quarta-feira, 21 de agosto de 2013

“História de uma Gaivota e do Gato que a ensinou a voar”, de Luis Sepúlveda.

Com a graça de uma fábula e a força de uma parábola”, lê-se na contracapa deste livro, LS leva-nos a voar com ele, com a gaivota e com o gato grande, preto e gordo ao mundo dos sonhos, do imaginário, do impossível, da utopia. Aqui LS solta-se e dá-nos o seu lado poético, a noção da resiliência, da força e vontade de viver.
A fábula continua ser também um interessante veículo para dizer coisas, como é o caso presente.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

"Em busca do Carneiro Selvagem", de Haruki Murakami

É com enorme prazer, um prazer deleitado - quase Pavloviano - que repego num livro de HM. 
É um escritor extraordinário com um conhecimento raro e profundo dos mais ínfimos detalhes do comportamento humano, mesmo se colocado em situações mais inesperadas e principalmente pela capacidade que possui de lhes dar expressão em forma de letra.
Vou servir-me de uma expressão escrita na contracapa deste livro para este meu comentário: 'vamos levar HM ao triunfo', isto é, ao Nobel. Quanto a mim e se dos meus critérios dependesse, não hesitaria em atribuir-lhe o tão prestigiado e cobiçado prémio. É tão inovador, criativo e exaustivo nos temas que aborda como aqueles que o precederam e, digo mais: melhor e mais completo que alguns deles.
Os critérios que norteiam o Júri do Nobel apesar de abrangentes e razoáveis são excessivamente generalistas e tornam assim possível a subjectividade dos seus elementos. Repito que, por comparação, HM já deveria estar Nobelado.
Tinha gosto em vê-lo um dia destes naquela linda sala do Palácio dos Concertos em Estocolmo, rodeado de pompa e circunstância, a receber das mãos Carlos Gustavo o merecido reconhecimento mundial.

Tive desde muito novo conhecimento do génio que foi Michelangelo, nomeadamente para o que agora importa, da sua famosa Pietá (1499). Via em livros e em pequenas figuras a estatueta e ficava fascinado. Quando um dia me confrontei com o original na Basílica de São Pedro em Roma, senti-me esmagado com a sua grandeza mas sobretudo com a sua perfeição. Mirei, remirei, volteei ao seu redor, apalpei a macieza do mármore frio: foi de deslumbramento este encontro com a perfeição.
Relembro o episódio a propósito da escrita de HM; é que direi dele que é um escultor da palavra. Pega na caneta e descasca os quadros das histórias palavra a palavra, com toda a parcimónia lembrando o lento e preciso cinzel do exímio escultor percorrendo a pedra até chegar à imagem final. É inebriante acompanha-lo nesse percurso escultórico, hipnotizados pela lenta e gostosa evolução da decapagem que o há-de levar até ao formato final do texto; de tão perto o acompanharmos quase nos tornamos escultores com ele.

As ideias brotam em catadupa, como que jorrando de uma imensa e inesgotável catarata de águas límpidas e abundantes, lembrando as de Niagara (a natureza no seu melhor esplendor), todavia chegam-nos sem ruído, como que  empantufadas.

Escreve por prazer, com prazer e sem pressas, parecendo querer agradar-se a ele próprio em primeiro lugar. Não tem urgência em chegar ao fim; tão pouco se preocupa com um 'happy end' ou um 'big end'; outrossim sim dá relevo e muito à sequência e coerência da narrativa que se propõe ficcionar. O leitor, por sua vez, deixa-se embalar por esse ritmo e paulatina e gostosamente assume igual velocidade cruzeiro, sem pressas também.

De uma simples e inócua fotografia extrai uma história surpreendente e brilhante, com a mesma simplicidade com que o ilusionista tira da cartola não o previsível coelho mas uma improvável baleia azul.

Leitura para degustar, sorvendo sem pressas cada nova surpresa; e muitas são, a cada esquina. Tal como um bom vinho que ao beber-se lentamente adstringe o palato para nova experiência gustativa, também aqui se sugere a leitura pelo sistema gota-a-gota até porque são também adstringentes.

Dito isto coexistem e para mim subsistem áreas abordadas que não aprecio especialmente: as da metafísica ou ensaístas. A questão ê naturalmente minha; simplesmente não aprecio. Sei que os ensaios são abordagens importantes e adventistas do pensamento ou da literatura mas não, não me cativam.

Mais uma nota:
Há momentos na vida em que apetece levantar voo e planar ao sabor das correntes cálidas sem destino programado e, como El Condor bem lá do alto, observar novas paisagens.
HM neste livro oferece-nos um bom roteiro.