do século (desde 1951) foi também vivida por mim e eu próprio fui testemunha e sujeito ativo do seu desenrolar. Fui eu também interventivo durante dois anos na guerra colonial portuguesa, ao seu serviço, quando vesti a farda militar em Angola nos anos 72 a 74.
Em bom rigor e não tentando com isso alijar responsabilidades, não tinha como alguns, uma atitude consciente das envolvências em resultado de algum deficit de informação académica e/ou política. Comecei aí precisamente, aos 20 anos, a perceber melhor e mais detalhadamente o que acontecia à minha volta e no mundo. De qualquer modo ao participar fui agente ativo na história, nomeadamente na portuguesa.

Vou tentar não me repetir ao que já escrevi a propósito desta publicação de MG num outro apontamento anterior, mas confirmo por inteiro o que então lá referi.

A história portuguesa num ou noutro momento também figura nos relatos de MG mas, para o bem e para o mal, consta pouco; admito que, depois dos muitos exemplos que li da história de outros países, para o bem. Com efeito a maior parte das inclusões históricas de países na ‘História do século XX’, foram-no por razões de guerras, crueldades, morticínios, xenofobias, étnicas, raciais, desalojados, refugiados ou acontecimentos desumanos desse género, bem graves e tristes.
Não figurar aí por essas razões, parece-me uma boa omissão.

… mas há dúvidas.

Aqui há alguns anos atrás viajando pela primeira vez por essa europa adentro (até à então Checoslováquia), e confrontado com a diferença abissal a muitos níveis dos países visitados, nomeadamente França, Suíça e Áustria, foi referido pelo Guia que essa diferença de modernidade tinha tido origem nos dinheiros do plano Marshall a que Portugal, por não ter participado da II guerra, não tinha tido acesso. 
Essa não participação remeteu-nos para o isolamento político e financeiro que só terminaria (?) com a n/ entrada na U.E.; ou seja, essas consequências pesaram duramente em várias gerações durante mais de 40 anos.
Valeu a pena?
Obviamente que não é possível reduzir o valor da vida humana a uma cifra, ‘não tem preço’, e Portugal ao não entrar nessa guerra poupou muitas vidas. Quantas? Milhares, seguramente. Num dos pratos dessa balança temos de colocar essas vidas poupadas e no outro a miséria (relativa) em que viveram 10.000.000 de portugueses durante esse período.
Pendo para o lado dos que pensam que mais vale viver (relativamente) pior do que ter-se entregue vidas à chacina.

Sublinho por me parecer de destacar o fato de George Bush ter escrito no seu diário pessoal que estava a ler os escritos de Martin Gilbert na altura da intervenção do Iraque no Koweit e que essa leitura foi importante para formar s/ opinião sobre se a América deveria ou não intervir: interveio. Fica assim relevada, se disso houvesse necessidade e não há, a mais-valia da opinião de MG.
Seus escritos dão-nos a oportunidade de refletir sobre os acontecimentos que condicionaram o passado e, porque se ligam, projetar avisadamente o futuro.

A quem chegue a este nível de conhecimentos corre o sério risco de ter de repensar toda a sua arquitetura de filosofia de vida, política e não só. Não é possível ficar-se indiferente depois de beber esta dose maciça de informação.
Se por um lado os acontecimentos, muitos deles terríveis, reestruturam o pensamento, por outro lado somos banhados por uma calma inesperada pois se aprende a relativizar muito do que se ouve e nos posiciona para fazermos melhores triagens.
Ficamos mais seguros e certos sobre o amanhã, se é possível pensar-se assim.